João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 06/04/2018 09:01

Um Brasil adaptado à esculhambação

Quando nos encontramos à deriva no meio da imensidão do mar e vemos uma tábua de salvação, mas que não passa de uma miragem, perdemos todo o otimismo e nos entregamos, aflitos e sem a mínima esperança, não nos resta outra alternativa senão esperarmos pelo fatal destino. Assim, no que diz respeito à qualidade dos três poderes que nos governam encontramo-nos como ébrios, perdidos e sem destino.

Somos um país e como tal, formados por grupos dissidentes com as mais variadas crenças, pensamentos e opiniões, requerendo, como as demais nações, de uma divisão de poderes e um aparato de leis para a solução dos conflitos. E como classificar nossas leis? Belas! Belíssimas, mas de eficácia ordinária. Qual a razão desse desastre? É porque admiramos a eloquência, o brilho teórico dos grandes ideais que, numa cômica ironia, pesa-nos realizá-los por estarem além das nossas possibilidades, vitimadas pela enfermidade ética que acomete expressivo número de brasileiros. As leis, por si só, não fazem milagres.

Quando acima nos referimos a tábua de salvação estávamos, como sempre, acreditando na santa inocência, na capacidade e lisura do poder judiciário como o único capaz de nos tirar da impureza moral que habita na consciência de milhões. Com um pequeno alento assistimos, depois do mensalão, a Lava-Jato empreender a maior caça aos corruptos independentemente do cargo político ou situação econômica, fato nunca visto. Apesar desse promissor despertar, não podemos acreditar na sua integridade, tão sujo quanto os dois outros poderes. Impossível, pela proximidade, não se deixar sujar como puleiro de galinha.

Como exemplo do nosso desapontamento causou-nos uma enorme decepção a alegação do juiz Bretas, titular dos processos de Lava-Jato no Rio de Janeiro, que não deixa de requerer a seu favor nada que seja autorizado por lei. Referia-se ao auxílio moradia, o que fez em seu nome e, para culminar na indecência, e também de sua mulher, juíza. Não se trata aqui da legalidade, mas de consciência, especialmente sob a ótica do social, pois, nem tudo que é legal é moral. A ajuda para magistrados e procuradores é uma lei que, além de iniciativa imprópria, inspirada no corporativismo, aplica-se, com mais precisão, a assaltantes dos cofres públicos, como de fato estão a fazer. Ah, diz o presidente da associação dos juízes federais, sem argumento consistente e inexistente, que tem a finalidade de valorizar a classe. Ora, muito ao contrário, essa iniciativa a desvaloriza de uma forma torpe e abjeta. Por quê? É uma classe mais digna em relação às demais? São seres humanos ou deuses do Olimpo? Pobre Brasil, surrealista e esculhambado! A única coisa que nos restou foi o destino por sermos filhos de uma nação pobre de boas instituições, transmitindo-nos traços de personalidade que perduram até os nossos dias, o saque e a pirataria. Está no nosso DNA e inconsciente coletivo. É o que acontece com milhares de corruptos que vão para as ruas protestar contra a corrupção.

No rastro dessas considerações, o que atualmente tem chamado a atenção do país, é a prisão do Lula que já deveria estar preso após denegado o recurso de embargos de declaração.

Embora não nos restasse dúvida, pela sinalização do voto da ministra Rosa Weber, com o desempate pela presidente, como de fato aconteceu, o julgamento da última quarta-feira, 04 de abril, foi ao encontro da expectativa da maioria dos brasileiros e uma demonstração para o mundo que o Brasil, entre os países mais corruptos, está mudando para melhorar a sua avaliação ética.

Infelizmente, com um placar tão apertado, o medo que nos inspira é que o STF venha discutir a permissão da prisão do condenado após julgado por um colegiado. É o que desejam com uma provável possibilidade de extingui-la, para o regozijo dos corruptos que verão, pelo excesso de recursos, a impunidade de seus crimes pela prescrição.

Eis porque, com um STF que anda para trás, sem gozar respeito, admiração e confiança, não hesitamos em dizer que não passa de um retrógrado “supreminho”.
   

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