22 Janeiro 2022 - 17:30

Manto tupinambá: exposição chega à aldeia da Serra do Padeiro, no Sul da Bahia

Reproduçao
Mantos em exposição na aldeia da Serra do Padeiro (Glicéria Tupinambá)

Os mantos tupinambás que fizeram parte da exposição Kwá yapé turusú yuriri assojaba tupinambá | Essa é a grande volta do manto tupinambá, contemplada com prêmio da Funarte, estiveram em exibição na aldeia da Serra do Padeiro, no Território Indígena Tupinambá de Olivença, no Sul da Bahia. Confeccionados por Glicéria Tupinambá, líder indígena, professora, intelectual e artista da aldeia, os mantos foram posicionados para visita da comunidade durante a tradicional festa de São Sebastião. A celebração marca a virada de ano novo, que só ocorre para a aldeia entre 18 e 19 de janeiro.

A mostra foi aberta oficialmente na aldeia na terça-feira, 18 de janeiro, com a presença de alguns dos artistas da exposição, Fernanda Liberti e Livia Melzi, e também de um dos curadores, Augustin de Tugny. Contemplada com o Prêmio Funarte Artes Visuais 2020/2021, Essa é a grande volta do manto tupinambá esteve em cartaz na Galeria Fayga Ostrower, na Funarte Brasília, e depois na Casa da Lenha, em Porto Seguro, no segundo semestre de 2021.

Glicéria Tupinambá, nascida e criada no território Tupinambá, em conversa com a Funarte, fala sobre a presença dos mantos na aldeia neste momento: “A gente montou as peças, fazendo do jeito da comunidade. Cada lugar que recebeu a exposição teve o seu jeito, sua geografia. Aqui na aldeia também está sendo incrível, e aí parece que também está mais alegre. As pessoas da comunidade ficaram muito felizes de saber e de conhecer o próprio projeto, o próprio trabalho e aí se ver no processo, nas fotos, entender o percurso todo daquele manto, dessa pesquisa e como envolve outras pessoas também”.

Obras como as seis fotografias de Livia Melzi com os mantos tupinambás retirados do Brasil; o poema De Volta ao Sol, de Edimilson de Almeida Pereira (na imagem ao lado); e também os desenhos da série retorno do manto tupinambá, de Gustavo Caboco (na imagem acima, junto com os mantos), foram exibidas na mostra da aldeia.

De acordo com Glicéria, os Encantados (entidades que guiam o povo tupinambá e se manifestam por meio de sonhos e outras visões) chegam de madrugada, no dia 19, pelo Pajé, e contam como vai ser o ano, abordando temas como saúde e clima, em uma tradição milenar. A festa é iniciada no dia 17 e vai até o dia 20 de janeiro, Dia de São Sebastião. “Durante o ano inteiro acontece o plantio, a colheita, e a gente agradece aos Encantados por isso, pela saúde. É uma festa nossa, da comunidade mesmo”, completa.

Os mantos tupinambás são objetos sagrados de uso cerimonial (acompanhe as próximas matérias desta série para entender mais sobre o manto e a presença dele em museus europeus e no Brasil). Eles foram e são confeccionados em um longo processo que envolve saberes múltiplos e a vivência da comunidade com a espiritualidade.

Os mantos feitos por Glicéria Tupinambá são considerados como parte de um movimento de retomada da produção do objeto sagrado, até pouco tempo com presença conhecida apenas em acervos etnográficos europeus — onze mantos tupinambás produzidos nos séculos XVI e XVII, com registros incertos sobre a transferência deles, integram coleções na Europa.

Em 2006, Glicéria confeccionou um primeiro manto, que passou a integrar o acervo do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, por autorização dos Encantados. O manto sobreviveu ao incêndio que atingiu a instituição porque estava em uma exposição em Brasília. Recentemente, Glicéria confeccionou outros três mantos, que fizeram parte da exposição Essa é a grande volta do manto tupinambá.

Sobre a exposição "Essa é a grande volta do manto tupinambá"

A exposição Kwá yapé turusú yuriri assojaba tupinambá | Essa é a grande volta do manto tupinambá contou com obras dos artistas Edimilson de Almeida Pereira, Fernanda Liberti, Glicéria Tupinambá, Gustavo Caboco, Livia Melzi, Rogério Sganzerla e Sophia Pinheiro. A curadoria foi assinada por Augustin de Tugny, Glicéria Tupinambá, Juliana Caffé e Juliana Gontijo.

O trabalho integrou o projeto Os artistas viajantes europeus e o caso dos mantos tupinambás nas cidades do Rio de Janeiro e Porto Seguro, contemplado com o prêmio da Funarte. De acordo com os realizadores, a história dos mantos tupinambás ajuda a refletir sobre as relações dessa população, o processo de dominação colonial e a resistência.

Além das obras que compõem a exposição — como fotografias, poemas, desenhos e mantos confeccionados por Glicéria Tupinambá —, a mostra trouxe um catálogo de imagens e textos, que acompanha a história do objeto sagrado (confira a edição on-line do catálogo aqui). O nheengatu, língua derivada do tupi antigo, foi escolhido como idioma principal da exposição. 

por Funarte

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