Isabel Cristina Medeiros de Barros

Isabel Cristina Medeiros de Barros

Clínica Geral com Pós-Graduação em Medicina do Trabalho

Postado em 06/03/2010 00:39

Mulheres & AIDS- porque o gênero feminino?

Nos anos 80, quando o mundo conheceu a AIDS, tinha-se a idéia de uma infecção que só acometia homossexuais, usuários de drogas e prostitutas. Entretanto, hoje a realidade é outra. Observa-se no Brasil e no mundo uma feminilização da infecção pelo vírus HIV, devido a uma trágica combinação de fatores biológicos, econômicos e sociais, cada vez mais as mulheres estão sendo expostas a essa doença, muitas vezes pelos seus próprios maridos. No Brasil, a AIDS é a quarta causa de óbito em mulheres de 10 a 49 anos e a primeira causa como doença infecciosa no mesmo grupo.

Quais são os principais motivos da vulnerabilidade feminina para o HIV-AIDS de acordo com médicos, psicólogos e grupos de apoio a infectados?

• A iniciação sexual feminina precoce no Brasil, que acontece por vários motivos: espontaneamente, pressão social e até por pura violência física.

• A mulher tem dez vezes mais chance de contrair o vírus de um homem infectado do que um homem, de ficar doente, relacionando-se com uma mulher soropositiva.

• O esperma contaminado tem uma concentração de vírus várias vezes maior do que a encontrada na secreção vaginal de uma mulher soropositiva. Além disso, o tempo de permanência do pênis em contato com a secreção vaginal é muito menor do que a da mulher em contato com o esperma.

• Em geral, os homens comandam a relação sexual, usando camisinha quando lhes interessa. Nos depoimentos aos grupos de apoio a portadores do HIV são comuns as histórias de maridos que tomavam como ofensa a sugestão de usar preservativo. É como se a mulher o estivesse acusando de ser infiel.

• Embora não existam estatísticas a respeito, a experiência dos médicos mostra que é grande o número de homens casados, aparentemente insuspeitos, que gostam de uma aventura homossexual de vez em quando. "Eu afirmaria que a maioria dos homens que infectaram suas mulheres foi contaminado numa relação homossexual", declara o infectologista David Uip, de São Paulo.

• Muitos casais param de usar preservativos no momento em que consideram que o relacionamento se tornou sério ou quando passam a morar juntos. "Para eles, o preservativo é como se fosse uma formalidade", explica Dráuzio Varella. "É usado na época em que os parceiros se estão conhecendo, mas depois é abandonado.

• Apesar de a maioria das mulheres brasileiras acima dos 50 anos ter uma vida sexual ativa (Uma pesquisa de comportamento do ministério da saúde revelou que 55,3% da população feminina de 50 a 64 anos é sexualmente ativa), 72% delas não usam preservativo nem durante as relações eventuais. Uma das consequências é que a incidência de casos de AIDS nesta faixa etária triplicou entre 1996 e 2006.


Em sessão especial sobre HIV-AIDS das nações unidas, realizada em N. York em junho de 2006, foi reconhecido que a epidemia de AIDS no mundo hoje tem um perfil heterossexual e sua incidência é muito mais acelerada entre as mulheres, por isso este fenômeno ganhou o nome de feminilização da AIDS, e a ONU aponta a desigualdade de gênero e todas as formas de violência contra as mulheres como fatores determinantes para o crescimento da AIDS entre as mulheres.

Quem são as mulheres que pegam AIDS?

• 76% são mães

• 71% são contaminadas por maridos ou namorados fixos

• 59% descobrem que estão com o vírus depois que o marido adoece

• 51% têm até o 1º grau completo

• 41% têm entre 25 e 35 anos e 40% trabalham

O que fazer para prevenir o avanço do HIV entre as mulheres?

A prevenção eficaz só é conseguida através de acesso a informações, arma única para evitar que mais e mais casos se somem às tristes estatísticas brasileiras e mundiais.

Campanhas e programas voltados para saúde da mulher devem conscientizar a sociedade como um todo e não apenas o gênero feminino.

“Sem que haja uma transformação das relações desiguais de poder de gênero que existem em toda sociedade, as mulheres do mundo inteiro continuarão a ser alvos preferenciais da própria segurança. Sem corrigirmos a injustiça sócio-econômica que existe tanto dentro das nações quanto entre o mundo desenvolvido e em desenvolvimento, os pobres (tanto do norte como do sul) continuarão a sofrer o maior impacto de uma epidemia que já se tornou íntima da pobreza e da miséria”. (Parker, 2000)
 

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  • Ninguém comenta Porque ninguém comenta um artigo como este, tão bem feito, rico em detalhes e informações uteis não somente a classe feminina mais a toda sociedade no geral. Será que Penedo também fica encabulada em descutir isto, certamente será julgar o caso depois de feito.