Olhar do Turismo – Por Fabrício Vasconcelos

Olhar do Turismo – Por Fabrício Vasconcelos

Um convite ao lazer, cultura e informação

Postado em 12/09/2017 09:00

A Raiz do Oiteiro e sua trajetória

Arquivo pessoal
A Raiz do Oiteiro e sua trajetória
Bairro Senhor do Bonfim - Oiteiro

Enedina Vieira da Silva e Cleide Mônica Alves são as mulheres com referências brilhantes em relação ao bairro Senhor do Bonfim, o Oiteiro. Estas mulheres me receberam em suas residências para uma prosa leve e relevante sobre a história do seu bairro. Aquele bairro que recebeu o apelido de “Oiteiro” por se encontrar num ponto alto da região próxima ao centro do Penedo-AL.

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Bairro Senhor do Bonfim - Oiteiro

De significativa importância quilombola, este bairro ainda não tinha recebido uma descrição mais detalhada sobre sua origem, de forma a tornar público informações conhecidas apenas por poucos moradores. Até que o blog Olhar do Turismo resolveu dar algumas voltas pela região, “curiando” coisas que não são alheias à história do nosso município e têm importância para todos.

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Praça do Oiteiro

Há quem diga que o Oiteiro é o segundo bairro mais importante do Penedo, e disso não tenho dúvida. Até porque, era lá que os escravos encontravam refúgio quando sofriam maus-tratos por parte de seus “senhores”. Era o lugar onde os quilombolas cultivavam arroz e levavam os pescados do rio São Francisco. Naqueles tempos era comum entrar na dança e se embalar com os ritmos do batuque que alegravam suas vidas, fazendo-os esquecer do sofrimento desnecessário de uma cultura violenta.

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Vista do Cristo - Oiteiro

Como a vegetação era alta e o local isolado, ficava fácil camuflar suas casas de barro e poder desenvolver uma comunidade que veio a gerar muitos descendentes ao longo dos anos. Informação essa que, aparentemente, não trouxe muito orgulho para as pessoas que se envergonham de suas origens. Como não se orgulhar de ser origem de um povo que lutou muito pela sua dignidade? Interessante mesmo é não ser racista.

 Arquivo pessoal 

Clube do Ferro, salão utiizado para reunião de jogares e pequenos eventos da comunidade

E com o passar dos anos a história só aumentou e nos deixou uma herança cultural e histórica. Agora o Oiteiro conta com a destacada estátua do Cristo, construída na década de 80 e abençoada por Frei Damião. O que para alguns a estátua está de costas para o bairro, na verdade o sentido é que o Cristo está de braços abertos para receber quem visita esta comunidade. A lógica pode ir além; somente pelo fato do Cristo estar instalado naquela região, isso já é um prestígio.

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Localização do Cristo no Oiteiro

Dona Enedina Vieira da Silva é conhecida no bairro como dona Necíla. Ela tem 86 anos de idade e participou da construção da igreja Senhor do Bonfim. A mesma me contou que uma paixão avassaladora pela fé, foi o motivo pelo qual os moradores se reuniram para construir a igreja às custas do suor que pingava desde as caminhadas em busca de contribuições ao transporte de materiais carregados por homens e mulheres.

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Igreja Senhor do Bonfim - Oiteiro

Conta-se que a antiga capela localizava-se naquele espaço entre as casas

Os trabalhos começavam no sábado à noite e terminavam no domingo, pois, de segunda à sábado as pessoas trabalhavam para a subsistência da família e, por este motivo, foram necessários 4 anos para que a construção da igreja fosse concluída. Daí, as missas deixaram de acontecer na pequena capela do Senhor do Bonfim que abrigava apenas 30 pessoas. Com isso, podemos observar que tratou-se de uma mobilização social em prol da fé, coisa muito difícil de se ver hoje em dia. Até parece que, de uns tempos para cá, a fé mudou (e os valores também).

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Dona Necíla mostrando uma de suas antigas moedas

A dona Necíla trabalhou como tecelã durante quarenta anos na fábrica Peixoto Gonçalves, localizada no município de Neópolis (SE) e mais cinco anos na fábrica Penedense, localizada no Barro Vermelho, aqui no Penedo (também como tecelã). Ela contou que os tempos eram difíceis, lembrando que, como naquela época não existia água encanada e nem luz elétrica, era necessário buscar água de uma fonte que fica na parte baixa do bairro.

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Dona Necíla mostrando seu álbum de fotos onde participou das manifestações folclóricas do Penedo

Quando perguntei sobre o lazer das pessoas naquele tempo, dona Necíla contou que dançou muito “quilombo”, segundo ela, as danças eram de “nego nagô” e “d’angola”, embaladas por uma batucada, e que havia um chafariz onde se pagava um tostão (moeda da época) para tomar banho. Lembrou que ela é a única pessoa viva que ajudou na construção da Igreja Senhor do Bomfin, algo que me faz pensar que ela merece uma placa em sua homenagem dentro (ou fora) da igreja.

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A fonte de onde era retirada a água, está na parte onde se vê vegetação

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Esta é a água que vem da fonte e deságua no rio São Francisco

Já a dona Cleide é a responsável por tornar o bairro do Oiteiro reconhecido como comunidade quilombola, pois a mesma, com recursos próprios, lidou com os processos burocráticos e conseguiu atingir o que almejava no ano de 2006, contribuindo de uma forma bastante significativa para a vida das pessoas que hoje usufruem dos benefícios oriundos do governo.

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Estátua fazendo alusão a uma quilombola transportando água da fonte

Dona Cleide contou que já foi presidente do bairro e que é descendente de quilombola, daí vem a motivação em trabalhar a favor da cultura local. Além de saber e valorizar suas origens, dona Cleide disse que no bairro existia a única escola rural do município chamada Escola Professor Leônidas Sousa, era lá que, tempos atrás, uma pessoa com conhecimento de primário já poderia dar aula como professora e assim alfabetizar as crianças. Infelizmente o prédio da escola encontra-se em ruínas, mas acredito que muitos dos que passaram por lá conseguem se lembrar das coisas que vivenciaram.

 Arquivo pessoal

 Ruína da Escola Professor Leônidas Sousa

  As mulheres que foram mencionadas aqui têm a cultura quilombola enraizada em suas memórias de um jeito peculiar e inspirador. Espera-se que no Oiteiro sejam criadas ações para nos apresentar suas manifestações quilombolas. 

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Comentários comentar agora ❯

  • Renata Que danadinho! Agora pode-se dizer que o Oiteiro tem história. Parabéns Fabrício!!! Brilhante ????????????????????????
  • Fabrício kkkk.... obrigado, RENATA. E olha que o Oiteiro ainda atem muito mais coisas para mostrar. Um abraço!
  • Inês Marinho Peixoto Fabrício você esta de parabéns em levantar mais uma vez a alta estima dos moradores dos bairros,contando a história esquecidas aos mesmos,continue assim,monstrando que Penedo tem muitas histórias e um grande potencial turístico.
  • Fabrício Olá, INÊS MARINHO PEIXOTO! Pode ter certeza que vem muito mais por aí... Obrigado pelo comentário. Abraço!
  • Rafa Gaan Parabéns Fabrício. Conte a história das ruínas do cuscuz
  • Simone Lourenço Parabéns mais uma vez pela iniciativa de nos mostrar que nosso Penedo tem muito mais do que os olhos podem ver.
  • Denilsom Parabéns pela reportagem, alto estima sempre.
  • Fabrício RAFA GAAN, obrigado pela sugestão. Gostei! No momento eu não prometo a da que será publicada sobre o assunto, mas irei pesquisar. Obrigado pelo comentário! Abraço!
  • Fabrício Muito obrigado pela leitura e pelo comentário, SIMONE LOURENÇO. Continue com a gente. Abraço!
  • Fabrício DENILSOM, brigadão pelo comentário. E é isso aí, fazer as coisas com prazer. Abraço!
  • george vieira costa Muito boa a reportagem,algumas observações; o club era "Cruz de Ferro!, mudou? Gostaria de saber em que data passou a ser "Oiteiro das Quilombadas";pois sou deste bairro e nunca se referia a ele com esse nome;sou sobrinho da Necíla.Busque mais que tem histórias sobre as tradições de uma terra de pessoas que fizeram e muito sobre costumes,tradição e a cultura alagoana.Abraços a todos deste que vive na saudade de suas raízes;bom dia.
  • Fabrício Olá, GEORGE VIEIRA COSTA! Obrigado pela leitura. Acredito que as pessoas chamam de "Clube do ferro" como uma forma de abreviar o que seria "Clube Cruz de Ferro", daí inseri a forma como as pessoas costumam falar. Que bom que o sobrinho acompanhou a publicação, dona Necíla é uma pessoa incrível. Sobre a data eu ainda não sei dizer, seria necessário um estudo aprofundado e, certamente, encontraria muito mais informações. Mais uma vez agradeço por participar e ficarei mais feliz se continuar acompanhando o nosso blog. Grande abraço!
  • Manoel Messias Como morador do "oiteiro" descendente e remanescente quilombola nascido aqui graças a Deus e como muitos pelas mãos de D. Marlene parabéns e obrigado pela matéria pois retrata um pouco da história do nosso bairro más acho que poderia ter sido feito um estudo mais aprofundado com pessoas idosas que conhecem bem a história do "oiteiro" como seu Zuza,Marlene,D.Raimunda,Tonho neguinho,Zé Basílio ( hoje não morando mais no bairro más no vizinho bairro vitória )esses citados aqui nasceram e construíram família no bairro e poderiam falar muito bem de nossa história e não deixar de citar muitas coisas e moradores ilustres como a construção da antiga escola Leônidas Souza,o américa "ambos em ruínas", a rivalidade entre américa e cruz de ferro, a importância do chafariz, das duas bicas, Joelzinho, a banda de pífanos dos folclóricos Dema e Dandô, dentre outras coisas que eu com meu pouco conhecimento não citei, e amigo e conterrâneo George o bairro continua a ser " oiteiro " não mudou de nome a não ser o oficial senhor do bonfim e a sede cresci ouvindo e até hoje a conheço como cruz de ferro. Mais uma vez agradeço e parabenizo Fabrício pela matéria e estimo que continue esse trabalho e quando e também possível poder falar sobre os filhos ilustres de Penedo.
  • George viera costa Bom dia Fabrício, obrigado por sua atenção e a forma educada com o respondeu-me; nasci em 1953 e saí do Oiteiro em 1966.Tenho alguns recibos do tempo em pai que meu pai comprou nossa casa na rua da Trindade,122; isso nos anos 40. Se ti interessar posso mandar pra vc, assim teríamos e trazíamos um pouco de resgate da história do nosso bairro,ok. Se ti interessar responda-me.
  • Gedalva Marinho Ótima Reportagem, Principalmente para aqueles que só fazem criticas sem conhecer parabéns...
  • Fabrício Muito obrigado pelas considerações, MANOEL MESSIAS. É tão bom saber que os moradores se interessam pela história do bairro e se motivam a contar mais e mais sobre as coisas que sabem. Isso é ótimo! Pode ter certeza que em próximas oportunidades entrarei em contato para buscar mais informações. Grande abraço!
  • Fabrício Oi, GEORGE VIERA COSTA. Se tem uma coisa que eu gosto é de interagir. É dessa forma que a gente fica sabendo o teor das publicações. Tenho interesse em ver os recibos numa próxima oportunidade e entrarei em contato para saber mais. Também te agradeço pela atenção. Abraço!
  • Fabrício GEDALVA MARINHO, muito obrigado pela leitura. O "Oiteiro" tem muita importância para Penedo. Um abraço!
  • central moto peças Gosto muito das suas reportagem ela mostra as verdadeiras belezas de penedo que poucas pessoas conhecem. e as que conhecem não dão o valor que ela merece. aguardo com ansiedade novas reportagens. parabéns pelo trabalho
  • Fabrício CENTRAL MOTO PEÇAS, muito obrigado pelo comentário. É grande a satisfação em saber que o nosso trabalho está dando certo e que os leitores gostam. Grande abraço!
  • Wcleuton Nasci e me criei no Oiteiro. Sou Mestre em Nutrição Humana pela UFAL e minha dissertação foi sobre os povos quilombolas de Alagoas. Meu Pai, Raimundo Silva ou Raimundo do Leite, é mais um dos citados pelo Messias, que são uma enciclopédia do Bairro. Parabéns pela matéria. Vou realizar pesquisas lá.
  • ALEXANDRE SANDRO Saudades desse bairro onde me criei e deixei aí parentes e alguns bons amigos. Parabéns a matéria, bom relembrar nossas origens de formação. Uma pena a rua principal e a ladeira do Cristo não serem mais de paralelepípedo, como no meu tempo de infância, acho que fazia parte da história do bairro.
  • Douglas Felipe Nogueira Rocha Excelente reportagem ! Desfrutar de saberes sobre uma comunidade histórica não tem preço. Parabenizo por todo o contexto apresentado, e que de maneira rica e suscinta apresentou o enredo daqueles que fazem do Quilombo do Oiteiro um marco do ontem, hoje e sempre.