Martha Martyres

Martha Martyres

Radialista, diretora da rádio Penedo FM, âncora do jornalismo no Programa Lance Livre

Postado em 19/11/2009 17:03

Consciência Negra, Penedo e o Quilombo dos Palmares

Ilustração
Consciência Negra, Penedo e o Quilombo dos Palmares

Os movimentos negros, organizações diversas, a sociedade e o estado brasileiro desenvolvem inúmeras ações no dia 20 de novembro Dia da Consciência Negra, como forma de resgatar a memória de Zumbi, símbolo maior de luta da notável raça pela liberdade.

Zumbi é um dos heróis desse país tão carente de referências e exemplos, que foi, finalmente!, reconhecido e reverenciado pela sua luta em prol da vida e da liberdade, bens supremos do ser humano.

A histórica cidade de Penedo tem uma página marcante na história de Alagoas que é parte da história do Brasil.

Moreno Brandão, em sua MONOGRAFIA DO MUNICÍPIO DE PENEDO, publicada em 1936, faz referência a esse movimento dos QUILOMBOS. Com a invasão holandesa em Penedo, muitos negros fugiram e iam formando Quilombos em sua rota de fuga.

O Oiteiro, hoje chamado de Bairro Senhor do Bonfim por obra da Câmara Municipal, onde havia o conhecido Engenho do Saco do Damaso, foi um reduto de negros. Convém, ainda hoje, observar que a população negra do Oiteiro é de maior incidência em relação à raça branca. Recentemente, um estudo elaborado pela Petrobrás, em virtude da construção do Gasoduto Carmópolis-Pilar, reconhece o bairro como “Comunidade Quilombola” e destina recursos para ações nas áreas de saúde, educação e lazer, como forma de compensação em cumprimento ao que determina o EIA-RIMA ( Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental).

Os negros da região sanfranciscana, em especial os negros fugidos do Penedo, fortaleceram a população rebelde na Serra da Barriga, onde existiu o mais famoso quilombo do Brasil: o Quilombo dos Palmares.

Penedo, que começou no Barro Vermelho, hoje Bairro Santo Antonio, tem ainda a fantástica história dos Malês, os negros mulçumanos que liam e interpretavam o Alcorão. Embora escravos, os Malês consideravam-se superiores aos seus senhores porque sabiam ler e escrever e não se misturavam aos brancos. Uma pesquisa extraordinária sobre os Malês vem sendo realizada pela escritora e pesquisadora Cristina Sanchez, mesmo sem o apoio governamental.

Dessas constatações, concluímos que a cidade do Penedo precisa investir em pesquisa histórica. Somente assim, trazendo à tona pela luz da ciência os fatos mais marcantes de sua participação na história do Brasil, poderemos preparar Penedo para o desenvolvimento do turismo cultural, uma das mais promissoras vertentes do progresso da cidade.

Além disso, cabe lembrar que a importância de Penedo nesses episódios, não se resume apenas aos feitos heróicos, à diversidade das raças e civilizações, mas ao valor cívico e à filosofia daqueles que lutaram e proclamaram primeiramente a LIBERDADE.

Os Quilombos não foram apenas redutos de resistência. Havia um projeto de cidadania, uma sociedade organizada com famílias, vida econômica e social, visão estratégica de defesa, proteção das minorias. Um verdadeiro projeto de cidadania que hoje pode servir de referência e de exemplo para muitas comunidades e muitos governantes.

Penedo tem uma história que os penedenses precisam conhecer e  escrever, porque Penedo tem que estar acima de tudo!

 

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