João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 20/04/2011 12:00

Se Sergipe pode, por que não pode Alagoas?

O pleito salarial dos servidores estaduais que está a desenrolar-se, dificilmente não buscará no Estado de Sergipe um paradigma para balizar o teto de suas reivindicações, especialmente na Polícia Militar. Não será bom para o Governo de Alagoas, sempre alagado em lágrimas de crocodilo e falsas lamentações que, o têm tornado, por anos seguidos, surdo, mudo e insensível às justas aspirações do funcionalismo.

No mundo competitivo em que vivemos, o inferior quando deseja galgar ao patamar onde se encontram os de nível superior, espelha-se nas boas qualidades e parte para transformar seu desejo em realidade. A competição não existe apenas no nível individual entre as pessoas, mas entre países, estados da federação e cidades. Por exemplo, histórica é a rivalidade entre Sergipe e Alagoas e suas respectivas capitais. Entre os dois estados, qual a nota de cada um? Basta dizer que Sergipe, há muito anos, ostenta a melhor renda per capta do nordeste.

Como gostaríamos de ver Alagoas despertar do torpor que o acomete por tantas gerações, procurasse alçar vôos mais altos e deixasse de ver refletida em si mesmo a imagem de penúria que o coloca na rabeira dos demais estados. Frente a essa triste realidade, sentisse vergonha, sacudisse a poeira e os nossos políticos, sentindo o peso da culpa, fossem tocados pela graça do milagre, fizessem por Alagoas juras de amor e prometessem de fato todo o empenho para erradicar-lhe sua endêmica miserabilidade. Como seria extraordinário!

Existe uma piada na qual Deus distribuiu para cada país vantagens e desvantagens, sendo estas em quotas de calamidades naturais. Chegada a vez do Brasil, achou por bem livrá-lo da fúria da natureza, dando-lhe como compensação um exército de corruptos e ladrões. Será que Deus foi bonzinho com o Brasil? Bem, as calamidades são passageiras e danos materiais reparáveis, ao passo que os nossos políticos são permanentes, eternos e irrecuperáveis. Será que Deus fez o mesmo com os estados do Brasil? Tudo indica que sim. Com referência a Alagoas, por exemplo, deu-lhe as mais belas praias do Brasil, privilégio que por si só seria suficiente para pô-lo no topo do crescimento, com a exploração do turismo, atividade que mais gera renda e emprego em todo o mundo. E como anda nesse setor? Engatinhando. Por que? Acontece que do outro lado da moeda, Deus castigou Alagoas, dando-lhes proporcionalmente ao seu tamanho um considerável contingente de políticos corruptos, verdadeiros bate-estacas que afundam o estado, corrompem e emperram a máquina administrativa, gangrena o corpo sadio de Alagoas e jogam na completa escuridão as mais belas e acalentadas esperanças dos alagoanos.

Vamos às expectativas do funcionalismo. Por antecipação, sabemos que o Governador Vilela, o Senhor Balela, nas negociações salariais, virá com a mesma choradeira, a surrada desculpa da falta de recursos financeiros e o respeito à Lei de Responsabilidade Fiscal. Até quando perdurará essa desculpa? Quando os servidores poderão nutrir a esperança de um reajuste digno? Alguma providência está sendo tomada para corrigir as distorções que impedem atender condignamente a demanda do funcionalismo? Afinal de contas, em que causa ou causas se centram as dificuldades financeiras? Queda na arrecadação do ICMS? Não. Nunca o Estado de Alagoas arrecadou tanto. O que será então?

Sob o aspecto comparativo com Sergipe, chama-nos a atenção a reivindicação da Polícia Militar que tem atualmente um piso salarial de mil e quinhentos reais. Está pleiteando um de dois mil e oitocentos reais, mesmo assim inferior ao de Sergipe que é de três mil e quinhentos reais. Por que Sergipe pode e Alagoas não? E a educação, como está? Em termos salariais, já foi uma das melhores do Brasil. E as condições de trabalho? Nada elogiável. Acrescentando-se a isso as perdas salariais e a falta de professores, o quadro da educação no estado pode ser definido como de abandono. O que podemos dizer de um governo que relega, deixa ao descaso a educação, quando todos sabemos ser o principal fator para o desenvolvimento em todas as áreas da atividade humana? Não vamos desgastar os adjetivos, mesmo sendo os piores.
Como é irritante e desconfortável ler nos jornais ver e ouvir o noticiário televisivo sobre Alagoas!

Sentimos uma sensação de vazio e abandono, desconsolo e tristeza que resultam em depressão e um tormento para o espírito. Não é que não existem as boas coisas, mas são tão poucas que quase não as percebemos, diluídas e perdidas que ficam na imensidão de um mar revolto de calamidades. Não devemos, no entanto, abdicar do otimismo, mesmo diante dessa paisagem desoladora da Terra do São Nunca. Acender-lhe a chama, sem dúvida, está mais para um ato de fé do que uma crença racional de que venha ocorrer, a médio prazo, uma regeneração, uma nova mentalidade entre os nossos políticos individualistas, rudes e historicamente retrógrados. Em Sergipe, os políticos divergem, o que é muito natural, mas convergem em bloco, quando está em jogo o interesse do estado. Eis um importante diferencial, razão porque afirmamos que enquanto não houver uma mudança na visão político-administrativa dos nossos representantes, Alagoas, por mais que se mire no espelho de Sergipe, só verá dentro de si mesmo, com escancarada nitidez, toda a sua miséria e mediocridade.
 

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  • eliene mello Parabéns! Alcides, seu desabafo é o de todos os professores, que vive insatisfeitos com o descaso dos nossos governantes, que faliram a educação, adoeceram os profissionais. Deixam o nível de analfabetismo crescer e ficam na mídia com cara de paisagem, explicando o que não tem explicação.
  • Refugiado Parabéns Dr. João pelo belo texto! palavras sábias que sintetizam o repúdio de um povo ávido por dias melhores. No entanto, vale salientar que este mesmo povo foi responsável pelos políticos que hoje se encontram no poder zombando de Alagoas. Oh vida! oh céus! oh azar!!
  • Paulo Roberto Pelo que estes professores fazem, eu acho que eles estão ganhando até demais. Sãoprofessores faltosos, preguiçosos que não tão nem aí pra os alunos, só falam em aumento de salarios. Parasitas!!!!!!!
  • eliene mello Por favor desculpe-me, pela troca dos nomes no início do comentário. Parabéns! Realmente a máquina administrativa do estado vem tratando a educação com muito descaso.
  • Silvio Gomes O castigo que DEUS deu a ALAGOAS, foi ter os piores políticos do Brasil, sempre reeleitos, por todas as camadas sociais.
  • Elusival Silva Santos Enquanto o Governo de Alagoas anuncia apenas 5,91% de reajuste para servidor público, publica no DOE de 16/04/2011 (sábado!!) diversos decretos de nomeação para cargos comissionados, em consonância com a bendita Lei Delegada nº 44 aprovada em abril/11 pela ALE. É uma festa, todo dia tem nomeação!