Ainda, sobre o novo Fórum
O novo Fórum de Penedo deverá ser construído no aterro da Lagoa do Oiteiro. Pelo menos é o que acena o oportuno silêncio sobre a polêmica que se instalou quando, recentemente, no Programa Lance Livre, foi anunciado pelo superintendente do IPHAN em Alagoas, o arquiteto penedense Mário Aloíso Melo.
Segundo fontes da justiça alagoana, a presidente do TJ, desembargadora Elizabeth Carvalho Nascimento, ex-juíza e cidadã penedense, está empolgadíssima com o projeto.
É claro que Penedo, há muito, carece de um prédio decente para abrigar o Poder Judiciário. É claro que a cidade merece uma obra da arquitetura moderna que faça jus à importância do passado e à sua perspectiva de futuro, mas, daí a utilizarmos esses argumentos para apenas ardentemente desejar que uma obra dessa natureza seja erguida em nossa cidade há uma distância que, no mínimo, exige bom senso.
É possível que vários comentários sejam postados neste blog fazendo referência à minha indigência neste assunto, entretanto, o fato de ser penedense de coração, militância e resistência dá-me o direito de expor considerações que, como cidadã, tenho o direito de expressar.
O Sítio Histórico de Penedo tem um destino: contar e encantar a todos que o visitam. Contar a história de uma cidade que nasceu sobre um rochedo debruçado sobre o Rio São Francisco. Uma cidade que se espelha em suas águas ora límpidas, unindo terra e gente, ora barrentas, próxima dos pobres, chorando as mágoas pelo peixe escasseado.
Encantar, pela beleza de suas lendas, nascidas entre as paredes seculares de uma arquitetura que representa um período da história do Brasil e da humanidade e cuja tradição está representada na metade do Brasão de Armas do Estado de Alagoas. Este é o “Berço da Civilização Alagoana”, como disse Medeiros Neto.
O destino do Sítio Histórico de Penedo, como em todas as outras cidades do Brasil e do mundo, é preservar a história para as futuras gerações.
Mas o tempo é inexorável. O mundo está globalizado. A modernidade exige que a sociedade, através de seus vários setores, tomem novos rumos. Os rumos do progresso.
O aumento populacional e o crescimento urbano acelerado implicam em uma série de demandas que precisam ser atendidas. Se a população aumenta, aumentam as necessidades. Se o espaço físico territorial aumenta, aumentam os problemas a serem solucionados.
Para atender a essas necessidades, crescem as perspectivas de empreendimentos.
O comércio, cujo fomento vem sendo utilizado como argumento para a construção do Fórum, Ministério Público e INSS no aterro da Lagoa do Oiteiro, já deu mostras de que entendeu o recado. Desenvolveu-se o mais que pode no espaço que lhe foi destinado pelas características urbanas do Centro Histórico e expandiu-se para a parte alta da cidade. Hoje, é notório o seu franco desenvolvimento com a construção de grandes lojas e a instalação de novas empresas.
Com o deslocamento da população, fez-se necessária a criação de novos bairros, novos loteamentos, novos logradouros e, consequentemente, a ampliação de serviços públicos, a discussão de novas políticas públicas, a criação e execução de um Plano Diretor e tudo o que implica na perspectiva de crescimento e desenvolvimento de uma cidade.
Por que então a construção de uma obra tão importante para Penedo não acompanha esse raciocínio lógico?
Por que construir ali o Fórum de Penedo, a sede do Ministério Público e o prédio do INSS, quando as necessidades naquela área, pela avaliação e análise das carências da cidade e da localidade são da construção de um grande Mercado de Carne, um Mercado de Peixe, uma Estação Rodoviária decente e a ampliação da tradicional Feira de Penedo que não pode (Plano Diretor) e não deve ser mudada ou transferida, mas revitalizada?
Se há recursos disponíveis por parte do município ou do estado (o que para mim é novidade!), então eles deveriam ser utilizados para ampliar possibilidades.
Se há dinheiro, construam os mercados, um lago com pedalinhos, um parque para as crianças. Sim, a comunidade merece e precisa, como precisa que a Escola Estadual Leônidas Souza, seja reconstruída no local onde restam apenas os escombros ou em outro local.
Já que a construção em uma das saídas da cidade, AL110 ou AL-101 SUL não agrada a alguns, por que não discutir a possibilidade de negociar com a Santa Casa de Misericórdia o prédio da Avenida Getúlio Vargas?
A justiça não quer construir um Memorial? Então discuta a possibilidade de ajudar à Santa Casa atendendo às recomendações dos técnicos da saúde: aquele prédio não está dentro das especificações da OMS e do Ministério da Saúde e unificar a Maternidade ao Hospital Regional seria uma solução extraordinária para essa instituição que presta serviço e salva vidas há duzentos anos!
O Museu do Louvre não construiu a sua Pirâmide de Vidro? Preservem o fantástico prédio da Santa Casa transformando-o no Memorial da Justiça e, no terreno atrás, construam sua Torre de Vidro.
Discutam outras possibilidades, mas não permitam que a falta de diálogo, ao invés de uma solução, promova a perpetuação de uma prática que coloca o povo à margem das decisões e dos benefícios que, do poder, dependendo das decisões tomadas, podem advir.
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