Wilson Lucena

Wilson Lucena

Jornalista, pesquisador e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 05/10/2009 19:22

A dinastia musical de Piaçabuçu

A dinastia musical de Piaçabuçu
Euterpe São Benedito - Composição Pioneira - Mestre Francelino

A tradição da escola musical de Piaçabuçu provém desde o tempo em que o Imperador D. Pedro II, quando de sua viagem à cachoeira de Paulo Afonso, em 14.10.1859, foi recepcionado por uma banda de rebecas e outros instrumentos naquela localidade. Os atuais musicistas e aprendizes da Sociedade Musical Euterpe São Benedito constituem a quarta geração de uma dinastia de excelentes músicos que começou com o mestre Euclides e teve no mestre Manoel Francelino a sua figura de maior expressão.

Nos idos de 1910, a banda de música existente em Piaçabuçu era regida pelo Sr. Euclides de França, conhecido por mestre Euclides, cargo que exerceu até os 90 anos. Ele teve a honra de participar do aludido grupamento musical que recebeu o Imperador D. Pedro II. Dos seus pupilos que alcançaram sucesso, vale mencionar: Capitão Manoel Euclides (regente banda 28º Batalhão Exército Aracaju e 20º Batalhão Exército Maceió) – Manoel Soares Filho, vulgo “Manoel Teiú”, (regente Polícia Militar Vitória - ES) – Cláudio Santos (trombonista da orquestra Odeon RJ) e Manoel Linhares, “Nezinho” (clarinetista Marinha RJ).

Aproximadamente no ano de 1928, idoso e com a saúde debilitada, repassou o cargo de instrutor e regente ao seu dedicado e talentoso musicista Manoel Francelino, iniciando-se, assim, a segunda fase da corporação. Considerado o melhor pistonista da região, ainda bem jovem, Francelino foi convidado para compor a seleção de músicos das bandas Euterpe Ceciliense e Carlos Gomes de Penedo, quando da recepção festiva, em 1932, ao Presidente Getúlio Vargas naquela histórica cidade.

A Sociedade Filarmônica Euterpe São Benedito somente foi legalizada estatuariamente em 10.06.1952, oportunidade em que foi empossada a seguinte diretoria: Presidente: Antônio Machado Lobo; Vice-Presidente: José Machado Tojal; 1º Secretário: Manoel Francelino dos Santos; 2º Secretário: Joaquim Aristides dos Santos; 1º Tesoureiro: Pedro de Lima Castro; 2º Tesoureiro: Antônio Machado Lemos.

Banda pioneira da Euterpe São Benedito (égide do mestre Francelino): Clarinetas: Valdir Silva (Dida) – Joaquim Gomes (Pescoço) – José Carmo – Aloísio Bispo; trompetes: Manoel Paé – José Américo – Gilson Matos; trombones: Aloísio Chagas – Ari Carvalho; trompas: Chico Caim – Alberon Guedes; saxofones: Francisco Machado – Serapião Valter; contrabaixo: Wilson Ferreira; Percussão: João Ferreira e José Dias.

Infelizmente, quando de uma tocata em Sergipe em 17.11.1968, ocorreu o naufrágio da embarcação que conduzia os músicos, vitimando o primogênito do mestre Francelino, o barbeiro e trombonista José Harry, que o estava substituindo no comando da banda. Este acontecimento trágico provocou profunda melancolia no tão dedicado pai, que se afastou das atividades musicais, só vindo a retornar em 1985, oportunidade em que continuou dando tudo de si pela subsistência da Sociedade Filarmônica Euterpe São Benedito, incluindo o próprio salário de vereador.

Quando o velho maestro adoeceu, assumiu a regência da banda, em caráter interino, o musicista Nailton Muniz. Antes de morrer em 14.02.1993, aos 80 anos, chamou o compadre João Ferreira da Silva e pediu que ele assumisse a direção da Sociedade. Manoel Francelino, o eminente instrutor, deixou para trás um rastro de amor e dedicação à música. Foi toda uma vida dedicada ao oficio de tocar, reger e ensinar. Graças e ele, a cidade de Piaçabuçu mantém atradição de uma escola de músicos disciplinados e de bom padrão técnico. Dentre a considerável quantidade de discípulos que ingressaram em corporações militares, merecem ênfase os musicistas João Vasconcelos e Adail Araújo, que chegaram a oficiais-regentes, respectivamente, nas bandas de fuzileiros navais de Natal e Rio de Janeiro, além do sargento Gilvan Gonçalves da Polícia Militar de Alagoas.

Os últimos anos do imortal mestre coincidiram com a posse do autor deste trabalho na gerência local do Banco do Brasil, que hipotecou grande apoio à corporação, sendo adquirido novo instrumental, um vistoso fardamento e contratado um orientador militar habilitado, o renomado regente Paulo Correia Amorim. Foi um período de intenso movimento e evolução musical, concorrendo para isso a criação de uma afinada orquestra de baile. Mas, nuvens negras despontariam no horizonte. E o velho João Ferreira, ao receber o comando da Euterpe de seu compadre Francelino, sabia da árdua batalha que teria de enfrentar. Como toda banda interiorana, dificuldades de toda ordem e pouco incentivo da Prefeitura. Num misto de revolta e desabafo, ele sempre questionou a falta do devido interesse público pela mais antiga herança cultural de Piaçabuçu. Assim, ao lado da abnegada esposa Aliete, o jeito era sair de porta em porta pedindo dinheiro.

Mesmo assim, até a sua morte em 17.08.2007, mestre João conseguiu manter viva a tradição musical da cidade. Muito contribuiu para isso o grande trabalho voluntariado de jovens instrutores e regentes como Gilvan Gonçalves, Manoel Ferreira e Aldo Félix, assim como a renovada paixão da juventude local pela música. Com o falecimento do incansável guerreiro, também a Sociedade Euterpe São Benedito perdeu o maior arquivo vivo de sua história. Em seu lugar, assumiu o filho João Vicente, que continua na mesma “via crúcis” do pai e administrando novas crises. Graças à obstinação e perseverança dos dirigentes “Ferreiras”, a Funarte, em duas oportunidades, contribuiu com o repasse de novos instrumentos.

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  • igo Ta de parabéns por essa reportagem sobre umas das mais antigas bandas do Brasil!!!!
  • denilson lima andrade Mais uma bela reportagem do grande pesquisador e amante da música, Wilson Lucena. Parabéns!
  • Tadeu Das Chagas Ferreira Uma alegria saber que muito meu pai contribuiu pelo engrandecimento da sociedade cultural de uma cidade pobre, mais rica de cultura, infelizmente o poderes públicos anteriores e atuais nao venhen como de grande importância, alucando recursos para se tornar um lugar que ajude aos jovens encontrar