Isabel Fernandes

Isabel Fernandes

Bibliotecária Especialista e Contadora de Historias

Postado em 24/08/2011 16:28

A flor amarela quase sem perfume

Oito anos de idade era o que ele tinha, embora aparentasse ter seis. Chamava-se João Cabral, como o poeta João Cabral de Melo Neto. Era também nordestino, como Severino de “Morte e Vida Severina".

Ele chegou primeiro calmo, tranquilo e educado. Sua irmã mais nova veio depois. Chamava-se Ruth Cabral. Era magra, de cabelos negros, lisos, compridos e rosto redondo. Tímida, mal falava. Quando perguntada sobre alguma coisa, respondia com um sorriso sem graça e não conseguia pronunciar sequer uma palavra.

As outras crianças riam dos dois.

Quando nossos encontros semanais terminavam, os dois sempre me acompanhavam durante o percurso até a casa. Prestativos e solícitos, auxiliavam-me sempre a transportar os vários apetrechos que carregava.

Durante uma linda manhã ensolarada, em que o céu parecia estar pintado com mil tons azuis, quando retornávamos da escola para casa, ao atravessarmos a rua, deparamo-nos com uma espécie de vegetação rasteira, onde várias flores amarelas -- cuja denominação, científica ou não, desconheço -- teimavam em adornar o caminho dos transeuntes que por ali passavam, perdidos em seus mundos interiores.

Algo chamou a atenção de Ruth, ao observar as flores amarelas.

Então, ela abaixou-se delicadamente e colheu uma única flor. Como estava acostumada a ter tão pouco da vida, aquela única flor silvestre, quase sem perfume, significava muito para ela: um magnífico tesouro.

Seus pequeninos olhos negros brilharam e com um sorriso meio sem jeito, presenteou-me com a flor amarela, quase sem perfume, cujo nome não sei. Mas, emoções várias invadiram-me o coração e, naquele momento, a flor tornou-se para mim a mais perfumada de todas as flores.

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  • Mira Texto emocionante, valoriza as pequenas coisas e pequenos atos.
  • Alexandre Tancredo Pereira Ribeiro Parabéns, Isabel; é um pequeno conto poético desopilante por tão envolvente que é... Quando lemos uma linha, ficamos apreensivos para saber o que está escrito na próxima.
  • Luâni Macário Isabel, Várias flores amarelas ainda serão ofertadas para você, parabéns.
  • Maria Núbia de Oliveira Parabéns, Isabel pelo seu suave texto, o qual acalma a nossa alma, suaviza as nossas preocupações. A flor nunca deixará de ser o símbolo mais forte do amor, da amizade e da gratidão. Parabéns! Núbia.
  • Isabel Fernandes Agradeço a todos que carinhosamente teceram comentários a respeito do meu conto.