Valfredo Messias dos Santos

Valfredo Messias dos Santos

Procurador de estado, defensor público e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 13/06/2010 09:46

Políticos sem compostura

Todas as vezes que se aproxima o pleito eleitoral reascende em cada um de nós o desejo de que os homens e mulheres que pretendam se lançar nesse campo minado da política brasileira, hajam com dignidade e respeito no exercício desse mister, sem a constante preocupação de locupletar-se do dinheiro público ,de apadrinhar pessoas irresponsáveis para ocuparem cargos importantes nas esferas administrativas e sem a participação emconluios com o intuito de beneficiar-se das relações espúrias com empreiteirase outros barganhadores da ética e da moral.

Temos o hábito de querer culpar o eleitor pela escolha de políticos desonestos e corruptos, como se essas pessoas tivessem recebido as informações necessárias, quer no convívio social, nas escolas, nas Universidades quanto ao mecanismo da política como a arte de promover o bem comum. Na verdade, neste País, a corrupção nasce a partir dos pequenos gestos como, por exemplo, o de pagar propina a um guarda de trânsito para não ser multado pela prática de irregularidade no veículo ou nos documentos obrigatórios do condutor . Podemos até mesmo afirmar, que a prática da desonestidade é pré-requisito para seconquistar espaço na organização política partidária. Até parece que, quem não for desonesto, não ganha eleições. É verdade que para toda regra existem as exceções e, na política não é diferente. Muitos militantes nessa área sofrem o desgaste moral e ético, pela prática imoral e antiética de inúmeros políticosque visam apenas o seu bem estar social e de seu grupo.

Por ocasião dos pleitos eleitorais o que mais preocupa à Justiça Eleitoral é, essencialmente, o abuso do poder econômico, principalmente no que se refere à compra de votos, cujo valor é inflacionado acada disputa. O desrespeito do candidato para com o eleitor nasce no exato momento em que ele se propõe a comprar o seu voto. A partir daí , o cidadão se transforma em uma mercadoria com prazo de validade vencido.

Esse hábito de compra e venda devotos está impregnado na mente da maioria dos políticos que se arriscam a serem presos, processados e desmoralizados, maculando o nome de suas famílias , mas não deixam para trás essa prática nociva que tem contribuído para o agravamento da insegurança por ocasião das eleições, causando até mortes, e para que a democracia não se afirme como o governo do povo pelo povo e para o povo.

Nas Câmaras, nas Assembléias e no Congresso Nacional é constante a venda de votos, por políticos inescrupulosos,em troca de assinatura de projetos de leis, de liberação de verbas, de emendase tantas outras práticas costumeiras. Políticos de expressão no Congresso afirmam que essa prática é cultural como bem afirmou o Presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, presidente do PMDB: ”O patrimonialismo é uma característica da política brasileira, e esses desvios de comportamento são históricos.” Já o Senador Jarbas Vasconcelos afirmou “que o PMDB é corrupto e só pensa em ocupar cargos para fazer negócios”.

Como podemos exigir uma postura digna de eleitor, do cidadão que não sabe sequer qual o papel do Vereador, do Deputado Estadual e Federal, do Senador, do Prefeito, do Governador , e do Presidente desta República chamada Brasil ?

A mídia tem trazido para o nosso conhecimento as sucessivas práticas de roubalheiras nas Prefeituras com desvios de milhões de reais em detrimento do desenvolvimento local. A prática tem comprovado que a corrupção levada a efeito em uma Prefeitura, por exemplo, se alastra por todos os seus setores, desestimulando servidores honestos e cumpridores de sua missão de bem servir ao povo. Nesses casos a máquina administrativa trabalha em benefício do gestor e de seus seguidores, como se acoisa pública lhes pertencessem em detrimento da cidade e do povo que depositou seu voto nas urnas acreditando que o melhor seria feito.

O que nos entristece sobremaneiraé que a prática da corrupção tem ramificações nas demais esferas do poder. Recentemente,o Conselho Nacional de Justiça aplicou a pena máxima a 10 juízes do Estado deMato Grosso, dentre eles o Presidente do Tribunal de Justiça, desembargadorMariano Alonso Ribeiro Travesso, pelo envolvimento em um esquema de corrupçãode desvio de R$ 1,4 milhões.Ressalte-se que a pena máxima aquireferida,tratando-se de juízes, é aposentadoria.

Há em nosso País um verdadeiroclamor popular por mudanças. A sociedade está ficando cansada de observar, calada,as mais variadas práticas de desvirtuamento dos valores éticos e morais. Segundo Sócrates, moral, outra coisa não é que viver como reclamam a probidade e ajustiça.

A seccional da OAB de Alagoas apresentou, no dia 23 de fevereiro próximo passado, os membros da Comissão deCombate à Corrupção Eleitoral, que conforme enfatizou o seu Presidente, Álvaro Barbosa de Oliveira, dará ênfase ao interior do Estado.

Se volvermos os nossos pensamentos para o passado, observando o presente e vislumbrando o futuro político, até parece que não há mais solução. No cenário político vivenciado nas urbes, nas Capitais e no âmbito nacional não vislumbramos àqueles políticos carismáticos e éticos preocupados com o crescimento de sua cidade, Estado ou País. Em um País com mais de 127 milhões de eleitores os nomes que se cogita para a eleição presidencial, com chances de vitória, conta-se nos dedos da mão, não porque são os melhores para o País, mas porque são os melhores dentro de seus partidos. É uma pena.

Chegamos a um patamar tão desastroso que muitos dizem: “vou votar em fulano porque é o menos ruim”. Outros dizem: “vou votar em tal candidato porque é sua primeira eleição e ainda não aprendeu a roubar”. E ainda existem, aos milhares, os que afirmam: “vou votar neste candidato porque ele me deu R$ 50,00, R$ 100,00”. E o eleitor que se diz consciente, em quem deve votar?

Normalmente, a prática nos ensinaque devemos acompanhar o trajeto político do candidato em quem depositamos a nossa confiança e esperança por ocasião do pleito eleitoral. Se vereador: quais os projetos que apresentou e que foi aprovado em benefício da comunidade;quantas sessões frequentou; quais os eventos de interesse social que esteve presente;como tem se comportado como representante do povo nas questões de interesse coletivo.Até parece que é fácil, mas não é. Apesar de estarmos convivendo o tempo todo com o edil que escolhemos, o nosso dia a dia, as preocupações com a sobrevivência,o estresse vivenciado diuturnamente não nos permite executar aquela tarefa. Imaginem com relação aos Deputados Estaduais, Federais e Senadores.

Há uma necessidade urgente de entendermos que os políticos são os nossos mandatários. A eles conferimos odireito de nos representar, de lutar pelo interesse coletivo, de fiscalizar a aplicação dos recursos públicos destinados às políticas públicas necessárias à promoção do bem comum. Conferimos ao Prefeito, ao Governador ao Presidente da República,o direito de administrar os bens públicos, a utilizar, da melhor forma possível, o dinheiro público oriundo dos pesados impostos pagos por todos nós,para que os Municípios, os Estados e o País, sejam transformados em lugares seguros,de relacionamento pacífico, onde todos se respeitem e onde prevaleça a força da lei para todos, sem exceção. Onde as políticas públicas sejam elaboradas e executadas de forma a favorecer, de forma igualitária, os anseios dos integrantes das diversas camadas sociais,dando cumprimento aos mandamentos constitucionais da promoção dos direitos sociais com o um todo.Os vereadores e Deputados,Federal ou Estadual, deveriam ser os verdadeiros fiscais do povo , com a sagrada missão de zelar pela correta aplicação dos recursos destinados à construção de moradias dignas,estradasseguras,segurança pública confiável,à saúde, e outros investimentos necessários ao desenvolvimento. Entretanto o que se tem notícia é dos desvios de valoresinestimáveis,das propinas milionárias e da subserviência do Poder Legislativo ao Executivo.

Os mandatos conferidos pelos eleitores aos titulares de mandatos eletivos deveriam ser visto, por eles, como uma honraria, uma deferência especial, pois nesse mandato está embutido os votos de confiança e a certeza de que seremos bem representados. Entretanto,temos sido vítimas, a cada pleito, de um verdadeiro calote eleitoral pois o respeito , a admiração e a esperança depositada na maioria dos vendilhões de ilusões, em nada afeta a sua índole má, vez que estão sempre vestidos com pele de cordeiro mas, no seu íntimo , são lobos vorazes, parafraseando Jesus Cristo.

Certa vez, Jesus Cristo, crítico da política e dos religiosos de seu tempo, foi interpelado por seus discípulos querendo saber como seria possível conhecer os profetas confiáveis que viriamapós a sua ida deste mundo terreno. E Ele respondeu: pelos frutos. Esta regra, com certeza, poderá ser aplicada na política. Deveremos nos informar, mesmo que não tenhamos feito um acompanhamento diuturno, mas até mesmo nas últimas semanas que antecedem as eleições, quais foram os frutos produzidos pelo candidato que pretendemos depositar nossa confiança. Entendam-se como “frutos”, os projetos que resultaram em recursos para o Município ou para o Estado; os projetos que se tornaram leis eque trouxeram benefício à sociedade; a participação em debates de temas importantes nas Câmaras,nas Assembléias ou no Congresso Nacional ou se apenas ocuparam seus lugares e acenaram suas cabeças, como catengas, se posicionando apenas com gestos e não com palavras e atitudes.

O mais recente escândalo de corrupção – não sei se já não estou mal informado - tem como chefe da gangue o Governador de Brasília e,segundo os promotores que atuam na operação Caixa de Pandora, o valor desviado dos cofres públicos já chega a 500 milhões de reais.Reflitam que essa fortuna diz respeito apenas a esse escândalo no Governo do Distrito Federal que se dissemina entre alguns deputados da base aliada na Câmara Legislativa.

Ora, como distinguir o joio do trigo? Apenas na colheita é que se pode separar um do outro, porque o trigo produz frutos e o joio não, apenas cresce como uma praga , usufruindo do terreno fértil e se beneficiando dos cuidadosque são dispensados,ao trigo, pelos agricultores.

Na política,infelizmente, só é possível identificar os corruptos quando afloram osescândalos, que não são poucos, em todasas regiões deste País cujo solo é propício ,também ,às ervas daninhas da política que nada fazem ,apenas sugam aseiva que é o sangue de um povotrabalhador e sofrido, que não dispõe deuma política de saúde digna , de segurança e moradia,nem de uma educação compatível com o seu povo ,em razão dadilapidação de seu patrimônio moral e dos desvios de milhões pelos corruptos que elegemos,acreditando serem homens honestos e capazes de nos representar como cidadãos , no tão enlameado terreno dapolítica brasileira.

Neste ano,novas esperanças, novas decepções nos esperam. Sejamos prudentes, vigilantes,sábios, se possível for, para, eliminando o joio já identificado, não sejamos levados pelas promessas costumeiras, mas sim pelo bom senso.

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  • Coração de Leão Caro dr valfredo, oportuno seu comentário em um ano plitico. Entretanto, não existe solução a curto prazo para nossa política no momento. Primeiro que não temos um eleitor participativo, segundo, ele na maioria das vezes vende seu voto para o mais corrupto dos candidatos, terceiro, temos um sistema que nos leva a toda essa corrupção, quarto, não vamos mudar se a educação não começar pela base. Ou seja, precisamos primeiro educar nossos desenbargadores, depois nossos juizes, para então chegar ao eleitor. Ai sim, seremos capazes de separar o joio do trigo.
  • Nani Rodrigues Dr. Valfredo, Parabéns pela matéria! Fui aluna do Colégio Diocesano em sua gestão, e conheço seu caratér e dignidade! Quisera que em nossa sociedade houvessem políticos com uma índole tão nobre igual á sua.