A Terra onde todo mundo é músico
À margem esquerda do Rio São Francisco, a pitoresca cidade de Pão de Açúcar teve como primeiros habitantes os índios “Urumaris”. Nas noites de verão, a lua cheia refletia-se nas águas calmas do grande curso fluvial. Os nativos, historicamente precursores da música, denominaram a localidade de “Jaciobá”, que em língua guarani significa “espelho da lua”. Tal sensibilidade poética não deixa de ser um prelúdio da vocação musical que passaria a ser uma peculiaridade do pão de açucarense.
E, foi nessa terra, “onde todo mundo é músico”, segundo a célebre citação do magistrado Dr. Antônio Arecippo, que despontaram figuras ilustres da historiografia musical nacional, como o genial violonista e compositor, Manoel Bezerra Lima, o “Nezinho Cego”, e o maestro Tenente Antônio Francisco dos Santos, mestre e “ensaiador geral” de bandas militares no então Estado da Guanabara, graduado em regência e autor de mais de 40 dobrados e marchas militares, que se encontram incluídos no repertório das mais famosas bandas do país, com ênfase para o vibrante e conhecidíssimo dobrado “Comandante Narciso”, de sucesso até na Espanha.
Segundo a monografia Pão de Açúcar - História e Efemérides, do autor Aldemar de Mendonça, os maestros Emídio Bezerra Lima e Abílio de Carvalho Mendonça foram pioneiros na disseminação da “Arte de Carlos Gomes” na localidade. Como ocorreu nas demais cidades do Estado, a fase áurea das bandas de música, que ficou conhecida como "A época das filarmônicas", nunca foi devidamente documentada, inexistindo maiores resquícios históricos sobre a trajetória da banda da atual Sociedade Musical Guarany, bem como de outras corporações citadinas existentes à época ou de suas precursoras. Pelo que consta, a corporação, que tem como referencial de origem a data de 15.03.1918, não detinha constituição formal, nem tampouco possuía vínculos com qualquer instituição local. Em realidade, enquanto em vida, foi inteiramente mantida pelo Sr. Manoel Vitorino Filho, o "Mestre Nozinho", maior ícone da história da banda de música em Pão de Açúcar, que passaria para a notoriedade como o incansável fazedor de músicos.
Sergipano de Neópolis, discípulo do mestre Emídio, professor, idealista, competente e desinteressado de qualquer remuneração financeira, desde o ano de 1917 até a sua morte em 1960, apenas com os parcos recursos da profissão de alfaiate, conseguiu manter a banda de música e uma orquestra de baile, com destaque para a impecável "Batuta" de 1922, sendo responsável, ao longo de quarenta anos, pela formação de três gerações de músicos. Seus dois irmãos, Américo de Castro Barbosa e José de Castro Barbosa (Duda), que residiram no Rio de Janeiro, também foram músicos extraordinários com passagens em orquestras famosas, inclusive internacionais, como a do notável regente “Fon Fon”.
Dentre os seus discípulos de carreira expressiva, podem ser destacados os maestros e mestres Racine Bezerra Lima (19º BC Salvador), Manoel Capitulino de Castro, o "Passinha" (Batalhão Exército Maceió), Francisco Ferreira e Fernando Mendonça ( Base Galeão RJ), Jonas Pauferro (Polícia Militar Alagoas), José Batista de Aquino, o “Duduca”, ( Polícia Militar de Sergipe), Zivaldo Ribeiro, “Zico” ( Batalhão de Guardas do Exército RJ) e toda plêiade de músicos e regentes da família Ramos: Petrúcio, Anacleto, Valter ( Base área Salvador), César (Polícia Militar Bahia) e Acilon (Polícia Militar Pernambuco).
Galeria de músicos: clarinetas: João Damasceno Souza (João Barateiro) - Ercílio - Etelvino Américo de Castro Barbosa – Francisco Simas – José Guimarães Pauferro – José Gonçalves Filho (“Zequinha de Mestre Salo”) – Valdomiro Mendonça – José Bento: Flauta: Jucelio Nascimento (genial flautista); requintas: Francisco Ferreira,“Mestre Chico” – Cícero Francisco de Brito, “Cafal” – Temístocles – José Mendonça; trompetes: Perdiliano de Souza, “De seu Né” – João Francisco da Silva - Racine Bezerra – Petrúcio Ramos – José Vieira – José Ramos – José Brandão de Souza – Bonerj Bezerra; trombones: Olegário - Antônio Simas João Rodrigues de Souza – Jonas Pauferro – Manoel Capitulino de Castro (Passinha) – Benedito dos Santos – José Batista de Aquino – José de Castro Barbosa; saxofones alto: Acilon Ramos – Valter Ramos – Anacleto Ramos – Norfolk Gomes dos Santos; saxofones tenor: José Mendonça – Zivaldo Ribeiro (Zico) – Williams Magno (Bille); bombardinos: Fernando Mendonça – Francisco Antônio dos Santos (Mestre Chiquinho) – Milton Torquato; trompas: Yoyô Vieira - José Alves dos Santos (Dedé Penteado) – José da Mena; contrabaixos: Lourival Simas (hélicon) -Afrânio Menezes (Bubu) – Luiz Marsiglia – Luiz Ignácio - Antônio de Melo Barbosa – Acineto Lima – José Ramos dos Santos (Zé de Caxapá); tambor: José Profeta Sobrinho (Carvão) – César Ramos; caixa: Erivaldo Ribeiro - Júlio Alves de Carvalho; pratos: José Costa – Jose Góes – Edidiê (Dezinho) - Manoel Rodrigues (Manoel de Iveco) e bombo: mestres Nozinho e Paulo.
Após a morte do mestre Nozinho, a corporação atravessaria um hiato de atividades, remanescendo apenas um grupo de músicos liderado pelo contrabaixista Afrânio Menezes Silva, o "Bubu". Mas, em meados de 1999, com a chegada do competente maestro, Petrúcio Ramos de Souza, oficial-regente reformado da banda da Base Aérea de Salvador, surgiu um novo surto musical na cidade de Pão de Açúcar e a formação de uma jovem e magnífica banda de música, inclusive dotada de instrumental importado.
Com a tutela da Loja Maçônica Jaciobá e o apoio parcial da Prefeitura Municipal, em pouco tempo, à luz de sua formação militar, o renomado mestre Petrúcio transformou uma garotada de tenra idade em musicistas disciplinados e de excelente padrão técnico. Nesse magnânimo trabalho de ordem cultural e social, também merece ser ressaltada a valiosa contribuição emanada de seu saudoso mano mais velho, o notável músico José Ramos.
Hoje, a Banda de Música Guarany é um orgulho da comunidade e uma grande revelação do Estado de Alagoas, sendo destaque, por onde se apresenta, pela sua disciplina, harmonia, e sonoridade. Novos talentos, como Sérgio Oliveira - Samuel Vieira - José Pauferro Neto - Jobe Alves - Ruan de Brito - Emerson Roniere e José Maurício dos Santos, perpetuam os grandes expoentes musicais do passado e a grande vocação musical da pitoresca cidade de Pão de Açúcar.
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