João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 15/05/2010 17:02

Por que não a Castração em vez do Celibato?

Pelo fato de tratar de coisas supostamente divinas e estar voltada sobretudo para o mundo espiritual, não significa que a igreja católica não esteja cheia de contradições e absurdos. Afinal de contas, temos de convir, é uma instituição com um falso cartão postal do céu, criada e conduzida por homens e, como tal, repleta de falhas humanas. O que nos chama a atenção é a teimosia que a torna impermeável às mudanças essenciais à sua própria sobrevivência. É um grande equívoco acreditar-se que tudo que vem do passado deve ser reverenciado e respeitado como uma verdade imutável. Pelo contrário, o apego às tradições comportamentais, a conceitos e idéias ultrapassadas são o que há de mais retrógado no homem, impedindo o seu desenvolvimento e escravizando-o a um abuso que é a própria tradição. Como dizia Voltaire, haverá coisa mais respeitável que um antigo abuso? A igreja católica está cheia de antigos abusos.

Nas últimas semanas, Penedo, outras cidades do Brasil e alguns países têm sido palco de notícias sobre pedofilia, envolvendo diversos membros do baixo e alto clero. Tais notícias, que não são uma novidade, causa-nos sempre maior surpresa e incredulidade pelo fato de envolverem pessoas das quais a sociedade deposita total confiança e espera uma conduta ilibada. Maior ainda torna-se a nossa estupefação por fazerem parte do palco dos horrores menores que, portadores da inocência, deveriam gozar de uma admiração, respeito e especial deferência por parte dos pervertidos, verdadeiros monstros de batina. A impressão que nos dão é que são incrédulos, riem dos fieis e não acreditam em nada do que pregam e o que dizem, pelo deplorável exemplo, são apenas palavras ao vento. Fazem da religião um meio de vida e uma saída para dar vazão às suas deficiências e bestialidades sexuais. Contumazes no crime por anos seguidos, esses pastores do mal sacrificam a vida de jovens ingênuos, obrigando-os a carregar pelo resto da vida, o fardo de insuportável trauma psicológico.

A igreja católica no curso de sua história, tem enfrentado tempestades acompanhadas de chuvas torrenciais de escândalos de toda espécie. E se ainda existe, face à decrescente credibilidade, devemos atribuir sua longevidade à teimosia de seus fiéis que gradativamente migram para outras seitas, supostamente sérias. Pobres fiéis! A fé, sem dúvida, é a mais acabada expressão da fragilidade humana perante o insondável mistério da vida.

Não bastassem os escândalos passados e presentes, no passado medieval a igreja, no momento dirigida por um asno e, como tal, na mais elevada inspiração à sua altura, decreta a obrigatoriedade do celibato ao clero. Ora, tal iniciativa, estupidamente repressiva, contraria o princípio do crescei e multiplicai, contido na bíblia. Atinge o âmago da natureza no seu mais importante papel que é a perenidade da vida através da reprodução. Não só a reprodução, mas também o prazer sexual, o mais intenso e agradável prazer físico, necessário ao bem-estar e a estabilidade psicológica. Afinal de contas, qual o papel do pregador? Excetuados os meios para se conseguir o passaporte celestial, as virtudes morais que nos tornam cidadãos respeitáveis, dignos da felicidade. Pode o infeliz pregar a felicidade? O nosso verdadeiro estado é o da condição humana e só podemos nos sentir bem quando gozamos a plenitude do nosso ser. Como pode o pregador falar de sexo e matrimônio, se não os conhece?? Se Deus é amor, como poderá comprazer-se com a flagelação do homem?

Voltando ao problema do celibato, percebemos como São Paulo, grande vulto do Cristianismo, foi sensato ao dizer em Corintios, 7°, 8°: “Digo aos não casados e às viúvas que lhes é bom permanecerem assim, como também eu. Mas, se não se contêm, casem-se. Porque é melhor casar-se do que abrasar-se”. Por que a igreja não optou por esse conselho tão sensato de São Paulo? Como o pensamento, curiosamente, avança e retroage no tempo! Os que fazem parte do clero, ao submeterem-se livremente ao celibato, não estão obrigados a continuar a obedecer uma orientação irracional e suicida. Essa imbecil e covarde inação para contestar, força vital às transformações, acabará por extinguir a enferma igreja católica.

Para finalizarmos, não queremos afirmar que o celibato, que deveria ser uma opção de cada um, é responsável pela execrável conduta de alguns membros do clero. Achamos apenas que ele serve de esconderijo para tantos que são reprimidos e covardes para mostrarem sua anormal preferência sexual. A homossexualidade, escancarada nos dias de hoje, não deve ser empecilho para se pregar a mensagem da igreja. Se o homossexualismo existe, é porque assim quis a natureza. O seu rebanho é grande dentro da igreja, encurralado pelo voto – jurado e não cumprido por muitos – de castidade. O que a sociedade não aceita é que padrecos e outros mais altos na hierarquia, abusem, desumana e criminosamente, de crianças para extravasar seus instintos pervertidos.

Se esse embaixador de cristo, pai da idéia do celibato, tivesse sido mais inspirado, assim como Aldous Huxley quando imaginou para a humanidade um futuro no qual os nascimentos seriam programados para determinadas profissões, teria sido mais radical e em vez de estimular o celibato, exigiria a castração para a classe sacerdotal. De que adianta exigir a castidade, deixando solto o demônio da tentação carnal? E qual é a finalidade do celibato? Fazer com que os padres tenham uma dedicação plena aos afazeres da igreja e à contemplação divina? Pura sandice de um carola efeminado que pretendendo elevar-se às delícias do céu, foi vítima de uma visão unilateral, incapaz de calcular a decida na lama dos muitos que não podem sustentar-se na leveza etérea de pura espiritualidade. O racional e o espiritual, dom sublime do Criador concedido ao homem, está ligado, inconcebivelmente, às funções animais e a alguns instintos repulsivos. Assim, como ater-se com serenidade à contemplação e obediência a um estúpido voto de castidade, se essa promessa não tem outro objetivo senão fazer com que o padre conviva com uma guerra íntima a querer jogá-lo no abismo das tentações? Se o sacrifício, como pensam alguns, é uma prova de amor a Deus, este não passaria de um sádico sem amor. Pintam Deus com as mais belas virtudes e agem radicalmente em desacordo com a pintura.

A castração seria um ato desumano e anticristão, mas seguiria a linha das contradições, da vantagem e da desvantagem. A vantagem é que com um clero de eunucos, nem ativo, nem sexualmente passivo, mas neutro, teríamos uma igreja bem mais comportada, mostrando-se com toda fidedignidade em oposição aos hipócritas que do púlpito exaltam os princípios de moralidade e por trás, no amplo sentido para alguns, agem de forma diametralmente oposta. Com seu exército clerical efeminado na voz, seria um trovão de respeitabilidade, isentando-a de provações de credibilidade que vem minando sua sobrevivência, decorrente dos escândalos sexuais.

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  • Adão Parabéns: A verdade não pode existir em coisas que divergem. (São Jerônimo)
  • valfredo Messias dos Santos Prezado amigo João Pereira Como sempre suas colocações sobre os assuntos de natureza filosóica e religiosa são muito inteligentes. Parabens pelo artigo e pelas ideias tão bem colocadas.Também acredito e tenho dito que a maioria dos que se encontram no mundo religioso afirmando serem representantes de Cristo, não creem Nele e O tem apenas como uma forma de captar dinheiro e gastá-lo em suas orgias . Um abraço Valfredo
  • Maria José Rocha Por que tanta ojeriza à igreja católica? Por que generalizar quando sabe muito bem que há exeções e muitas? Não seria mais sensato pesquisar a vida de padres santos que deram suas vidas por amor a sua igreja, a Deus? Pois esse Deus que eu também amo, não julgaria o mais miserável dos humanos da forma como o faz. Pedro era rude, analfabeto,fraco, mas foi escolhido para representá-lo após sua partida. E a pecadora? Ele não a condenou. Quem é bom não julga, não condena. A castração seria bom também para tarados, adúlteros etc?
  • PHD é possivel ver tantas heresias serem afirmadas aqui, e depois, um texto um tanto intolerante, quase ignorante. Mas há quem concorde também, afinal todo mundo aqui é phd, e quem tem dedo escreve o que quer, mesmo que muitas das vezes sem conhecimento e razão.
  • Fabiana Prezado(a) PHD, o que acontece aqui é tão somente a liberdade de expressão assim como temos também liberdade de escolha, tanto para a política como para a religião, como é o caso. Pelo seu comentário o fato do senhor João Pereira emitir sua opinião a respeito do celibato o qualifica como ignorante? Você já teve a oportunidade de ler todos os seus artigos? Só não o conhecendo para qualificá-lo de tal maneira.
  • Melissa Borges Não precisamos ser PHD em teologia para endenter perfeitamente os escritos do Senhor João Pereira, que há certo tempo nos brinda com seus escritos aqui no site. Heresia é pregar em nome de Deus e satanizar seu espírito em orgias. Intolerância é esperar por um Bispo que é cumplice de atos satânicos. Ignorância é não sentir a dor de um pai de família que teve o filho abusado. Coragem é tratar assuntos dessa natureza com muito equilíbrio e prudência. Parabéns Dr João Pereira!
  • Francisco Sales Prezado Dr. João Pereira A propósito do seu oportuno artigo aqui transcrito onde aborda o problema do celibato,gostaria de fazer uma consideração. Exatamente há 20 anos, no dia 17 de maio, a Organização Mundial da Saúde deixou de considerar "doença" a homossexualidade. Razão pela qual o terminação ismo foi abolida. Com apreço, Francisco Sales
  • Sabrine Calumby Prezado Francisco Alberto Sales Quando o Sr. João Pereira, se expressou dizendo: "Fazem da religião um meio de vida e uma saída para dar vazão ás suas deficiências e bestialidades sexuais."Ele se referiu a pedofilia,que é sim uma doença.Mais em baixo ele diz;"Se o homossexualismo existe, é porque assim quis a natureza."Ou seja, assim como a preferência pelo sexo oposto,a homossexualidade é natural.
  • Cleber Lisboa Pereira JÁ QUE A IGREJA CATÓLICA ENSISTE NO CELIBATO PARA SEUS SACERDOTES TORNA-SE NECESSÁRIO QUE OS MESMOS SEJAM CASTRADOS FISICA E QUIMICAMENTE SÓ AI ACREDITO EU NO CELIBATO FORA ISSO AINDA VAI ACONTECER MUITA COISA DESAGRADÁVEL
  • MARCELO MARQUES O brigado Dr. João Pereira. Por nos agraciar com os seus artigos inteligentes, doutos, às vezes polêmicos e repletos de argumentos que muitos gostariam de expressar. Estamos fartos de assuntos sérios serem tratados de forma superficial; não sei se por falta de conhecimento, por medo da exposição, ou das críticas advindas de uma sociedade tradicionalística, omissa e, implacavelmente, hipócrita! A propósito, para uma medida medievalesca da igreja católica, outra medida radical. Não seria mais fácil para o sacerdote que faz voto de castidade extirpar o instrumento que mais lhe é motivo de desgraça e perdição, do que mesmo travar uma batalha quase sempre perdida entre o carnal e o espiritual? Sem contar que seria um ato incontestável de fé, vocação e de pura entrega as coisas transcendentais.
  • João Pereira Júnior quando a igreja crstã, invés de se guiar pelas sagradas escruras, adotando práticas inventadas por homens, tais como o celibato obrigatório, a confissão auricular, a invocação dos mortos em rezas repetitivas (os chamados santos católicos), prugatório, batismo infantil, enfim, quando deixam de se orientarem por deus para se orientarem por um líder humano e falho (o qual não erra quando se pronuncia a respeito da fé, segundo o dogma a infalibilidade papal, utra heresia) acontecem tais situações que escandalizamo evangelho. a igreja católica que sustentou o cristianismo durante a idade média, combatendo o paganismo, pagou um preço caro por tal proeza que foi, justamente, a contaminação com práticas pagãs que, se algum dos apóstolos pudesse presenciar, hoje, cairia de costas. todavia, ainda há tempo para o catolicismo. a exortação que foi feita na reforma continua viva, infeizmente, a igreja católica continua a recusá-la, pois tem medo de ficar membros, ou seja,prefere agradar aos homens, ainda que, para isso, desagrade a deus. oremos por ela.
  • João Pereira Júnior qualquer pessoa curiosa em história geral sabe que o catolicismo nasceu no fim do segundo século, ou seja, essa questão de papado é estranha ao cristianismo. nesse sentido, pedro jamais foi papa. essa figura do papa é fruto do prestígio que o bispo de roma passou a ter por conta de esta cidade ser a capital do império, superando, portanto, o bispo de jerusalém, antioquia, alexandria, constantinopla, enfim (lá para o quinto século). assim sendo, cristo não fundou o catolicismo e nem qualquer outra denominação cristã. ele fundou a sua igreja que é composta por aqueles que o adoram em verdade e em espírito e que procuram ter uma vida de santidade segundo os padrões neotestamentários. lembremos do ladrão crucificado: ele não participava de qualquer denominação; apenas creu. ele não guardava o sábado, ele não teve extrema unção, ele não comungava, ele não teve qualquer sacramento (outra invenção humana); ele foi justficado por aceitar a jesus como seu senhor e salvador, só isso. oremos pelas denominações cristãs, pois todas têm problemas, contudo, a situação do catolicismo é mais grave, porquanto seu problema não é só de pessoas, mas de doutrina também e isso, com certeza, tem uma influência direta nos escândalos frequentes, contudo, não esqueçamos dos padres sérios e vocacionados que não podem ser colocados na vala comum junto aos que deveriam ter abraçado outra carreira.
  • Barros Tudo bem que devemos cortar o mal pela raiz, mais não vamos levar ao pé da letra!!!! rsrsrsrsrsrsrsrs Parabens pela matéria.
  • graça concordo plenamente, emfim alguém que pensa como eu o senhor esta de parabéns.Se martinho lutero no século 16 foi o autor da reforma, justamente por conta das injustiças do clero axo que estamos precisando de mais uma reforma.