05 Abril 2010 - 14:41

Projeto reduz índice de gravidez na adolescência

Neno Canuto
De acordo com a coordenadora do Projeto em Alagoas, Maria Helena Vilela, iniciativa atende adolescentes entre 14 e 19 anos

Quando o tema é sexo, muitas pessoas ficam encabuladas, envergonhadas e cheias de tabus só de pensar no assunto. Mas quando isso é orientado por professores na sala de aula de forma educativa, dinâmica e ilustrativa, os adolescentes ficam mais à vontade. A intenção de apresentar a sexualidade a alunos que têm entre 14 e 19 anos partiu da necessidade de reduzir o alto índice de gravidez na adolescência e, principalmente, na prevenção sexual de meninos e meninas do Ensino Médio de escolas públicas do Estado de Alagoas. Por meio da Secretaria de Estado da Educação (SEE), o Projeto Vale Sonhar entrou nas salas de aula e reduziu em 40% o índice de mães e pais adolescentes.

A partir de experiência positiva realizada em escolas públicas de São Paulo, a Organização Não Governamental (ONG) Instituto Kaplan desenvolveu um método que permite aos adolescentes identificar o sonho de vida profissional e perceber o que aconteceria com o desejo de se tornar um bom médico, advogado, jornalista ou professor se houvesse uma gravidez durante sua adolescência. Chamado de Projeto Vale Sonhar, São Paulo foi o estado piloto e já pôde comprovar uma redução de 90% no índice de jovens que se tornaram pais e mães logo no primeiro ano de existência.

Em 2007, o Projeto Vale Sonhar passou a fazer parte do calendário escolar das escolas públicas do Estado de Alagoas. Antes de implantar, de fato, o Projeto nas salas de aula, a educadora sexual e coordenadora, Maria Helena Vilela, realizou uma enquete para saber quem esteve grávida, ou quem foi pai, nos últimos 12 meses. Após a conclusão da pesquisa, os educadores das 15 Coordenações Regionais de Ensino (CREs) e dos coordenadores pedagógicos/professores de 175 escolas foram capacitados como multiplicadores para preparar professores de suas respectivas escolas para atuar como agente de prevenção à gravidez.

Todos os profissionais foram capacitados pelo Instituto Kaplan para serem multiplicadores do Vale Sonhar com as turmas do 1º, 2º e 3º anos. A capacitação consiste em três etapas de oficinas interativas cujos temas são Despertar para o Sonho, a primeira; Nem toda Relação Sexual Engravida, segunda, e Engravidar é uma Escolha, última. Essas oficinas interativas proporcionam que, através de jogos educativos e dinâmicas, professores e alunos possam interagir, falando a mesma língua.
 

 

De acordo com Helena Vilela, logo no início de 2008, o projeto capacitou mais de 1 mil agentes multiplicadores e atendeu 28 mil alunos. “Quando nós criamos essa metodologia, queríamos que o efeito fosse em curto prazo, uma coisa rápida, e que tivesse uma grande eficácia para causar impacto naqueles jovens. Foi quando criamos a primeira oficina, com o objetivo de despertar sonhos profissionais nos adolescentes a fim de motivá-los à prevenção de gravidez”, destacou Maria Helena Vilela. Na segunda oficina, o Projeto mostra 10 tipos de práticas sexuais de risco ou não. Além disso, os alunos aprendem como funciona o corpo humano, através do aparelho reprodutivo masculino e feminino.

Já na última oficina do Projeto Vale Sonhar, os adolescentes conseguem entender melhor o impacto da gravidez em sua vida. A partir daí, fica mais fácil para eles compreender e praticar o uso dos métodos contraceptivos, bem como a correta utilização da camisinha masculina e do preservativo feminino interno. Desta experiência participaram 98% das escolas previstas e, aproximadamente, 10.624 mil alunos em 2009.

“A filosofia do Instituto Kaplan não é trabalhar em cima da abstinência e nem adiar a relação sexual. A gente não acredita nessa postura, pois nós não somos mais fortes do que a realidade que esses meninos e meninas vivem hoje. A gente dá um embasamento sobre o assunto para que, se eles resolverem transar, saibam como se prevenir para não engravidar e nem pegar uma Doença Sexualmente Transmissível ”, disse Maria Helena Vilela.

Adolescentes aprendem a se prevenir

“Aprendi a me prevenir da gravidez precoce com as atividades do Projeto Vale Sonhar. Antes, eu sabia pouco sobre o assunto porque meus pais tinham vergonha de falar sobre sexo. Na escola, participei de dinâmicas que mudaram minha visão com relação a isso. Tenho certeza que a gravidez precoce atrapalharia meus sonhos profissionais”, revelou Andressa Carolina Nascimento, 16, aluna da Escola Estadual Rosalvo Ribeiro. Ela foi uma das alunas que participou das três oficinas do Projeto, e a escola em que estuda concorrerá ao Prêmio Vale Sonhar Alagoas. O evento da premiação será no dia 13 de abril, às 9h, no Palácio República dos Palmares.

 

Segundo a adolescente, as dinâmicas de grupo e as atividades educativas sobre a temática ajudaram na prevenção contra as Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e gravidez precoce. “Teve uma atividade que fiz com uma bexiga por dentro da blusa, simulando uma gravidez. Isso contribuiu para que eu pudesse me imaginar estudando com um filho na bariga, tendo prejuízos e atraso de vida se isto acontecesse de verdade. Aprendi a evitar uma situação desta”, disse.

A professora de língua portuguesa e inglês, Silvaneide Mendonça, afirmou que a escola Rosalvo Ribeiro implantou o projeto Vale Sonhar em 2008, com a participação de todas as turmas do Ensino Médio, totalizando 419 alunos. No ano passado, participaram apenas os do 1º ano do Ensino Médio — que estão na faixa etária de interesse do projeto.

De acordo com Helena Vilela, serão premiados com um notebook e um kit de jogos do Projeto Vale Sonhar os dois multiplicadores das CREs e as três escolas que cumpriram todas as etapas, ou seja, oficinas, enquetes e que tenham obtido resultado além do esperado.

“Cumprimos todos os prazos e preenchemos todos os requisitos exigidos. Estamos concorrendo ao primeiro ciclo de professores de Alagoas”, destacou Silvaneide. Antes da realização das oficinas, ela submeteu 139 alunos a uma enquete em que perguntava se os meninos já tinham engravidado alguém e se as meninas já tinham ficado grávidas. “Só um menino disse que havia engravidado uma moça e seis meninas admitiram já ter engravidado. Depois do projeto, não houve mais registro de gravidez na nossa escola”, reforçou, com entusismo, a professora Silvaneide Araújo.

Segundo ela, o projeto Vale Sonhar é uma proposta permamente que contribui para a mudança de mentalidade e cultura de que a mulher deve ser mãe jovem. Este conceito, afirma ela, muitas vezes é herdado das mães com histórico de gravidez na adolescência. “A falta de informação e a noção de que deve engravidar cedo é passada de mãe para filha e isso está mudando com as dinâmicas e trabalhos feito em classe”, disse Silvaneide, destacando que em sua escola participam também os professores de biologia e geografia.

Silvaneide disse que paralelo ao Vale Sonhar, a escola desenvolve o Projeto Ser Jovem, ou seja, discussões, jogos e atividades lúdicas com temáticas sobre drogas, violência, piercing e problemas envolvendo pais e filhos e namorados. Segundo a coordenadora do Projeto em Alagoas, Maria Helena Vilela, as ações do Vale Sonhar farão parte do planejamento de cada escola através da disciplina de Biologia. Além disso, passará a ser uma política da Secretaria de Estado da Educação (SEE) com as turmas do Ensino Médio.
 

por Agência Alagoas

Comentários comentar agora ❯