João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 01/02/2017 15:05

Por Que São Chamados de Reeducandos...

Quando deveriam ser chamados de formandos da faculdade de artes para a especialização criminal? É impressionante como no Brasil muitos projetos revestidos das melhores intenções não passam de máscaras. São até bonitos, têm uma bela fachada teórica com a falsa aparência da beleza ideal, dentro da nossa habilidade na arte da enganação. É um comportamento infantil em querer transformar uma situação caótica em uma realidade que está além das nossas possibilidades.

A propósito do título acima, torna-se irritante continuarmos a ouvir falar em reeducando quando os meios de comunicação, especialmente a televisão, a mostrar imagens de superlotação dos presídios que transformam homens em feras espremidas como em uma lata de sardinha. Mesmo assim, com toda clareza dessa fotografia dantesca, ouvimos a insistência de alguns em chamá-los de reeducandos, como se fossem cegos ou avessos à verdade dos fatos.

É bem verdade que a nossa população carcerária, a terceira ou quarta do mundo, em tono de seiscentos mil indivíduos, torne-se completamente impossível, no todo, transforma-los, de fato, em reeducandos. Mas, deixando de lado o todo, partindo para o relativo, pergunta-se: quantos presídios pelo Brasil afora, põem em prática atividades que possam adquirir conhecimentos ou habilidades profissionais que possam reintegra-los ao convívio da sociedade? Como tudo tem um início, o começo é o primeiro e pequeno passo que aos poucos se agiganta para atingir seu objetivo. Onde está, pelo menos, esse começo? É o total descaso.

Seria bom, numa visão humanitária, que houvesse um grande percentual de recuperados, bastando, para tanto, um mínimo de condições para reintroduzi-los no convívio social. Longe de pensar em conforto ou prisões cinco estrelas dos países nórdicos, com escasso contingente carcerário. Aquele que delinqui deve sofrer na proporção do crime praticado e para que possa sentir o valor da liberdade e dos demais valores humanitários.

Voltando ao título acima, não bastasse a longínqua possibilidade de ressocializar o preso, o sistema prisional responsável deixa de fazer o possível de suma importância para recupera-lo, isto é, não juntar indiscriminadamente autores de grandes e pequenos delitos nas mesmas celas. Toda opinião pública sabe disso. Por que não acontece? Desprezo pela condição humana. Afinal de contas, não passa de um rebanho animalesco de inferior qualidade, sem PO e, como tal, não merece outro destino senão o campo de concentração em que vive.

Partindo dessa bagunça, bom seria, em nome da seriedade, que não se falasse em reeducandos a quem, carente de um horizonte capaz de vislumbrar um mínimo de esperança de ter uma vida digna e humana, está condenado, numa disfarçada pena de morte, dentro ou fora do presídio, a viver no inferno até o fim de seus dias.
 

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