Alexandre Cedrim

Alexandre Cedrim

Administrador de Empresas e Consultor Organizacional

Postado em 13/12/2023 08:40

Os filhos da lua – uma estória histórica inédita

O autor Claudio Vieira, maceioense nascido na década de 40 do século passado, advogado de profissão e escritor de paixão, publicou em 2009 a obra Os Filhos da Lua, uma mistura de romance e narrativa, que tem como assunto principal a “ocorrência” promovida pelos filhos da lua, tendo como local inicial do ato uma concentração na Praça Deodoro da Fonseca, em Maceió, para depois seguir em direção ao palácio do governo na Praça dos Martírios, em um protesto que até hoje ninguém sabe o motivo. Eram quatro hipóteses: desentendimento do Fusco com outros malucos, nova paixão de Miss Paripueira não correspondida, que o Catrevagem iria gritar alto e em bom som todos os seus pecados e a prisão do Garapa por desacato a alguma autoridade após dizer impropérios e palavrões contra as famílias da Praça Bomfim, no Poço e que consequentemente a polícia o recolhera à cadeia da Praça da Independência, estas dúvidas produziram inúmeras outras especulações do real motivo. Coisas de quem tem uma ou várias telhas corridas.

As suposições e fatos expostos pelo autor são das décadas 50/60 e conforme suas palavras algumas ou muitas carentes de comprovações factuais. Quando cada filho da lua ia chegando para participar da grande manifestação, as suas biografias vão sendo detalhadas desde suas infâncias, conflitos familiares, escolas que frequentavam, empregos que alguns tiveram, causas por que optaram para morar na rua, comportamentos que os classificaram como pessoas desequilibradas mentalmente, ou como o narrador afirma que “é difícil determinar as fronteiras entre a sanidade e a loucura do ser humano, pois até hoje persiste a dúvida sobre este marco, principalmente sobre onde termina a genialidade e começa a loucura”.

Com estas descrições, os leitores passam a conhecer os atores principais e coadjuvantes da narrativa romanceada que mistura história e estória, considerando que os filhos da lua e personalidades citadas de fato existiram, mas algumas das ocorrências relatadas caem na afirmação do autor de que continuam dependendo de comprovação.

A obra realizada em um estilo raro de clareza, leveza, cultura e diversão, que descreve as diversas instituições da época de uma maneira que transporta os leitores que residiam em Maceió à época narrada e as suas recordações do tempo suas juventudes, quando conviveram com o Café Central, Bilhar do Comércio, Farmácia Minerva, Cine Arte entre outras, como também personalidades e autoridades marcantes da sua história.

No desenrolar da manifestação, que é uma passeata da Praça Deodoro da Fonseca até o palácio do governo, na Praça dos Martírios, o autor vai expondo minuciosamente as ruas do centro de Maceíó, seus prédios históricos, as diversas empresas de venda de produtos ou serviços e as pessoas conhecidas que frequentavam aqueles lugares; iniciando pela Rua do Livramento, sua igreja, seu pároco e a sua discussão com autoridades sobre a repressão ou não ao movimento. Tudo com uma delicadeza e clareza de escrita que somente encontramos em renomados autores.

Interessante é que todos os filhos da lua com seus nomes ou apelidos também fizeram história naquela época, com o “Seu “ Forte“e seus cães, Catrevagem que não gostava de cochichos, Miss Paripueira com suas diabruras, Garapa, Toré e os demais atores principais.

Lembro-me muito bem das corridas que levei, conjuntamente com amigos da época, do “Seu” Forte, dos gritos do Catrevagem que andavam, quase que diariamente, no bairro de Jaraguá, onde residi e da Miss Paripueira que participou em uma noite de carnaval daquele tempo com o nosso grupo da Praça Raiol.

O Claudio Vieira foi muito feliz ao escrever uma homenagem aos “Os Filhos da Lua”, pois mesmo as pessoas que residiam em outras localidades recordarão de figuras similares as por ele narradas, pois qual a cidade daquela época não tinha seus queridos Filhos da Lua?

Recentemente, infelizmente, o autor deixou de conviver conosco e coincidentemente, na mesma ocasião Miss Paripueira lhe acompanhou. Enquanto lamentamos esta ida, os Filhos da Lua devem ter realizados uma grande recepção para sua chegada com inúmeras traquinagens.
 

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  • Eduardo Regueira Silva Bela história de uma época de dourada.