Isabel Cristina Medeiros de Barros

Isabel Cristina Medeiros de Barros

Clínica Geral com Pós-Graduação em Medicina do Trabalho

Postado em 01/10/2009 21:35

Saúde da família! Realidade, passado ou futuro?

Médica de PSF desde 1997, quando o estado de Alagoas implantou as primeiras equipes de PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMILIA presenciei a expectativa da sociedade, principalmente os mais carentes com relação ao novo modelo de atendimento a saúde. O Ministério da Saúde o apresentava como a solução da assistência básica e acreditei nessa mudança de modelo, pois finalmente teríamos um sistema de saúde voltado para a prevenção, diferente do anterior que se baseava apenas na medicina curativa e hospitalar. A estratégia do programa consiste em dividir o atendimento em áreas de abrangência, atendidas por equipes formadas por: agentes de saúde, aux. de enfermagem, enfermeira, dentista e médico, visando realizar consultas programadas com grupos prioritários de crianças, idosos, gestantes, etc., promover educação em saúde, visitas domiciliares e criar vínculos com as famílias e a comunidade para solucionar os problemas locais em conjunto. Lembro que na sua implantação, todos os profissionais participavam de um treinamento, chamado “introdutório ao PSF”, mostrando os fundamentos do programa e como trabalhar em “equipe”. Infelizmente não teve continuidade, pois seria muito útil para alguns profissionais que desconhecem o sentido de “equipe”, “comunidade” e “programas”. Faltam perfil e formação adequada em vários profissionais inseridos nos programas.

Desde sua implantação, os PSFs fizeram a diferença em vários municípios, sou testemunha de sua eficácia quando as equipe e os gestores são comprometidas com a comunidade . Como exemplos de melhoria na atenção básica têm: a cobertura do pré-natal, a vacinação, o planejamento familiar, o controle dos hipertensos, diabéticos e etc.

Passados 15 anos da regulamentação dos PSFs. visualizamos este modelo de assistência caindo no desacredito pela população , e são vários os motivos e culpados, à começar pelo Ministério da Saúde , que construiu um programa perfeito em suas propostas, mas falho em regulamentar a situação trabalhista dos profissionais e em fiscalizar e cobrar dos gestores municipais seus deveres. A falta de médicos nas equipes também é um complicador, e explica-se pelas opções de trabalho com melhor remuneração em outras atividades, além do grande número de vagas em aberto por quase todos os municípios para os PSFs, ocorrendo assim o deslocamento do médico onde ofertar melhores condições de trabalho. A difícil fixação do profissional em determinada equipe, leva à impossibilidade de se criar vínculos com a comunidade e conseqüente continuidade dos programas.

A realidade do PSF está longe do que foi imaginado pelos usuários, que continuam a lotar as emergências e hospitais do país, mesmo quando têm todos os profissionais em suas equipes. As justificativas estão na falta de medicamentos, ou materiais de curativos e equipamentos no postos, além do agravamento de determinadas doenças provocados pela demora na realização de exames, encaminhamentos para especialidades que levam meses para sua marcação ou dificuldade de transporte, soma-se a estas a falta de orientação dos pacientes que vão à procura de atendimentos rápidos nas emergências por não entender os agendamentos (atendimentos programados), importante para o acompanhamento de certas doenças.

Se no passado a Saúde da Família era a esperança de uma saúde básica de qualidade, no presente impera a incerteza, pois as questões da formação e da forma de contratação dos profissionais, do financiamento, da infra-estrutura, do compromisso dos gestores com a saúde dos cidadãos e da participação efetiva dos usuários precisam ser repensadas para que exista um futuro digno para este programa e para a saúde básica no Brasil.

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  • MANOEL Não seria demasiado ressaltar, a importancia dos Agentes de Saude nas unidades dos PFS, pois estes profissionais são os CARAS responsaveis pela redução e prevenção de doenças nas comunidades, alem de um acompanhamento familiar e planejamento. Ainda bem que o Ministerio da Saude reconheceu isso.