Jean Lenzi

Jean Lenzi

Ator, dramaturgo, encenador teatral e ativista cultural

Postado em 29/09/2010 14:20

Café para Viagem

Da poesia portuguesa pela qual tenho grande admiração, eu me faço valer das palavras de Fernando Pessoa quando nos diz que “para ser grande, sê inteiro...” é desta citação intima que meu nariz de cera a guisa de intróito me permite comentar, muito distante da pretensão crítica, e agora, em que pese eu sinta a necessidade de reafirmar esta que me é peculiar, eu simplesmente pauso. Pauso a língua em sinal de respeito e com olhos e ouvidos gozando de boa saúde constato a ferrenha luta entre continente e conteúdo sabiamente incitada por uma viajante experiente, mas que ao aportar no Penedo, já contemporâneo dos “ingênuos”, eis que sua experiência é posta à prova numa simples degustação de um café servido para uma comunidade morna e distante da literatura. Em oposição a isso, a organização livre Arte-Fato. Eco propõe com o Café Literário do Penedo diálogos e reflexões várias acerca do cotidiano de seu povo. O diário de bordo contempla um “menu” copiado de singular evento sulista, e que se não fosse por força do longo processo de aculturação e comodismo vivido pelo povo do Penedo, este evento não deveria nada aos demais cafés literários existentes mundo afora. Tal como uma rosa ainda por desabrochar, ele nos remete à beleza e a poesia de um evento plural e multifacetado que a cidade do Penedo e seus munícipes precisam descobrir.

Uma Idéia que é genialmente fruto da inquietação sui generis da psicóloga e bailarina Penedense Lúcia Prata, que após um longo período em que esteve radicada no sul do país, regressa a sua terra e se debruça sobre ela com imponderada energia e generosidade, dignas de uma filha do Penedo que é ilustre pelo simples fato de ser sobrevivente do caos. O caos a que me refiro, é tão simplesmente a antipatia que se levanta como bandeira por um marasmo asfixiante, e pelo bucolismo como cartão de visita que aliadas à falta de perspectiva, à ociosidade e ao medo que fazem vida comum com o Penedo, repito, já contemporâneo dos “ingênuos”. E contrariando isto, vemos num discurso sensível e abrasador que energicamente é proferido por uma mulher, que lamentavelmente está exilada em sua própria cidade. Por isso, basta que saibamos, “há viajantes que regressam às suas cidades para matar as lembranças e recuperar a vida”..., e disso bem sabe esta exímia navegadora que é uma “pessoana”, ainda que não tenha conhecido o “Pessoa”.

À navegadora, o Pessoa:

“Trago dentro do meu coração,

Como num cofre que se não pode fechar de tão cheio,

Todos os lugares onde estive,

Todos os portos a que cheguei,

Todas as paisagens que vi através de janelas ou vigias,

Ou de tombadilhos, sonhando,

E tudo isso, que é tanto, é pouco para o que eu quero”.

O Café Literário do Penedo que em 2007, ano de seu lançamento, pode ser degustado sob os auspícios da Fundação Casa do Penedo, toma agora um formato itinerante, e consequentemente ganha maiores proporções. Com apoio do Governo Estadual, a Escola Lai, (livre de artes integradas) ARTEFATO. ECO dará nestas ocasiões continuidade ao seu projeto de levar cultura e entretenimento a importantes comunidades do Penedo.

Na primeira edição desta jornada, estando o “Barro Vermelho” no contramão do desenvolvimento sócio-cultural-educacional, foi oferecido aos cidadãos daquela comunidade mais um bate papo sobre os transtornos que se abate sobre o Rio São Francisco, tema palpitante, que acredito deveria ser tratado com maior delicadeza e especialidades. Populares do Bairro Santo Antonio foram minorias numa noite que foi pensada especialmente para eles. O Café que sempre foi reconhecido pelos artistas, chegando a ser point do rappy hour em tempos glórios, não pôde ser degustado pela classe artística local, tendo dentre os presentes, além deste que vos comenta, apenas o escritor Penedense, fiel degustador dos “cafés”, Francisco Araújo, que em sua fala, antecipando a leitura dos poemas, reafirmou o Café literário do Penedo como sendo uma das melhores iniciativas culturais já desenvolvidas nessa urbe, isto a bem da verdade, eu acrescentaria, nos últimos dez anos.

Nada é tão válido para um evento cultural quanto à acareação das verdades, e das “verves”. E do que se entende por verdade, haja vista a combinação dos conteúdos discutidos no Café, a simbiose literária e vocativa, e mais ainda, a pretensão (esta em caráter menor). É isto que o Café Literário promove, e deverá ser este o nosso chamamento. Seguir os gritos, ainda que pareça impossível aos ouvidos dos tiranos. Como o descobrimento de talentos jovens e sadios, o trabalho e o cuidado com a escolha dos textos, a exaltação à poesia que nem sempre é acompanhada pela dileta platéia, mais que uma intenção de se mostrar trabalho, (e um bom trabalho), é uma obrigação para aqueles cujas “sortes” de terem freqüentado boas escolas, ou ainda de terem nascido em tempos menos difíceis sentem ao compartilhar com as novas gerações toda esta poética de vida, que também é um exercício de cidadania, e isso também é essencialmente válido.

Potencialidades e especialidades como as do jovem “Dark Poet”, Thiago Vinnycius, cujo caráter conflituoso confrange uma maioria que ainda estar por se descobrir igual; estão se perdendo nas esquinas, embrulhadas num sistema, já falado, ignorante, falho e cruel que são presas fáceis para o comércio ilícito, ou o que parece pior, para um pólo corrosivo que é a ociosidade. Assim, o Café Literário do Penedo serve também como fonte de renovação e libertação da boa e velha prática de pensar, que será segundo Paulo Freire, a melhor prática para se pensar certo.

 

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  • HAPPY HOUR E aí e aí e aí mano como vai ser essa parada, pq não utlizas ferramenta de correção ortográfica?
  • MANO pow brother, o google fez isto seu mane.