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João Pereira Junior

João Pereira Junior

Advogado, Professor de Direito e Membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 22/09/2010 16:58

Quando o \"juridiquês\" se torna brega

É fato incontroverso que cada ramo do conhecimento tem uma linguagem peculiar permeada com expressões ou palavras técnicas cuja função é imprimir maior precisão acerca do que se quer falar. Trata-se do chamado rigor científico. É o que se pode chamar de linguagem paraloquial, diferente, pois, da linguagem coloquial.

No Direito não é diferente. A palavra “jurígeno”, por exemplo, dificilmente será utilizada por outro ramo do conhecimento, ou mesmo a expressão “embargos de declaração”. Existem muitas palavras, inclusive, que em linguagem coloquial tem um determinado sentido, já na paraloquial, ganha sentido diverso, como é o caso das palavras “execução”, “competência”, “concentração”, “exceção”, de modo que somente o técnico saberá qual é o seu significado naquele contexto.

Ainda nessa linha de raciocínio, o Direito latino-americano, cuja base vem, primordialmente, do Direito Romano, com considerável influência do Direito Canônico, ainda é impregnado de latinismos, tanto por uma questão de tradição como pela consolidação de algumas expressões que se tornaram técnicas para designar determinado instituto, como é o caso de habeas corpus e habeas data, por exemplo. Nada obstante tais usos, o que se vem verificando é a adoção indiscriminada de latinismos desnecessários e até inventados, subvertendo as normas desse idioma que, embora morto, ainda tem seu regramento, bem como o uso de expressões de muito mau gosto, para não dizer, com o perdão da palavra, “cafona”.

Não raro, flagra-se peças processuais com uso de aumentativos que não existem, tais como “datíssima maxima venia”, ou diminutivos como “de cujinhos”, verdadeiros horrores literários, ou mesmo o emprego de expressões desnecessárias cuja tradução é bem mais esclarecedora, tais como fumus boni juris (fumaça do bom direito) ou periculum in mora (perigo da demora), actio exhibendum (ação de exibição), actio in ren verso (ação de repetição de indébito), dentre tantas outras. Isso, na verdade, é uma tentativa de demonstrar traquejo no trato forense, uma mistura de falso pedantismo com ingenuidade. Falso pedantismo porque embora esta característica seja desagradável, o pedante sabe o que está falando, só que com certo cabotinismo, o que não é o caso da maioria esmagadora dos operadores do Direito, pois que é ignorante (essa maioria) acerca do latim. E ingênuo na medida em que acredita que seu texto será mais persuasivo usando expressões que foram pescadas na vala comum do juridiquês vulgar, verdadeira demonstração de falta de personalidade.

Essa falta de crítica acaba levando ao chamado “efeito boiada”, pois certa feita alguém decidiu fazer o vocativo do magistrado na petição inicial usando o “Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz” e ninguém percebeu a bobagem que se estava a cometer, se é sabido que doutor não é pronome de tratamento. Ou até percebeu, mas, na tentativa de bajular o magistrado, prefere esse reverencialismo infantil à sobriedade que o advogado precisa externar. O peticionário faz questão de lembrar ao magistrado que ele faz parte da comunidade jurídica e, portanto, também é doutor, além de um Excelentíssimo Senhor Juiz (pois embora doutor seja título acadêmico, é tolerada a sua utilização entre os operadores do Direito e da Medicina). De fato, é lamentável. Nem o monarca (Vossa Majestade), entre os déspotas esclarecidos, por mais absolutista que tenha sido teve tantos “mimos” quanto tem, hoje, o magistrado, justamente este que, ao contrário do déspota, está “adstrito ao cárcere da lei”, conforme logo cedo aprendemos na faculdade. Dessa forma, invés do uso de tal pompa, não seria mais elegante um simples “Senhor Juiz de Direito”? Continuaria a ser respeitoso e estaria em consonância com o Manual de Redação da Presidência da República que é uma boa fonte de inspiração.

Não bastassem tais vícios, ainda há um largo uso de expressões esdrúxulas que, caso façamos um paralelo, invoca a figura do caipira rico que chega na cidade grande e, não sabendo como se vestir, acaba indo de smoking para o mercado fazer feira. Nesse sentido, eis algumas das expressões que constantemente estão presentes nas petições: “nesse diapasão” (para dizer “nesse sentido ou nessa linha de raciocínio”); “peça pórtico”, “peça madrugadora”, “peça dilucular”, “peça prodrômica”, “peça ovo”, “peça de arranque” (para se referirem à petição inicial); “remédio heróico”, “bill of mandamus” (mandado de segurança num misto de inglês e latim); “clareza solar”, “clareza hialina”, “clareza meridiana” (para dizer que o direito em questão é bastante claro); “termos em que pede e espera deferimento” (como se quem pedisse não esperasse o deferimento); “fulano já descansa no campo dos mortos” (para dizer que fulano já é falecido); “representante do Ministério Público” (ora, quem se manifesta nos autos é o MP e não o seu representante); “é o que se relata em apertada síntese” (isso é que é aperto!); “ergástulo público” (para dizer cadeia pública); “cártula chéquica” (para se referir a uma folha de cheque), “alvazir de piso” (juiz de primeira instância), “autarquia ancilar” (pasmem, trata-se do INSS); “manifestação parquetina” (manifestação do Ministério Público), “excelso pretório” (bajulação com o tribunal) e mais outras tolices que são disseminadas e recebidas sem qualquer crítica por advogados, juízes e promotores, pois há quem admire tais bizarrices, o que é chocante. Até a citação de argumento de autoridade tem que ser enfeitada com um reverencialismo comovente: “o insigne mestre”, “o festejador autor”, “o proeminente professor”, “o preclaro doutrinador”, “o autor de escol”, enfim... coisas que, talvez, só aconteçam no Direito. Que pena.

Na verdade, toda essa parafernália verbal é sintomática e se resume a uma questão: carência de leitura qualificada. Os profissionais estão se atendo, quando muito, à leitura técnica, achando que isso é suficiente para o melhor domínio do vernáculo e, na verdade, há engano nisso, pois a leitura técnica é árida, não cria estilo próprio e nem expande o leque verbal do leitor, pois circunscrito que é àquelas formas de expressão que evidenciam um único sotaque. É preciso conhecer boas obras de literatura universal, é preciso ler a alma humana pelas lentes dos romancistas, ampliar nossa visão periférica e melhorar nosso poder de argumentação para, por fim, compreender que a pena tanto pode ser um habilidoso bisturi verbal, como, também, uma desafinada cuíca verborrágica, tudo a depender de quem a tenha entre os dedos. E, para não se correr o risco de desafinar, escrevamos a nossa peça com objetividade, simplicidade e elegância, de modo que, ao final do texto, dispensemos o brega ex positis, mas, “diante de tudo o que foi exposto”, prefiramos esta última expressão (muito mais chique).

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  • M. Almeida É, AMIGO, SEU TEXTO ESTÁ BRILHANTE. O \\\"JURIDIQUÊS\\\" NÃO PASSA DE POBREZA GRAMATICAL. IMAGINE VOCÊ QUE ESTÁ SE FORMANDO NAS FACULDADES DE DIREITO GRUPOS CONTRA A PROVA DA OAB, O QUE JULGO ABSURDO. QUAL A SUA OPINIÃO?
  • Isabel Fernandes Um bom tema para ser discutido nas Academias do Direito. Parabéns João, por um texto tão esclarededor e articulado.
  • Luciano Luz Meu amigo João Pereira.Parabéns pelo belíssimo texto realçado pelo humor e a ironia fina inerentes a um grande crônista.
  • João Pereira Júnior Meu caro Luciano, há quanto tempo... Obrigado pelos elogios. Grande abraço. Obrigado, também, Isabel e M. Almeida. Aliás, a pergunta M. Almeida revela uma preocupação pertinente. A resistência de alguém em se submeter à \"Prova da OAB\" nada mais é do que a sua confissão de que não está preparado para enfrentá-la. E como a resistência parece ser de um número grande de graduandos, isso é sintoma de que o problema do despreparo tem a mesma proporção. Definitivamente, enquanto não se resolve a qualidade do ensino médio e em nível de graduação neste País, esta \"Prova\" ainda é o melhor filtro de que dispomos no momento. Não é garantia de que os melhores estarão na Ordem, mas, pelo menos, atesta que quem passou revelou conhecimento básico para a profissão.
  • MARIA NÚBIA DE OLIVEIRA Caro amigo João Pereira: Não entendo nada dessas expressões jurídicas e juridiquês, mas achei muito interessante e esclarecedoras as suas explicações, porque em qualquer tema seja jurídico, poético, prosaico ou cômico devemos ser o mais objetivo possível, já que o alvo é o leitor. Esse hábito de inserir palavras que muitas vezes não sabemos nem que existem, dificulta o entendimento dos mais singelos. Obrigada pela aula jurídica de juridiquês! Um grande abraço. Maria Núbia de Oliveira
  • Nai Freitas Caro João, eu não sabia que você - além de grande contador de causos, ainda tinha esse talento para escrever tão bem. Parabéns. Espero que você continue nos brindando com outros textos.
  • Margaret ROSE dos Santos Brasil Caro Professor João Pereira, Amei seu artigo realçado pelo seu humor (que conheço em sala de aula), mas precisamente pela crítica as expressões jurídicas. Creio ser um bom tema para ser discutido em nossa FAMA, em nossas turmas de Direito. Precisamos conhecer e APRENDER a aplicar a línguagem correta. Não seria esse um bom assunto para trabalho? Parabéns pelo artigo. Margaret ROSE Brasil
  • ELIANA SARTORI Excelente texto, parabens.
  • Jose Barros Maravilha de texto, quem diria, encontro-o em 2021 e ainda me parece escrito ontem. Não poderia deixar de comentar. Parabéns.
  • Breno Wanderley BRILHANTE. PURA VERDADE.
  • Ana Lavínia Deschamps de Oliveira Silva Excelente texto, professor! É imprescindível abordar a “carência de leitura qualificada” nas universidades do Brasil!!!
Valfredo Messias dos Santos

Valfredo Messias dos Santos

Procurador de estado, defensor público e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 18/09/2010 19:31

Nunca é tarde para recomeçar

Agostinho era um homem proprietário de uma grande gleba de terras coberta de pastagem onde criava inúmeras cabeças de gado.Era um agricultor bem sucedido apesar de suas atitudes rudes e prepotentes.Muitos empregados cuidavam do trato do gado e das pastagens bem como do conserto e construções de cercas para os cercados que confinavam o gado pela sua qualidade.Detentor de uma excelente condição financeira além de sua invejável posição social reunia ao seu redor muitos amigos e interesseiros.

Era casado com Helena, mulher meiga, prendada e servil. Havia renunciado a tudo, até mesmo à sua própria pessoa, para atender aos desejos e exigências de seu esposo.Vivia exclusivamente para os serviços domésticos e não tinha vida social apesar dessa atitude não lhe trazer nenhum inconveniente pois era de comportamento introvertido e sentia-se feliz em bem desincumbir sua missão de esposa e dona de casa . Do casamento nasceu um filho que lhe servia de companhia e a quem dedicava os dias de sua vida com muito amor e compreensão.

A vida no lar não era boa. Agostinho, homem dado às orgias e as festas noturnas, sempre chegava em casa bêbado obrigando-a a levantar-se para lhe servir a janta.Mesmo cansada da labuta do dia,sem nenhuma reclamação, se dirigia à cozinha e cuidava da refeição de seu marido que sempre a fazia sozinho. Sempre de mal humor , e aos gritos, a ordenava a cumprir,com brevidade o que lhe pedira. Paciente e por ter aprendido com seus pais que a mulher casada era para servir ao seu esposo, não esboçava nenhum gesto de desagrado. Após fartar-se e deleitar-se com o jantar recolhia-se ao quarto do casal e dormia como uma pedra. Helena deitava-se com muito cuidado para não despertar do sono o esposo, pois se isso acontecesse ele era capaz de proibi-la de dormir na mesma cama.

O filho do casal, só tinha amor da mãe que sempre estava ali pronta para ouvir-lhe e consolá-lo. O pai entrava e saia de casa ignorando a presença dos dois como se ali estivessem apenas dois objetos prontos para serem usados. Era uma família triste. Mulher e filho tratados sem respeito. Helena, apesar do esposo ter condições, não tinha empregados domésticos.Cuidava das tarefas do lar sozinha, lavando e passando roupas,cuidando das refeições e da arrumação da casa que era enorme. À noite o cansaço tomava conta de seu corpo magro e desnutrido.

Certo dia, Agostinho chegou em casa pela madrugada acompanhado de seus amigos, para dar continuidade à noite de farras e determinou à Helena que providenciasse comida para todos.Estava resfriada e com muito frio mas,mesmo com sacrifício,protegeu-se com um xale da frieza e dirigiu-se à cozinha para cumprir a determinação recebida.Foi rápida como sempre e,em pouco tempo a mesa estava servida. A algazarra dos amigos já embriagados, ecoava por toda a casa. Helena não poderia retornar aos seus aposentos pois , a qualquer momento poderia ser requisitada por Augustinho.O filho,sempre ao lado da mãe aguardavam pacientes o final daquela bebedeira que,por vezes,terminava com o raiar do sol.

Dias após dias, Helena conviveu nesse ambiente sem amor, sem respeito, sem compreensão. Mulher temente a Deus fortificava-se nas suas orações que fazia de joelhos, na esperança que algum dia o seu esposo experimentasse uma mudança em seu comportamento e olhasse para ela e seu filho como uma família que necessita da proteção do pai.

Agostinho tinha mais prazer em administrar sua fazenda do que com sua família, talvez por não sentir falta de sua esposa e filhos por estar sempre rodeado de mulheres e amigos de ocasiões. O filho já adolescente acompanhava sem poder dizer nada, o sofrimento da mãe. Ás vezes até pensava em intervir, mas, logo mudava de opinião, pois conhecia o âmago de seu pai. Era um homem rude, ignorante, com um coração de pedra, sem nenhum sentimento familiar. Sabia se um dia o enfrentasse seria expulso de seu lar, e obrigado a deixar para traz sua mãe, que tanto necessitava de sua presença.

Já era noitinha, pois os últimos raios solares já haviam se recolhido e, aos poucos, a escuridão se apossava do espaço deixando as estrelas se apresentar, aos milhares, com seus brilhos e encantos. Agostinho retornava de mais um dia longe de seu lar e, como sempre, já adentrava a casa dando ordens.

- Helena, ponha o meu jantar, pois estou faminto. Apresse-se.
Nenhuma resposta. O silêncio reinava naquela casa marcada pelo sofrimento e pela dor. Agostinho já irritado insiste:

- Helena, onde você está que não me responde? Não está me ouvindo mulher? Nada. À medida que entrava com seus passos fortes e apressados ouviu um choro bem baixinho vindo da sala de refeições. O local não era bem iluminado e reinava uma penumbra. Logo percebeu seu filho curvado sobre o corpo de sua mãe que estava de bruços, inerte.

Aproximou-se do corpo e o virou. Helena estava desfalecida. Uma poça de sangue havia se formado sobre o seu corpo. Agostinho se desesperou pela primeira vez em todos os anos de convivência com Helena. Tentava acordá-la, sacudindo-a com força, dizia:

- Acorde Helena ! Acorde Helena ! Agostinho apertava sobre o seu peito àquele corpo frágil enquanto vislumbrava sua beleza. Um rosto que apesar do sofrimento deixava transparecer uma beleza sem igual. A paz que emanava daquele semblante intrigava aquele homem que nunca teve a sensibilidade de contemplá-lo. Era um momento nunca vivido antes. Estava com Helena nos seus braços, admirando-a como mulher. As lágrimas rolaram pelo seu rosto à medida que tentava reanimá-la.

- Helena, por favor, acorde. Não nos deixe. Precisamos de você. Eu preciso de você.

Agostinho sentiu que Helena estava reagindo. Percebeu que estava tentando abrir os olhos porque as pestanas apresentavam algum movimento. Ficou fitando-a, na esperança que ela abrisse os olhos e o visse abraçando o seu corpo e preocupado com o seu estado de saúde. Desejaria que ela o visse até mesmo chorando, e percebesse o seu arrependimento. Gostaria de dizer-lhe que daquele dia em diante nunca mais a deixaria só, que não a faria mais sofrer; que estava sentindo uma transformação dentro de si. Algo de estranho lhe incomodava as entranhas. Uma espécie de fogo lhe queimava como uma ulcera.

Aos poucos os olhos de Helena foram se abrindo até fitar seu esposo. Olhou-o,demoradamente, como a querer desfrutar um pouco mais daquele momento que tanto sonhara, que tanto havia pedido a Deus em suas orações. Agostinho alegrou-se. Ainda havia esperança. Helena havia voltado do seu sono e ele sorria e chorava. Passava as mãos sobre seu rosto acariciando-a e pronunciando o seu nome. Helena, esboça um sorriso. Estava feliz por estar vivenciando àquele momento mágico e, num esforço para falar diz:

- Agostinho, perdoe-me por não poder servir o seu jantar!

Agostinho ouvindo essas palavras entrou em desespero perdeu o controle e gritava aos céus pedindo perdão por não ter percebido, que durante todos esses anos havia convivido com uma santa. Uma esposa dedicada, cheia de amor e de perdão. Um presente sagrado que Deus lhe dera e que não soubera valorizar. Que o trocou pela vida desregrada, por mulheres devassas e amigos oportunistas. Em fim trocou a vida pela morte porque sem sua esposa a vida não tinha mais sentido de ser.

O filho que tudo assistia ao lado disse-lhe: pai não quero mais viver com o senhor. Vou para casa de meus parentes. Agostinho assentiu com a cabeça porque não poderia ser diferente. Não havia conquistado o amor de seu filho e de sua esposa. Agora estava só e triste, sem força para seguir em frente.

Não tendo outro caminho a seguir preferiu ir para um mosteiro, onde, na solidão, pudesse sufocar suas mágoas, seus ressentimentos, suas angústias, sua dor, sua desesperança. Já não era um jovem, mas um homem sexagenário cuja mudança interior não era mais possível experimentar. Como transformar-se de um dia para outro se não havia conseguido durante toda a sua juventude.

O sofrimento e o remorso passaram a ser seus companheiros inseparáveis. A tortura mental era constante. A paz não conhecia apenas as lembranças de um tempo perdido e de uma cegueira que não o fez enxergar a família que tinha e que tanto sofrera por sua causa. Não tinha jeito. Alí estava afastado de tudo e de todos para aguardar o momento de sua morte temendo o julgamento final.

Absorto em suas lamentações não via o tempo passar encerrado naquele mosteiro sem querer mostrar-se ao mundo exterior. E, foi assim, que Agostinho sentiu a presença de Jesus que lhe dizia para voltar para o povo e falar-lhe do perdão e do amor. Que fosse falar do seu exemplo para que outros não enveredassem pelo mesmo caminho. Para que servisse para despertar que o amor ao próximo é o maior bem que Deus deixou para todos nós. Que é fazendo o bem, desejando o sucesso do outro que nós crescemos interiormente. Que o perdão é o caminho que nos leva a termos uma aproximação com Jesus. Perdoar é desatar as nossas amarrar materiais para que nos aflore o espiritual. Sem perdoar nunca chegaremos a Jesus nem alcançaremos a felicidade completa.

Agostinho ficou intrigado. Que exemplo seria para àquele povo que o conhecia como desregrado, vivendo de farras e cercado por mulheres; que não respeitava sua esposa e filhos;que nunca deu exemplo de uma boa convivência nem de amor ao próximo.O pensamento em Jesus passou a ser uma constante e ele resolveu sair do mosteiro para falar daquele que lhe deu a esperança e lhe propôs o perdão e o amor.

De início, acanhado, sem entusiasmo, falava para um povo desconfiado que não sentia muita firmeza nas suas palavras.Aos poucos,o poder do Espírito Santo foi-lhe conduzindo no caminho certo e, Agostinho tornou-se um dos maiores divulgadores do nome de Jesus e através de suas palavras muitos se converteram e mudaram os rumos de sua vida.

Agostinho, mesmo sentindo-se humilhado, envergonhado, deve ter ouvido a voz de Jesus que lhe dissera: Não temas, crê somente. A mesma frase que pronunciou para o chefe da sinagoga cuja filha estava morta e Jesus lhe disse: ela apenas dorme.

Agostinho acreditou e depositou em Jesus toda sua esperança de mudanças e, por esse grande amor dedicado ao grande Mestre, mesmo já estando velho e sem forças para lutar, tornou-se um exemplo a ser seguido por todos nós, pois é possível , repetir com ele ,com a mesma fé e o mesmo amor : NUNCA É TARDE PARA RECOMEÇAR.

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  • MARIA NÚBIA DE OLIVEIRA Parabéns, Dr. Valfredo, pelo belíssimo artigo! Realmente nunca é tarde para recomeçar. A queda até o fundo do poço tem seu lado positivo.Só assim valorizamos a vida, a felicidade e a paz. Jesus Cristo , o Filho de Deus, caíu três vezes, mas a cada queda, Ele se levantava e continuava a caminhada. Nossos olhos enxergam melhor a luz, quando saímos da escuridão! É no encontro com a dor que nos bebruçamos com a verdade das nossas fraquezas!
Maria Núbia de Oliveira

Maria Núbia de Oliveira

Escritora e poeta, integrante da Academia Penedense de Letras

Postado em 15/09/2010 13:50

Telinha

Depois de um dia exaustivo, sento-me em frente à TV. O mundo inteiro surge na telinha. Países de todos os Continentes vão revelando sua história, crises, vitórias e luta pelo poder.

Surge o Brasil... Um misto de decepção e esperança se apodera de mim. Homens de terno e gravata, tentam explicar o inexplicável e justificar suas caminhadas, seus feitos e desfeitos. Ocultam o essencial e enaltecem o mínimo que foi feito. Rios de dinheiro escondido nas malas, nas meias, nas cuecas e sabe-se lá aonde mais. E continua o desfile: Miss Brasil, luxuosos edifícios, miseráveis moradias. Quando chove, lá em cima o pára-raios absorve o perigo e lá embaixo o pessoal desaparece e o barraco vai embora com as águas... É o contraste social.

Chega um engravatado na telinha e parabeniza o povo brasileiro pelo aumento do salário mínimo... Continuo o meu "passeio " pelos canais. Vem a ficção das novelas: gente querendo subir, encontrar um cantinho para "se socar" e beber da fonte dos ricos. Outro começa a filosofar quando diz que " é um viajante do deserto que encontra a água pura e límpida, mas que não pode bebê-la, pois é fruto proibido..." Fruto proibido é o acesso a uma vida digna, com moradia, trabalho e lazer. Águas límpidas que ainda não saciaram a sede dos que estão em busca de uma vida melhor, igual para todos, pois todos somos herdeiros e filhos do mesmo DEUS!

Começa a propaganda política. Não pisco, olhando cada rosto, ouvindo cada promessa. Tem candidato que fica lendo o que está à sua frente para não esquecer nada, temeroso de desencantar o eleitor. Candidato de fala mansa e olhar profundo, só falta atravessar a tela da TV. Candidato de fala apressada, quase se engasgando para dizer tudo de uma vez, preocupado com o limite do seu tempo.

Tem candidato que chora, relebrando sua história de pobreza e de sacrifício. E o que dizer daquele candidato que vira anjo da guarda? Preocupado com os pobrezinhos, com as criancinhas, com os velhinhos, enfim com todos! É proteção pra dar e vender! A venda do " peixe" prossegue. Cada um que grite mais alto, mostrando seus feitos, passando a rasteira no outro que está em destaque. É a lei selvagem da campanha política eleitoral. Candidato comendo pastel duro e frio nas ruas, tomando café em copo descartável, queimando os dedos em prol de votos... Tudo vale a pena! Pra eles é claro!

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  • Francisco Lee Núbia, é impressionante como você usa o cômico e a crítica. Os seus textos levam o leitor a lê-lo até o fim. Adoro ler o que você escreve. Parabéns! Estou colecionando seus escritos. Com todo respeito, seu rosto é lindo! Lee
  • Maria Núbia de Oliveira Muito obrigada, Roberto!
  • Roberto Impressionante Núbia, inovador seu modo de fazer crítica sem deixar de lado a sabedoria do leitor, parabéns,muito admirada.
  • Neuza Oliveira. Parabéns mana querida...essa critica poderia está em um lugar alto e com letras bem grandes pra todos brasileiros podessem ler e até mesmo o politico.
  • Marcelino Cantalice Companheira Núbia Oliveira: Estava sentido falta dos seus artigos e comentários... Ainda bem que são muitos os que lamentam o tempo perdido com as baboseiras que os \\\"políticos\\\" de carteirinha andam distribuindo pelo Brasil a fora, em troca de uns votos imerecidos. Infelizmente o comportamento ético e social de centenas de \\\"elegíveis\\\" nos tira o estímulo em votar. Nesses que estão aí? Como a falsidade e a mentira andam soltas pela Pátria. Haverá, ainda, alguma esperança? Quem sabe... É bom que soem vozes de protesto. Você,como musicista, faz parte deste Coral. Abraços. Do consócio: Marcelino.
Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 12/09/2010 07:27

A Praga das Coligações

Dentro do balaio de gato em que se transformou o sistema eleitoral brasileiro, um item tem se sobressaído. Muito mais pelo seu lado turvo, enevoado, brumoso, negociateiro, falcatruoso, do que no sentido de agregar, num mesmo bloco, partidos políticos com visões ideológicas semelhantes. Este item a que me refiro é a tal da coligação partidária. Saco para onde escorrega todo tipo de acerto nebuloso, de argumentação cabreira, de ajuntamento de sabidos e sabichões, a coligação partidária é o cadafalso da verdadeira prática política no Brasil e cemitério de toda nova liderança que tenta emergir do cipoal de siglas em que se constituiu o emboloado sistema partidário brasileiro. Muito se tem reclamado do avantajado número de partidos existentes no Brasil. Tais reclamações partindo, inclusive, dos grandes nomes, das grandes lideranças que comandam o processo político nacional.

Em sendo assim, porque essa realidade se mantém? Porque uma tesoura bem afiada ainda não expurgou tais entidades da tessitura partidária brasileira? Ou, por outra, que padrinho tão forte é este que continua a manter os partidos chamados nanicos em atividade quando é voz corrente que todos desejam jogá-los no cesto dos elementos inservíveis? A conclusão a que se chega é que a ninguém, rigorosamente a nenhuma das atuais lideranças nacionais, consideradas fortes, interessa a ausência das pequenas siglas do tabuleiro político brasileiro. Com base nessa constatação, podemos aqui até alinhar um fato irrespondível. Esse amontoado de partidos ainda sobrevive em função do instituto da coligação partidária. Pois somente aí, nesse quesito, é que eles se tornam interessantes e bem-vindos às grandes organizações eleitorais, para montagem dos planos e metas de alcance e manutenção do poder.

Pois se a coligação partidária não tivesse lugar no bojo da legislação que estabelece o formato eleitoral brasileiro, de que viveriam e para que serviriam os partidos nanicos? Pela lógica já teriam desaparecido do horizonte político. Na verdade, o instituto da coligação partidária transformou-se na única razão de existir de tais monstrengos partidários. Fato é que, antes de qualquer eleição, ninguém sabe da existência de muitos dos partidos registrados na justiça eleitoral. Entretanto, quando se aproximam os períodos eleitorais, eles começam a se movimentar, a demonstrar vigor partidário, democrático e patriótico (entre aspas, é claro!), tentando, com isso, se inserir – através de gordas vantagens – no elenco de partidos com estruturas mais consistentes e com chances reais de alcance do poder. Aí as ofertas de cargos, vantagens e dinheiro enchem o noticiário e envergonham a opinião pública.

Fala-se muito no Brasil em reforma política. Entretanto, vão-se os anos e a mesma realidade permanece, permitindo a constituição das alianças mais ilógicas, mais perniciosas, mais descabidas por ocasião dos períodos eleitorais. Tudo em função da coligação partidária. Eu mesmo já tentei por duas vezes me candidatar em Natal e, em todas elas, fui vítima da coligação partidária. Enquanto isso, todos reclamam que não há renovação nos partidos nem surgimento de novas lideranças. Mas como lutar se está vedada a disputa democrática dentro do partido em função da coligação que sufoca a candidatura própria? Os correligionários querem, a opinião pública torce, porém a coligação partidária destrói o surgimento de novos nomes que possam se submeter à análise e à livre escolha do eleitorado. Conclusão: o jogo, como está, é pra cabreiros, pra inescrupulosos, pra vendilhões. Pobre do eleitor. Pobre do Brasil.

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Isabel Fernandes

Isabel Fernandes

Bibliotecária Especialista e Contadora de Historias

Postado em 08/09/2010 12:03

A Casa Verde de Janelas Brancas

Cone Freire - aquiacontece.com.br
A Casa Verde de Janelas Brancas

Dizem que toda casa tem uma ou várias histórias, pois vou contar a história ou as histórias da casa verde de janelas brancas.

A casa foi construída na cidade histórica de Penedo no interior do Estado de Alagoas em meados do século passado e como toda casa antiga já viu e ouviu muitas coisas.

Abrigou de inicio um casal recém casado que para lá se mudou. Acompanhou toda trajetória de vida da família, o nascimento dos filhos, dos netos, os momentos felizes e também os momentos tristes.

Até que um dia ela ficou vazia, mas enquanto no seu interior nada acontecia, no seu exterior foram acontecendo mudanças surpreendentes, já não havia mais cavalos trotando pelas ruas e sim carros, caminhões, bicicletas, motos e tudo isso fazia uma barulheira infernal.

As pessoas que antes paravam, se cumprimentavam, sorriam e conversavam. Agora eram capazes de derrubar umas as outras de tão apressadas que andavam.

E a casa pensava: Acho que estou ficando velha e não gosto do que estou assistindo.

O tempo foi passando; numa bela tarde de sol, alguns homens chegaram na casa, fizeram algumas anotações e poucos dias depois ela começou a ganhar uma nova pintura, suas paredes repletas de mofo e escurecidas receberam a cor verde e as janelas gastas pelo tempo, sol e chuva foram restauradas e pintadas de branco.

A casa ficou linda e voltou a sorrir, ela sabia, novamente seria habitada ouviria risadas e passos dentro dela, saberia de segredos que nunca seriam revelados e principalmente daria aconchego para os novos moradores e nunca mais sentiria o abandono.

Deve ter sido pintada ao longo dos anos de várias cores, mas a cor que ela gostou mesmo foi o verde na parede e o branco nas janelas porque simbolizam a esperança e a paz.

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  • Maria Luiza Russo, Malurusso Linda história! Deu vontade de conhecer... Entrar... e morar na casa verde de janelas brancas. Bjinhus!
  • Augusto César Linda inspiração, pena o texto ser curto, pois dar vontade de continuar lendo, lendo, lendo ... Me senti aconchegado e querendo estar na casa verde de janelas brancas!!!!!!!!!
  • Anderson Souza Penedo tem várias casasa bonitas, que já vivenciaram cenas tristes e alegres. Parabéns pelo texto. Penedo é isso, cultura, história e muita tradição.
  • Elenira Pompe O texto nos dá uma sensação de aconchego, de nostalgia... De aceitar as mudanças exteriores, mas nunca esquecendo dos nossos valores... Lindo texto, Bel! Beijinhos!
  • Prof. Israel Silva de Macedo Nossa! O texto nos permite re (viver) acontecimentos recriar) o novo. Parabéns histórios, sentimentos e sobretudo nos faz refletir sobre inúmeros aspectos desde a materialidade das coisas ao advento de novas formas de vivenciar o passado. Em cada ser exite um novo ser, que pode ser renovado e/ou impulsionado através de novas e/ou antigas percepções. Mesmo no ócio, aparentemente, das "coisas" podemos re (pelo magnânimo texto.
  • Luani Macário Bebel, Na arte de contar histórias se eterniza bons momentos, que a casa verde traga a esperança de dias melhores para todos que valorizam a história humana. Parabéns e sorte..... Lulu
  • Leitor Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades... Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei... Sinto saudades da minha infância, do meu primeiro amor, do meu segundo, do terceiro, do penúltimo e daqueles que ainda vou ter, se Deus quiser... Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro... Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser... Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer. Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre! Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. Sinto saudades de coisas sérias, de coisas hilariantes, de casos, de experiências... Sinto saudades do cachorrinho que eu tive um dia e que me amava fielmente, como só os cães são capazes de fazer! Sinto saudades dos livros que li e que me fizeram viajar! Sinto saudades dos discos que ouvi e que me fizeram sonhar, Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade. Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que... não sei onde... para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi... Vejo o mundo girando e penso que poderia estar sentindo saudades Em japonês, em russo, em italiano, em inglês... mas que minha saudade, por eu ter nascido no Brasil, só fala português, embora, lá no fundo, possa ser poliglota. Aliás, dizem que costuma-se usar sempre a língua pátria, espontaneamente quando estamos desesperados... para contar dinheiro... fazer amor... declarar sentimentos fortes... seja lá em que lugar do mundo estejamos. Eu acredito que um simples \\\"I miss you\\\" ou seja lá como possamos traduzir saudade em outra língua, nunca terá a mesma força e significado da nossa palavrinha. Talvez não exprima corretamente a imensa falta que sentimos de coisas ou pessoas queridas. E é por isso que eu tenho mais saudades... Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes em que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito o que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência... Clarice Lispector
  • ANDREIA S. MARTINS Que linda essa história!Essa casa aqui em nossa cidade QUERIDA PENEDO,me faz como ela está agora ALEGRE,FELIZ,..Parabéns pelo texto e por mostrar uma casa BELA que fica diante de nosso olhos,pois, muitos não enxergam.Agradeço também pelo texto mais faça o próximo maior, porque a sensação de estar lá dentro da casa foi uma maravilha.Mostrar ao mundo como nós penedenses temos história,cultura e muita tradição,é pra mim uma satisfação enorme.FIQUEI MUITO FELIZ LENDO ESSA HISTÓRIA,adorei,beijos!!!
  • Margarida Menses Penedo é sem dúvida uma cidade de muitas histórias lindas, e com uma pessoa como vc p/ contá-las, tão ludicamente,fica mais linda ainda. Bel.
  • Cristiano Soares Roberto É disso que a nossa cidade precisa, de pessoas capazes de contar historia sobre nossas casas, praças, monumentos historicos e até mesmo sobre os nossos antepassados; porque ninguém vive o presente, sem ter o passado para ser lembrado, para ter uma base em sua vida, bela historia maravilhosa historia, se nossa cidade pudesse falar, teria muita coisa pra contar. Parabens pela historia !!!!!!!!!!!!!!!!!!