Martha Martyres

Martha Martyres

Radialista, diretora da rádio Penedo FM, âncora do jornalismo no Programa Lance Livre

Postado em 13/03/2012 17:14

A alma do Mercado x o fantasma da ilicitação

Cresci em tono do Mercado Público de Penedo e do Pavilhão da Farinha. Aos oito anos, quando saímos do Sítio Araçá e passamos a morar em Penedo, na Travessa Professor Henrique Thomaz, número dois, minhas tardes de quarta a sábado eram vividas no entorno do Mercado, na feira livre, onde limpava e arrumava verduras nas bancas de “Seu” Otacílio, o Oxis, de dona Maria, “Seu” Virgílio e dona Virgínia.  Pela manhã eu frequentava as aulas no Grupo Escolar Gabino Besouro e a partir das quartas-feiras, quando começavam a chegar os caminhões com as cargas de Itabaiana, em Sergipe, eu começava meu trabalho de lavar cenouras, batatas, chuchus, tomates, limpar cebolas, tudo para deixar as bancas arrumadas e atrativas para os consumidores. Era assim que ganhava um dinheirinho de muita serventia para ajudar minha mãe e também verduras e frutas.

Do dinheiro que ganhava, uma parte era entregue à minha mãe para ajudar nas despesas da casa e outra parte era para alugar bicicleta na oficina do Edivaldo e comer creme no “Seu” Oscar.

Junto com meus amigos de infância, que também moravam nas redondezas, percorríamos aquele entorno na seriedade de fazer os mandados que nossas mães determinavam, mas também nos divertíamos nas inúmeras brincadeiras que tinham o Mercado e o Pavilhão como cenários.

Ainda sinto o sabor da manteiga do sertão vendida na bodega do “Seu” Cândido se desmanchando no bolachão da Padaria Primor. Ainda ouço o toc-toc dos tamancos de madeira comprados no barracão do Mané Rosendo e aspiro o cheiro das brilhantinas coloridas expostas no Pavilhão.

Se soubesse desenhar, seria capaz de colocar no papel aquela expressão ranzinza de “Seu” Aprício ou a magreza quixotesca de “Seu” Mangabeira. O bom humor de dona Mirthes, a elegância de “Seu” Juvêncio Lisboa. “Seu” Barreto, sempre antenado com a política, ficava horas conversando com Luis Fausto.

São tantos nomes e rostos que ficaram na lembrança. Alguns que já se foram e outros que aqui continuam em sua lida diária para sobreviver e que ainda hoje resistem no comércio de Penedo.

Comecei a trabalhar “de carteira assinada”, aos treze anos (naquela época era permitido), na Casa Almeida, com dona Cândida. Foi ali, no Mercado Público, onde iniciei oficialmente minha vida profissional como balconista. Entre linhas, grinaldas e entremeios,  aprendi muitas coisas que carrego pela vida afora.

Por isso a minha ligação com a feira, com as pessoas do Pavilhão da Farinha e do Mercado Público de Penedo. Eu vivi ali, eu cresci entre aquelas paredes e conheci todas aquelas e essas pessoas.

Gente, pequenos comerciantes, balconistas como eu fui, que hoje vivem dramas pessoais, familiares e financeiros causados não pelas leis existentes, reconheço, mas pela administração e execução dessas leis.

Hoje, quando constato que a política e a lei que deveriam promover o que entendemos por justiça e bem estar, muitas vezes podem se transformar em agentes causadores de grandes injustiças e atrocidades, minhas  lembranças e meu coração falam mais alto do que minha missão de noticiar os fatos.

O uso de bens públicos tem regras expressas em leis que são administradas e executadas por políticos, avaliadas e aplicadas por operadores do Direito. Se essas regras fossem observadas com responsabilidade, coerência, senso de justiça, imparcialidade, retidão e lisura, certamente não provocariam tanta angústia e desalento.

Mas infelizmente não é assim. Principalmente porque é ano eleitoral. Logo teremos os resultados mais convenientes e o barulho dos fogos de artifício das inaugurações vão sufocar os soluços dos injustamente derrotados.
 

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  • carmen cristina de almeida mota parabéns mulher guerreira,pelo seu trabalho na nossa cidade querida embora não esteja morando mais ai ,mais sou filha desta terra e vejo todos os dias,aqui acontece sou tua fã.bj
  • Marcos Vc lembrou bem dessas pessoas que quando não estou mais aqui, deixaram seus familiares. é uma vergonha que isso esteja acontecendo. tem muita gente desesperado porque sua vida está destruida. quero ver na hora de fazer festa. antes da eleição vai ter muita inauguração e vão festejar o que?
  • Ramilton Ti admiro muito Marta,quero que Deus sempre ti ilumine e ti der muita saúde sempre.
  • José Cristóvão Santos Só agora vi esta linda matéria, PARABÉNS, Martha, também vivi essa história em nossa Penedo, sempre leio suas matérias no blog e gosto do seu jeito de expressar, são lembranças que guardamos para sempre, desejamos muito sucesso e não se curve diante de comentários com intúito inibidores. Fique com
  • Ysis Você escreve muito bem, suas reflexões são bem coerentes. Gosto bastante de lê-las. Abraço
  • Iran Martha, só você pra me fazer essa viagem no tempo, que m a r a v i l h a! Amei, chorei, sorri, gargalhei, mas, as lembranças foram profundas, nossa, recordar as vezes que fui no creme do Seu Oscar,simplesmente divino, o bolachão da Padaria Primor, hummm, perfeito, Seu Mangabeira, valeu.beijo grande.
  • Antonia Maria Bezerra Gonçalves Parabéns colega, seu texto me fez voltar ao passado e relembrar de toda riqueza da nossa terra, desse povo tão hospitaleiro.Devo dizer que sinto orgulho de ter conhecido e compartilhado com pessoas inteligentes e cultas como você.Mesmo distante sinto muita saudade e não esqueço da minha gente.
  • Vanilson Antunes Silva Bom dia, Martha. Lendo esta tua matéria linda e q me traz varias lembranças da época em q meu pai me levava cedinho para tomar um café no pavilhão. Estive em Penedo na Festa de B. Jesus este ano e sentir nojo do que vir. O abandono é visível, é triste. Lembro muito do seu pai e do sitio ARARAS.
  • Vanilson Antunes Silva aonde ia pra La pegar manga, jaca e outras frutas que tinha n? aquele belo Sitio. Seu pai era muito amigo de meu avô. Só lembranças maravilhosas. Sou seu fã nº 1 e seu pai gostava muito de mim... O Srº josé Vécio como nós o chamavamos. Lembro d' ele com seus cabelos branquinhos ou entalhando.
  • anderson quero saber quando vai sair o retroativo do professor municipal!
  • Jorilton Santos Lima Não é comentário, é um pedido SOS. Desempregado há mais de um ano, fui até a Prefeitura saber se tinha impressora a laser para imprimir apostila para estudar para o concurso BNDES. Fui informado que nem papel tinha, quanto mais a impressora. Não tenho recurso pra pagar essa impressão. Ajude-me!
  • Ednaldo Gostei das lembranças, faltou falar naquelas pessoas que vendiam na porta do pavilhão, o famoso pé de moleque, macazada, sarôlho, beijú etc..., nas comidas de D. Tininha, no arroz doce e mungunzá de uma senhora que vendia no pavilhão e esquecí seu nome, "seu" Candido, era meu bisavô, e Edson meu tio