Públio José

Públio José

Jornalista, publicitário, escritor e atento observador da vida

Postado em 05/11/2009 22:22

O Leão e a Gazela

Entre os vários instrumentos formidáveis que o leão possui um se destaca em especial: o urro. Nada na natureza, em termos de manifestação sonora, se compara ao urro do leão. É algo realmente assustador. Depois de liberado pela garganta e pela bocarra, o urro leonino se propaga, através de intermináveis ondas sonoras, alcançando distâncias impensáveis. Estudiosos garantem que o som do urro do leão se espalha a uma distância de até dez quilômetros do local onde ele se encontra. Como se vê, é um espetáculo realmente incomum, sem outra ocorrência pelo menos semelhante. Assim, o urro do leão reina sozinho na imensidão da selva. Entretanto, poucos sabem que o urro do leão é também uma arma poderosíssima. Solitário na maioria do tempo, ele se serve do seu urro para assustar a presa distante. E também para avisar aos concorrentes que está indo à caça. Que ninguém se meta no seu caminho.

Por sua vez, a gazela – um dos pratos preferidos do leão – tem no seu mover diário o hábito de se alimentar na mata fechada. Ali, onde cipós, arbustos e árvores de baixa estatura lhe criam uma proteção natural, a gazela se posta tranqüila a pastar. O leão sabe que na mata fechada fica difícil perseguir e liquidar com a gazela. Na mata fechada, as condições de luta normalmente favorecem a ela, no caso o contendor mais frágil nessa disputa. Ligeira, ágil, leve, com estrutura óssea adaptada para saltos que não necessitem grandes espaços para impulsão, o pequeno quadrúpede dispõe, na mata fechada, de grandes possibilidades de escapar, de fugir ao ataque mortal. O grande animal sabe disso e usa, então, uma das suas armas para desestabilizar e fragilizar o pequeno adversário. Assim, o leão solta o urro pelos ares. Assustada, a gazela sai para campo aberto. E, zás, se torna presa fácil.

Fazemos uso dessa fábula para uma reflexão sobre os dias atuais. Olhando o cenário da vida, dá para se perceber como tem leão por essas bandas (aí entendidos, como tal, os inúmeros problemas que normalmente assustam e fragilizam as pessoas: a luta pela vida, a concorrência profissional, a incerteza sobre o dia de amanhã, as frustrações, as decepções, o desânimo, os projetos inacabados, os sonhos desfeitos, os relacionamentos despedaçados, a violência urbana, o índice sempre crescente de criminalidade.....) E a reação dessas pessoas aos urros que as dificuldades lhes impõem. O leão nem chega à frente delas. Basta o som dos problemas para tirá-las da sua paz, da sua tranqüilidade. Conclusão a que se chega: como nossas selvas urbanas estão cheias de gazelas! De pessoas fragilizadas, totalmente despreparadas para o enfrentamento diário aos leões da vida.

E sucumbem porque saem do terreno protetor dos princípios cristãos, da fé em Jesus, da prática do perseverar, do insistir em seus sonhos, anseios e convicções. Na Câmara Federal temos um bom exemplo desse contexto. Ali, parlamentares não suportaram as pressões do governo – e, zás, sucumbiram ao leão do mensalão. As prisões, por outro lado, estão lotadas por aqueles que não resistiram ao leão do roubo, do estupro, do seqüestro, da maldade, enfim. Já outros, nas altas rodas, se rendem ao leão da prostituição, do tráfico de drogas, do alcoolismo. Todos, rigorosamente todos, serão devorados mais adiante por terem deixado a mata fechada dos bons princípios para atuar no descampado que leva à morte. O leão estará sempre pronto para agir. E o urro será sempre a primeira arma utilizada. Permanecer firme na mata fechada é o melhor caminho. Ou você quer se transformar numa tola e indefesa gazela?

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  • Nani Rodrigues Ótimo artigo! Parabéns Públio!
  • Edmundo Parabéns, gostei muito do artigo!
  • Jean Lenzi Caro Prof. Públio, Interessante é também tirar do artigo não somente reflexões acerca dos leões truculentos da nossa sociedade, 'tampoco' para reafirmar alguma pretenção de superioridade de raças, vejo então uma empatia sublime entre vosso artigo e um poema de Gilberto Brandão Marcon com o mesmo título, O LEÃO E A GAZELA, neste, as selvagerias se completam, um passa a existir em razão do outro, pertencentes à mesma raça, d'onde nasce uma atração não mais de sobrevivência alimentar e sim de uma selvagem compreensão e protenção do outro, numa poética um tanto distante, ou totalmente distante, é falado que o LEÃO não mais devoraria, mais sim, PROTEGERIA AS GAZELAS, daí uma boa reflexão proporcionada aos leões e às gazelas bípedes. Parabéns!, Jean