Quando se fecham as cortinas da cena e do ato
As minúsculas lâmpadas postas para simbolizar a chegada do natal e conseqüentemente o fim de ano já foram apagadas, e para alguns vão sem nenhum saudosismo; e a razão é bem simples: Dar adeus ao Papai Noel que já desossou todos os perus e agora já pode ir, (aguardemos o próximo natal, mais gordo e sem dietas). Daí põe-se os gorros do bom velhinho no baú e deste mesmo móvel tiram-se as plumas, as purpurinas e os paetês, abrem-se todas as alas, pois é chegada a hora do carnaval onde os pedidos, já feitos, agora são intencionados às trocas, pois quase todos não vieram a contento.
E do mesmo modo, há exatos quatro dias para o final do ano que foi contemplado por flores e chuvas, trevas e alvoradas mais que vorazes, foram fechadas as cortinas do teatro local numa noite que tinha como dona da casa uma certa “Maria Feia”. O Theatro Sete de Setembro esteve durante o ano de 2009 ativamente disposto à classe artística local, reafirmando sua função de casa de espetáculos intimamente ligada às máscaras, e com este fim, foi o sólio de teste para artistas e arteiros, iniciantes e iniciados da arte cênica alagoana, ponto positivo, pois isto ocorreu paralelamente aos emaranhados problemas que persistem em atravessar os tempos, dando como seus morcegos centenários, vôos rasantes sobre cabeças nem sempre compromissadas. E ainda que estes “PO-BRE-MAS” tenham sido aclarados durante o último ano, mesmo assim o Theatro sobreviveu, e tal, “vida eterna ao deus Baco”!
O Theatro que em 2009 chegou aos 125 anos (em 2010 o Theatro Deodoro de Maceió chegará aos 100 anos), vem a cada novo ano sofrendo mudanças administrativas onde raras são às vezes em que isto se dá para melhor. Foi logo no primeiro semestre que a casa recebeu a direção artística da atriz Cláudia Helena Tavares, que assumiu no Theatro o compromisso de desenvolver projetos homogeneamente consistentes a favor da classe e da comunidade, isto somado a difícil tarefa de solucionar velhos perrengues que emperram a produção dos artistas cênicos; vale lembrar que estes atravessam não somente os anos, mais as gestões, as administrações e as mentes delicadamente alopradas, sejam elas dos dirigentes e dos dirigidos, coisas a serem revistas e repensadas em outros natais.
Com os direitos previstos aos consumidores de cultura poderiam ser discutidos inúmeros entraves encontrados hoje não somente na estrutura física do Theatro Sete de Setembro como também em sua composição, citemos apenas dois, que por sinal são os maiores:
1. O ar condicionado: Foi através de uma doação da Caixa Econômica Federal no inicio desta década, já não servia à Caixa, deveria então servir ao Theatro? Na ausência de brindes novos. O que de fato acontece é a falta de manutenção, com um agravante: a idade da máquina-dragão; proporcionando o desconforto de quem freqüenta a casa e seus produtos e tudo isto dificulta na permanência do público no teatro por períodos curtos até, e antes disto, compromete diretamente a realização de eventos. Mas nos alegremos, pois já é cogitada a possibilidade de serem instalados refrigeradores mais modernos e com manutenção mais acessível - os chamados “climatizadores split”. Poderia ser uma solução, hoje quem for realizar um evento sempre será interrogado pela administração do theatro que gentilmente lhe perguntará: “O Senhor quer que ligue o ar?”. Coisa grotesca, uma vez que ligado o dragão emitirá roncos que comprometem diretamente realização da sonoplastia, a quem diga o solo experimental “Fragmentos no Vazio” uma das maiores vitimas do bicho feroz.
2. A manutenção e profissionalização da técnica de luz e som do Theatro: Também adquirido por meio de prêmio, a aparelhagem existente hoje no Theatro Sete de Setembro é das melhores existentes no Estado, uma mesa de luz potente e profissional, um sistema de som não menos bacana pode fazer uma graça de peça teatral; pode? Não pode? Poderia se não tivesse os atropelos de luz e som conjugados talvez ao sistema de refrigeração, a falta de recursos para os efeitos de luz, e principalmente a falta de técnicos para operação; problemas que juntos apresentam uma peça politicamente eletiva e incorreta, pois basta mudar o prefeito e lá se vai o técnico, muda o diretor e lá se foi o operador, coisa simples e antipática feita uma Opereta Bufa – e mais uma vez?
São partes de uma gestão cultural que tenta acertar. Sem sombras de dúvidas a diretoria do teatro terá longa jornada a favor do Theatro e repito, da classe artística local, com grandes chances de promover em 2010 velhas-boas idéias não promovidas em 2009, e a primeira delas será manter os valores das pautas cobradas atualmente aos produtores:
· Locais: R$ 200,00 ou 10% da bilheteria · Não locais: R$ 400,00.
Vale lembrar que existe ainda uma participação financeira da Prefeitura Municipal de Penedo, participação maior. E é desta participação que vem a manutenção dos equipamentos e a folha dos funcionários. Mas a maior verdade de tudo isto é que desde os anos 90 o Theatro vem funcionando graças aos esforços dos artistas locais, (em outubro último os artistas de Maceió deram um abraço gigantesco no Theatro Deodoro em razão da parada de sua reforma infindável), vale dizer que aqui em Penedo o abraço ao Theatro Sete de Setembro é diário, é afinal de contas o nosso centro de convenções, que por vezes sedia eventos da grandeza de uma Terra Terta, ou simplesmente reuniões de grupos, convenções, vacinações para gente e para cães e se contentes ficarem fossas mercedes, vale dizer que tudo é muito bem organizado com direito inclusive à água geladíssima. Mas por razão destes é que o Theatro mantêm-se de pé. E por isto devemos aplaudir?
O impulso dado pela Companhia Penedense de Teatro, que completará seus 20 anos de máscaras e sapatilhas de amianto já no próximo março, foi fundamental para o surgimento de novos grupos de teatro; na época, inicio dos anos 90 o teatro era para bruto, o saudosismo deixado por Ernani Mero, as ressacas que davam aos jovens da estirpe de Nine Ribeiro, que por várias razões pode ser considerada uma das melhores atrizes que já subiram no palco do Sete de Setembro, contemporânea de Junior Dantas e de outros poucos precursores da cena local garantiram de algum modo o espelho para o que é feito hoje, e revezando-se em épocas e estilos diferenciados, os 05 grupos existentes, na soma recente de mais um, só reafirmam a vontade e a necessidade de levar o teatro local para além das margens do Rio São Francisco. Falemos então da Companhia de Teatro CENA E ATO.
Com pouco mais de oito meses, o grupo formado nos corredores de um colégio local abandonou os bancos escolares para uma promissora carreira nos tablados. Jéssica Oliveira, Arthur Antunes e Marcelly Alpiano estão hoje sob os auspícios do experiente ator Emmanuel Silva e do comprometido diretor Tiago Henrique França, desta união fez surgir o grupo que em novembro último estreou num Festival de Teatro Estudantil o divertido e regional “O Casamento de Maria Feia”. Mas antes de qualquer coisa é sabido que “quem está na chuva é pra se molhar”, seja em que área for, criticas deverão surgir inclusive para reforçar ações de um trabalho público, feito por pessoas que se tornam públicas por pura convenção e feição.
Dos grupos existentes, somente a Cia. Teatral Artes Ribeirinhas lançou um novo produto em 2009, o espetáculo “Ele Me disse que ela falou” foi revelado na mostra produzida pela própria companhia e parece ter agradado, e na ausência, veteranos da Companhia Penedense de Teatro marcaram presença com seu Festival de Férias no Teatro trazendo velhas cenas interessantes, entre eles o seu também regional “Como nasce um cabra da peste”, desbancando a possível covardia do “Jeremias, O Herói”, do Núcleo de Pesquisa Teatral entre outros trabalhos mais ou menos importantes, onde uns permaneceram quietos e fizeram a política da boa vizinhança, outros partiram para novos palcos, e outros ainda repetiram a sopa sonoplastica e mudaram a cena para alcançar o sucesso tardio nos palcos da capital. Mas no fechar das cortinas, quem melhor fez a cena em 2009 foi sem sombra de dúvidas a “Maria Feia” que num lapso de gentileza e elegância nos convidou para seu casamento orquestrado por bons sons regionais, e com decoração brilhantemente rasteira, (diga-se esteiras), e com direito às gaiolas o casamento aconteceu, e nele, personagens de um nordeste nem sempre carrasco, feito por machos nem sempre tão machos criadas a partir das viagens do autor Rutinaldo Miranda Batista, as Marias e os Josés dançavam afoitamente, e o frouxo cangaceiro bailava a contento, digno de uma encenação inteligente e atenta às verdades do texto.
A cumplicidade e o entrosamento dos atores permitiram à boa estadia dos convidados do casamento, que presenciaram danças, trocas de figurinos e cenários criados com uma delicadeza nordestinesca de tirar o chapéu. Tudo no espetáculo é bem resolvido, ponto para o jovem diretor Tiago França, e razão de orgulho do grupo que arrancou logo na estréia a maioria dos brindes ofertados pelo júri do II Intercambio Estudantil de Teatro.
A direção conjunta de Emmanuel Silva e Tiago França deu ao espetáculo um estado real de clichês nordestinos e de conceitos falsos e principalmente daquela velha e legal máxima shakespeariana: “Tudo bem quando termina bem”. A estes novos colegas, revelações do teatro penedense em 2009, ‘MERDA’.
Os problemas do Theatro Sete de Setembro, a desunião e incompreensão dos artistas e grupos locais, o alvoroço político e social, as grandes cenas como as de “MADAME”, e até do “PICA-PAU” que visitaram esta proveta em 2009, seguidos também pelas cenas medíocres que fazem parte do oficio, as revelações do teatro local contribuíram juntos para mais um ano efervescido por competentes agentes culturais, pelos arteiros com egos altamente inflamáveis, pensamentos e opiniões mal interpretadas, pelas novas gestões que trazem em seus pacotes novos “entendedores de cultura” – por tudo isto e somente, os refletores do nosso theatro, ainda que defeituosos conseguiram dar a luz e a magia necessárias aos trabalhos do atores locais, e estes agora dão os blackout gerais para que as cortinas emperradas finalmente se fechem, mas ambos vão cheios de promessas para a temporada de 2010.
AGUARDEMOS, POIS ENTÃO!
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