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Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 28/11/2010 10:20

Por que os marginais nunca vencem?

Blog do Ferra Mula
Por que os marginais nunca vencem?

A onda de violência que antes nos provocava espanto, algumas vezes até comoção, hoje praticamente não nos agride mais. De tanto se ver banalizada, tornada comum pela sua intensa rotatividade, já não causa mais impacto como antes. As exceções são raríssimas e já se perderam na poeira de nossas lembranças. Quando falo em violência não me refiro apenas àquela praticada por marginais que roubam, assaltam, seqüestram e matam. Enquadro também nessa seara os bandidos em todas as tonalidades: políticos, funcionários públicos, policiais, magistrados... Enfim, tudo aquilo que se costuma designar de “a máquina do estado”, necessária à nossa vida como seres civilizados, porém, juntamente com marginais e meliantes os mais diversos, causadora de inúmeras dores de cabeça a nós, que dela dependemos, pelo viés da corrução, do desserviço, do desvio de conduta, da mais cínica desonestidade.

Impressiona – e, pelo que se observa, contagia em assombrosa velocidade – a prosperidade, o bom desempenho da atividade criminosa no Brasil. E o pior é a constatação a que se chega: que o aparelho estatal de combate ao crime não vem dando conta de sua missão de reprimir este pavoroso estado de coisas. Ao contrário. Tanto do ponto de vista da logística (os marginais já estão bem mais armados e instrumentalizados do que a polícia, com exceção em uma região ou outra) quanto da eficiente infiltração do banditismo no aparelho do estado, através de suas numerosas vertentes. Isso acontece nas barbas das autoridades ditas competentes e em todos os escalões da vida pública brasileira – afinal, Correios, Caixa Econômica, Polícias, BNDES, Casa Civil, Congresso Nacional não nos deixam dúvidas. Aliado a tudo isso um clima de impunidade de fazer inveja ao mais ensaboado dos mafiosos.

Assim, no geral, a alma do brasileiro está sufocada num perigoso contexto de desalento, de inércia, de silenciosa resignação. Entretanto, será possível, apesar de tudo, alguma mudança, alguma perspectiva de melhora, pelo menos algum paliativo que nos devolva a esperança? Algo, enfim, que nos venha tirar desse estado de degradação? Sim, degradação. Políticos roubam e nada lhes acontece; perigosos marginais são livres pelas facilidades da legislação e pela incúria da Justiça, voltando a praticar horrores; funcionários públicos são flagrados recebendo propina, dinheiro vivo à mão, e são defendidos pelas maiores autoridades do país... Com que termo, então, se nomina tal fenômeno? Degradação é o que me ocorre. Afrouxamento de princípios, relativização de valores, adulteração de normas e entronização do império da vantagem – buscada e cultivada a todo custo. Sim, que nome se dá a isso?

De repente, um fiapo de idéia me ocorre, um leve pensar, uma breve sensação de conforto. Pela constatação de que, apesar de tudo, os marginais e os corrutos jamais vencerão. É questão numérica. Vejam: as residências são tantas que eles jamais darão conta de arrombar todas; a merenda escolar tem tonelagem tão grande que nunca será totalmente desviada; os jovens são tão numerosos que os traficantes nunca conseguirão drogá-los totalmente; os carros são tantos que os ladrões nunca conseguirão puxar todos; a população é tão numerosa que nunca será sequestrada e/ou assaltada em sua totalidade; as repartições públicas são tantas que nunca serão totalmente corrompidas; o orçamento público, de tão gigantesco, mesmo sendo sistematicamente assaltado, nunca será zerado; Ah, grande consolo... Isso lá é idéia, cara pálida. Ah, Brasil... Cadê as autoridades? Auuutoooriiidaaadeeeees!!!

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  • Pedro Muito bom o texto. Uma real visão dos fatos cotidianos!
Maria Núbia de Oliveira

Maria Núbia de Oliveira

Escritora e poeta, integrante da Academia Penedense de Letras

Postado em 24/11/2010 14:22

Para você que morre de ciúmes

Existem pessoas que são tão inseguras, tão exclusivistas que não conseguem controlar esse sentimento, o qual, em demasia, pode torná-las mesquinhas, egoístas e possessivas.
O ciúme é próprio de quem não confia em si mesmo. A pessoa ciumenta vê em tudo um motivo para descarregar o medo de perder alguém que diz amar.

Dizem os enamorados que o ciúme é o tempero do amor, O ciúme, porém é a decadência do ser humano. É a perda da certeza de que seus dons, sua beleza, já não existem mais.
Quem briga por ciúme , quem calunia por ciúme, quem tenta manchar o nome do outro, por ciúme, está no chão... Sente-se incapaz, Acha´se perdido numa confusão de insegurança e falta de paz.

Brigar por ciúme é se desvalorizar como pessoa. Já não se sente capaz de impressionar o ser que diz amar, quando na realidade é o ser que quer prender, deixar cativo sob os seus laços dominadores.

O ciúme torna o ser humano pequeno, feio, inseguro e complexado.
Quem ama com intensidade, confia no ser amado. Amar significa desapegar-se de si. Quem ama não agride. O amor é como torrente caudalosa, poderosa força em ação: tudo arrasta, tudo envolve, mas sem cortar as asas da liberdade do ser amado!

O amor é forte como a morte, mas o amor entranhado de ciúme, não é amor, é algo que corrompe, destrói, aniquila. Gera somente a dor e o medo. À medida que o amor cresce, diminue o temor e não há lugar para o ciúme.

Ciúme é o espelho da derrota e da incerteza...
Reflita, sim? E ame com transparência. Quanto mais você pressionar o ser amado, mas ele foge de você!

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  • marciel Nubia você maravilhosa como sempre em tudo que faz ,amei você esta de parabens quero ler outros artigos seus.
  • antonio Parabens pelo artigo,como sempre evidenciou um grande topico da vida moderna.
  • max Gostei muito do seu artigo você fez um relato do ciume.
  • Givaldo Catarino Núbia, minha querida poetisa, escritora conceituada, preciso lhe dizer uma coisa: gostei do que você expôs sobre o ciúme. O pior é que eu tenho muito ciúme do meu amor e me sinto um verme. Mas fazer o quê? Não consigo controlar . Parabéns pelo texto. Amei! Beijos!
  • Maria Carlota pois é, dona núbia, esse sentimento é triste. machuica muito. Mas não depende da gente. No meu caso eu sou a vítima. Não posso nem olhar pro lado, que levo bofetada. É um ciúme doentio.
  • jaqueline dos santos Olá amiga núbia, obrigada por mim conceder esse espaço. Comcordo plenamente com vc sobre o ciúmes. Quem se diz Amar de verdade ñ devi ter ciúmes de seu companheiro.(a)Quem tém ciuúmes é doente.Eu graças a deus ném dou motivo ao meu marido ném ele pelo menos na minha frente ñ mim da motivos pra eu ter ciúmes dele também.abraço minha linda amiga.
  • Marcelino Cantalice Prezada Núbia: paz e esperança ! É esta a nossa saudação acadêmica. Quem possui paz interior, não sentirá ciúmes... Por quê ? Para quê ? De quê ? Ciúme é sinônimo de insegurança, de um amor claudicante. É bem conheida a expressão: \"A medida do amor, é amar sem medida !\" E aí, não cabe o ciúme. Gostei de sua reflexão. Não nega que você é formada em Psicologia. Parabéns. Abraços. Do: Marcelino.
  • Marcelino Cantalice Prezada Núbia: paz e esperança ! É esta a nossa saudação acadêmica. Quem possui paz interior, não sentirá ciúmes... Por quê ? Para quê ? De quê ? Ciúme é sinônimo de insegurança, de um amor claudicante. É bem conheida a expressão: \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\"A medida do amor, é amar sem medida !\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\" E aí, não cabe o ciúme. Gostei de sua reflexão. Não nega que você é formada em Psicologia. Parabéns. Abraços. Do: Marcelino.
  • marcos eduardo minto bom
  • CINTIA SILVEIRA DA SILVA Queria tanto não sentir ciúme daquele traste, mas morro de ciúme dele. Quando estou com ele, a mulherada não consegue tirar os olhos desse homem lindo. Eu viro uma arara. Seu texto, Núbia, deveria circular no mundo inteiro. Muito bom! Parabéns!
Isabel Fernandes

Isabel Fernandes

Bibliotecária Especialista e Contadora de Historias

Postado em 17/11/2010 14:03

Por onde andam as borboletas?

Lembro-me da minha infância no interior de Rio Largo, costumava ver as borboletas borboleteando, se é que este verbo existe. Mas, era belo o espetáculo, borboletas de todas as cores, azuis, amarelas, rosas ou multicoloridas, pousando sobre as flores e se misturando com o verde da natureza, era uma obra de arte, que só a mãe natureza é capaz de criar.

Lembro-me também da grande surpresa ao descobrir que as borboletas na verdade eram lagartas e como eu temia as lagartas, achava-as feias e morria de medo e nojo delas. Ora, mas aqueles bichinhos feiosos depois de certo tempo no casulo passavam por um fenômeno chamado metamorfose e se transformavam em lindas borboletas. Estas sim, eu admirava-as e imaginava mil histórias, para onde iriam, será que eram fadas de um reino distante, ou quem sabe da Terra do Nunca.

Será que as borboletas perceberam que não temos mais tempo para observá-las e admirá-las? Pois, vivemos tão apressados ultimamente com essa vida louca, onde cada vez mais somos cobrados a progredir, a investir nisso e naquilo, que não sentimos nem o tempo passar. De repente, elas resolveram buscar outros mundos, onde possam ser admiradas, observadas e amadas.

Borboletas, amarelas, azuis, marrons e multicoloridas as paisagens não são mais mesmas sem vocês, falta a alegria do bater de asas descompromissado, falta o pousar delicado sobre as flores e falta todo encantamento proporcionado por vocês para nós seres humanos muitas vezes insensíveis.

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  • Lila A vida é muito mais bonita quando a colorimos! Uma prova disso é olhar as coisas de maneira positiva! E vamos ver mais e mais borboletas!
  • Felipe Souza Realmente fiquei intrigado com tal assunto. Concordo que as borboletas estão sumindo. Acredito que seja por conta da violência que assola o mundo moderno. As borboletas estão batendo suas asas para um lugar mais tranquilo, talvez chamado de Paraíso.
  • Maria Núbia de Oliveira CADÊ AS BORBOLR]ETAS COM SUAS CORES EXCLUSIVAS? CADÊ AS BORBOLETAS, QUE SUMIRAM DOS JARDINS? CADÊ AS BORBOLETAS QUE EU CORRIA PRA PEGÁ-LAS E GUARDÁ-LAS NUM CANTINHO, SÓ PARA MIM? CADÊ AS BORBOLETAS DA MINHA INFÂNCIA TÃO DOURADA? CADÊ AS BORBOLETAS MULTICORES E DESENHADAS COM ESMERO, PARECENDO UM QUADRO VIVO BATENDO AS ASAS? FORAM EM BUSCA DE MIL FLORES E DE PRADOS VERDEJANTES, SUGAR O PERFUME, BEIUJAR OS AMORES, LONGE DOS HOMENS POLUIDORES...
  • Lilian Barreto Ao ler o titulo da materia fiquei pensativa...Poxa! as lindas borboletas que encantavam as manhãs da minha infancia, realmente sumiram do nosso cotidiano acelerado ou simplesmente não paramos p/ observar as poucas que ainda pousam sobre a flora?
  • Melissa Irving ***Realmente,como criança que ainda sou,me espanto ao observar que as pessoas ñ param mais p/admirar o belo que ainda nos sobrou,ao invés disso destroem o que belo a natureza desenhou.Isso é muito triste e assustador.Porque?Eu pergunto,e a rsposta quem irá me dá? ***Mais a mãe natureza ainda me reservou um pouquinho do seu belo p/eu admirar.Onde eu moro as borboletas ainda vem me visitar.(Só assim eu consigo respirar um pouco aliviada e feliz,pois a minha infância ñ está totalmente perdida.)
  • Ana Morro de saudades das belíssimas borboletas! Quando Jovem quis colecionar por achar lindas,para as ter Sempre comigo,mas pensava não as verei voar!!! Lamentável essa extinção!! Sonho com um tempo onde ainda verei elas voando exibindo sua beleza!!! EU AMO BORBOLETAS!!!
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 10/11/2010 15:54

Estúpida Embriaguês do IPHAN Embarga Obras

Existem coisas que vemos e ouvimos que nos fazem duvidar da sanidade dos nossos sentidos e também acreditar que estamos despidos do mínimo de inteligência para entender certos absurdos que germinam na cabeça de algumas pessoas. Os que fazem o órgão acima, se não formos nós os tortos e anormais, padecem da ausência do senso ético e da realidade. A sua nefasta iniciativa de opor embargos às obras da Avenida Comendador Peixoto, pode ser classificada de golpe baixo e frontalmente contra a nossa cidade.

Queremos acreditar que antes de iniciados os trabalhos na referida artéria, o projeto para a sua realização foi submetido à sua apreciação e finalmente aprovado. Como tal, não poderia, num típico gesto de moleque, serem paralisados. Teria sido fruto de uma estratégia guardada na cartola e esperar o momento certo para exigir do município o impossível, justamente quando se vislumbrava o término das obras? Não tem o menor sentido em trabalhos que mexem com o bem-estar, contraria interesses do comércio e que só pode receber, semelhante tática, os aplausos da irresponsabilidade e da falta de seriedade. Temos certeza, se submetermos as razões dos embargos ao cidadão com uma inteligência ou QI abaixo da média não concordará com os mesmos, quer sob o aspecto prático, da responsabilidade e o nível ético que era de se esperar.

Para provar a falta de seriedade do INPHAME, entre as recomendações somente agora formuladas para liberar os trabalhos, exige que o município desaproprie os dois postos de combustível e remova os restaurantes que ficam no meio da referida artéria. No que diz respeito aos postos, se não nos falha a memória, lá eles se encontram há mais de cinquenta anos, perfeitamente incorporados à paisagem da cidade. Além do mais, foram instalados quando não se falava em preservação do patrimônio histórico. É bom que se saiba que no mundo jurídico, só é crime o que a lei define como tal, assim como todo crime tem o benefício da prescrição. Preservação seria a atuação correta do IPHAN e não posicionar-se, afrescalhadamente, contra o desenvolvimento. Esse comportamento histérico não deixa de ser uma encenação de fachada para fazer-se acreditar perante a opinião pública, isentando-se a de Penedo, de que atua com seriedade. Com referência aos bares, todos sabemos que foram construídos no primeiro projeto de revitalização da orla fluvial, durante a gestão do prefeito Alexandre Toledo, há pouco mais de dez anos. Foi também um projeto que teve aprovação do IPHAN.

O que podemos concluir de tudo isso. É que o INPHAME sofre de um retardamento mental ou então raciocina com tamanha lentidão que só percebe seus erros somente após alguns meses ou anos. Como o lugar de loucos é o hospício e o dos desajustados com a realidade é o tratamento psiquiátrico, recomendamos que os terríveis infantes submetam-se a esse tratamento, para que nos concedam a paz, livrando-nos de suas torturantes sandices.

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  • Francisco Araújo Filho Parabéns ao articulista pela excelente, e muito justamente indignada, matéria... Eu acrescentaria que o IPHAN além de só percebe seus erros \"após alguns meses ou anos\", comete erros que nunca percebe, sendo inúmeros os exemplos desse tipo: a desastrosa reforma da praça Barão de Penedo, com a remoção do canhão, um símbolo que já havia se incorporado ao visual da referida praça e que, após justificadas críticas por parte da comunidade, teve que ser recolocado em seu antigo lugar; a reforma da praça do Convento (atual Frei Camilo de Lellis), onde a utilização de um tipo de pedra (parecida com o granito) no revestimento da referida obra causa, mesmo para um leigo, verdadeira agressão estética ao conjunto arquitetônico a sua volta; recetemente, na reforma do Mercado Público Municipal, a modificação do padrão dos quatro portões do prédio, mudança tão radical que um desavisado pode ficar convencido de que os antigos portões foram substituídos por novos; na própria obra da orla, a utilização de um tipo de calçamento que não condiz com a estética colonial da cidade, um tipo de tijolo de cimento \"cru\" que se tornou quase que onipresente nas obras que atualmente são realizadas na cidade, num óbvio e gritante ato de mau-gosto; e, o mais grave, a retirada das telhas originais do Convento de Nossa Senhora dos Anjos, que foram substituídas por telhas modernas, que não só empobrecem a originalidade da mais que secular construção, como também não cumprem adequadamente a sua função de captar eficientemente as águas pluviais, tanto que o grupo \"Amigos do Convento\" teve que entrar com uma ação junto ao Ministério Público Federal para que a reforma do telhado fosse refeita, buscando sanar assim a quantidade enorme de pingueiras que surgiram após a alteração. Diante de tudo isso, chega a ser hilário que o IPHAN queira, no caso específico da orla, advogar um purismo preservacionista que, como orgão diretamente responsável pela obra ou como órgão responsável pela preservação do nosso patrimônio, deixou passar em brancas nuvens em todas estas oportunidades. Aliás, se a opção é o purismo radical, no intuito de restituir a originalidade do local, a única ação coerente seria retirar da orla qualquer construção e até mesmo o calçamento de paralelepípedos, devendo ser plantado ali um vistoso pasto de grama. Afinal, de acordo com as fotos antigas do local, essa era a sua aparência \"original\".
  • CARLOS Concordo em gênero , número e grau com a matéria e o comentário aqui exposto. Acho ainda que seria o momento de repensar se essa história de Penedo ser uma cidade tombada por esse \"INPHAME\" trouxe melhorias ou apenas o atraso para nossa cidade. Penedo é uma cidade tombada ou está tombando no atraso?
  • Luilton Concordo plenamente com o que escreveu o articulista. Na minha oponião esse órgão atua em Penedo como um poder paralelo em relação a administração municipal no que diz respeito ao conunto arquitetônico tombado. Esse cara tem mais poderes do que o próprio prefeito e o pior, ninguen diz nada, apenas obedece. É uma pena, pois a cidade está sendo completamente mutilada por esse Ipham.
Augusto N. Sampaio Angelim

Augusto N. Sampaio Angelim

Juiz de Direito em Pernambuco, apaixonado por Penedo

Postado em 07/11/2010 00:10

O Estudante e a Bibliotecária

Ele freqüentava a Biblioteca há mais de dois anos, porém nos últimos seis meses, estava lá diariamente, no período da tarde. Entre leituras e anotações, estava tão familiarizado com o ambiente que reconhecia os visitantes mais assíduos e todos os funcionários. Além de estudar, desenvolvera o hábito de observar a bibliotecária. Sônia, não deveria estar com trinta e poucos anos e, na maioria dos dias vestia uma calça jeans e blusas simples, e, quando o ar-condicionado diminuía a temperatura da sala, ela sempre tinha um casaco sobre os ombros. Nas sextas-feiras, era perceptível a mudança no seu visual, ousando em blusas mais decotadas e saltos altos e, vez por outra, se vestia com elegância de uma aeromoça, inclusive com os cabelos impecavelmente alinhados Encantado com a beleza daquela mulher que não se assemelhava com o estereotipo das bibliotecárias dos livros e filmes, ele inventou uma tabela diária em que anotava os estilos das roupas, cores dos batons, tipos de sapatos e modos de arrumar os cabelos. Na última coluna, às vezes, acrescentava uma observação: “linda”, “comportada”, “aeromoça”, “perigosa” e outros adjetivos.

Certa feita, sentiu que os olhos os claros dela lhe observavam e, desse dia em diante, lutava com dificuldade para se concentrar em seus estudos. Disposto a uma aproximação e sem saber o que fazer, diante das circunstancias do caso e de suas limitações materiais, resolveu lhe presentear com um bombom de chocolate Serenata de amor. Para sua surpresa, Sônia agradeceu com um de seus melhores sorrisos e esta receptividade lhe perturbou mais ainda, mas não surgia a oportunidade de entabular uma conversa ou qualquer outro tipo de aproximação. Quando terminava o expediente, a bibliotecária descia as escadarias internas do prédio diretamente para o estacionamento, de onde saia em seu carro. Ele, ao contrário, tinha que sair pelo acesso principal e atravessava toda a extensão da praça situada em frente ao prédio da biblioteca, para esperar o ônibus do outro lado. Muitas vezes, enquanto esperava a condução, via sua musa passar dirigindo seu pequeno carro.

Os dias iam passando e tudo continuava na mesma. Ele, vivendo todas as dificuldades de um universitário que morava num sótão de uma pensão de quinta categoria, não via oportunidade de se aproximar daquela que tanto lhe impressionava. Uma vez por mês de se dava ao luxo de ir à praia, aos domingos. Outro prazer que podia desfrutar, parcimoniosamente, era o cinema. Num sábado à noite, na fila da bilheteria do cine Veneza, preparando-se para assistir a última sessão do drama “Em algum lugar do passado”, pressente que alguém lhe observa e, quando olha para trás, avista Sonia. Uma mistura de sentimentos embaraçam o jovem estudante, que sequer consegue sorrir, embora a bibliotecária tivesse feito um aceno amistoso com a mão direita. Imediatamente ele se lembra das classificações que fazia dela: “linda”, “perigosa”.

Agora, ali bem pertinho dele, sua presença era grandiosa. Pensou: “deslumbrante”. Entrou no cinema e ficou perto do balcão da pipoca, esperando acontecer alguma coisa. Não demorou e Sonia veio até ele e conversaram sobre o filme e terminaram sentando um ao lado do outro. Não precisa nem dizer que ele não conseguia fixar o pensamento na película, ainda mais quando, descuidadamente a mão direita de Sonia pousou em sua perna esquerda. Com o coração quase a sair do lugar, pegou a mão dela, sentindo, ao mesmo tempo, a delicadeza de suas mãos e o perfume tranqüilo que exalava do corpo dela. Na saída, ela lhe convidou para irem até a um barzinho da moda, que ficava à beira-mar. Instantes de dúvidas, pela falta de dinheiro. Sem outra saída, disse que precisava voltar para a pensão, pois teria uma prova na segunda-feira. Era mentira, ou melhor, tinha a prova, mas o problema é que não tinha um centavo sequer no bolso e, portanto, não tinha como ir a um barzinho. Como pagaria a conta? E o dinheiro da passagem de volta? Eita vida difícil!

Ela, um pouco arrogante, sem perceber as dificuldades do jovem estudante, despediu-se de forma seca, como que contrariada e foi embora. Ele, de volta para a pensão, caminhava lentamente, ruminando sua frustração. Quando passou em frente a Cantina Star, na Avenida Conde da Boa Vista, dois amigos gritaram seu nome e se ajuntou a eles. Ambos eram irmãos, tinham carro e dinheiro e estavam dispostos a uma noitada divertida. Entre amigos, confessou que não tinha uma pataca. Besteira, disse um deles, vamos à farra. Depois de várias cervejas e muitas risadas, entrou no Fusquinha dos irmãos, já meio tonto. Quando deu por si, estavam à beira-mar, no tal barzinho da moda. Na verdade nem se lembrava de Sonia, mas quando foi ao banheiro, depois de muitas cervejas, quase caiu, quando avistou a bibliotecária se fundindo num beijo de boca, junto ao balcão do bar, com um homem maduro, de cabelos grisalhos.

No wc, seu estomago se rebelou e foi inevitável o vômito. Se refez, lavou o rosto e voltando para os amigos, passou bem pertinho de Sonia, que, agora, com um copo longo nas mãos, dizia alguma coisa no ouvido de seu acompanhante. Hesitou um pouco, mas percebendo que ela sequer havia dado por sua presença, foi sentar-se com seus amigos. Um deles, muito mais animado, disse: “vamos ao Chantecler, ouvir radiola de ficha e pegar umas putas”. “Me deixem em casa”. “Não, você vai com conosco”. Na zona, enquanto os amigos se divertiam, chorou e atraiu a atenção de Marta, uma das mulheres da casa. Naquela mesma noite, conheceu todas as dores dos homens. Excitação, prazer, tristeza, ciúme, raiva e prazer. Este último, gratuitamente, pois Marta, experiente e desocupada naquela noite, resolveu fazer caridade e aproveitar a beleza daquele estudante. Nunca mais voltou a freqüentar a biblioteca e até receava de, casualmente, encontrar com Sonia em algum lugar da cidade.

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