João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 16/08/2017 08:06

Viva!! Deputados Honestos saindo pelo ladrão

Semelhante manchete em um jornal seria atribuída ao mundo irreal de um sonho brincalhão. Acontece que na vida real o irreal coexiste com certa frequência. Foi o que vimos na sessão da Câmara dos Deputados no último dia 02/08/2017. Mesmo que nenhum jornal a tenha estampado, ela traduziria todo o estado de incredulidade quando constatamos que duzentos e vinte e sete deputados voltaram a favor da procedência da denúncia do Procurador Geral contra o presidente Temer. Justificaram, assim, a necessidade de apurar e combater a corrupção. Muitos com uma ênfase tal que nos chegaram a causar uma rara admiração. Não esperávamos ouvir a mais encantadora e agradável melodia aos nossos ouvidos.

Será que esse coral de vozes afinadas e indignadas nos convencem de uma interpretação apurada, emanada do âmago de suas convicções? Eis a questão que gostaríamos que conseguisse nos surpreender e desapontar, acabando com a nossa descabida crença de que o Congresso Nacional dispõe apenas de uns gatos pingados de parlamentares honestos. E agora, quem está com a verdade, nós ou o probo coral de deputados? Continuamos, infelizmente, a acreditar que estamos certos, baseados nos fatos veiculados quase diariamente pelos mais diversos meios de comunicação.

Felizmente que a votação da denúncia referida não foi vítima de uma tragédia. Explica-se por uma única razão. É que o rabo de palha dos nossos deputados dispõe de proteção conta a autocombustão que seria deflagrada toda vez que o corrupto acusasse outro corrupto. Livres de atentarem conta a própria vida, tinham de usar a esperteza e, inescrupulosamente, fazer uma capenga pantomina com intuito eleitoreiro. Que impressionante fascínio exercem as câmeras de televisão. Os vaidosos sentem prazer enorme de aparecer e o velhaco, sem pudor, tem a oportunidade de falsear a verdade por trás de sua máscara.

Espetáculo à parte de toda representação circense e do caldo da sopa que se tornou intragável com a descarada manifestação de petistas e seus comparsas comunistas que cinicamente fizeram críticas ao presidente pelos mesmos crimes que cometeram, o resultado, do nosso ponto de vista, foi o mais sensato. As opiniões contrarias a esse desfecho tem sede na demagogia e nos xiitas sem visão que ignoram o saneamento geral em curso no país, incapazes de enxergar a realidade perdidos, como débeis mentais, numa ilusão perdida e de um socialismo historicamente superado. Ignoraram o curto mandato do presidente e as nefastas consequências socioeconômicas com o seu afastamento. Não se pode falar em impunidade, como alegram os muitos improváveis honestos, vez que após o mandato o presidente Temer irá responder e se defender dos crimes imputados na denúncia ou denúncias de Procurador Geral da República.

A coisa mais natural, por ser essencial ao desenvolvimento do conhecimento, são as contradições e divergências, mas quando destoam tão radicalmente de uma evidente realidade, não temos, outra reação senão atribuir-lhe uma cegueira congênita ou uma lamentável penúria na capacidade de racionar.

É impossível acabar por completo com a corrupção porque ela tem uma irmã de comportamento oposto, a desonestidade, obedecendo a lei dos contrários. A existência apenas de uma delas, atestaria a inexistência da outra. Mas, à parte a lógica e a lei natural das coisas, como seria bom, se verdade fosse, que tivéssemos centenas de parlamentares honestos para formarem um coral e, com suas maviosas vozes, pudessem entoar ao céu cânticos de louvor pela erradicação quase sumaria da corrupção no Brasil.

Lamentavelmente, não chegou o momento para podermos usufruir, com certa constância, uma das mais belas manifestações da música. Temos de nos recolher à insignificância de nossas expectativas e nos contentarmos com autentico e afinado quarteto ou, na melhor das hipóteses, um sexteto, distinguido com o raro prestigio de cantar, de forma solene e respeitável, o sagrado hino em homenagem a probidade.
 

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