Valfredo Messias dos Santos

Valfredo Messias dos Santos

Procurador de estado, defensor público e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 18/05/2016 10:14

A Videira e os Ramos

Algo tenebroso está a nos rondar como um inimigo invisível que apenas vemos o resultado de suas ações, sem, no entanto, enxergá-lo. Esse inimigo espalha sua força maligna no ar que se propaga como as ondas do mar e atinge toda a humanidade. Temos sentido que a cada dia ficamos mais frágeis, inseguros, sem rumo. Sentimo-nos sem estabilidade física e emocional como se a gravidade também tenha perdido a sua força de atração para nos manter firmes, com os pés na terra. O que se passa com o ser humano? Por que vem perdendo, a cada dia, o seu valor dentro da escala da criação? Não apenas o valor humano, mas, o mais valioso: o valor moral? Por que alguns optam mais pelo mal do que para o bem? Por que torturam, mutilam e matam seus semelhantes?

É visível que a família tradicional que sempre foi dependente das regras sociais e religiosas, tem cedido, na trajetória do tempo, lugar aos diversos arranjos familiares, onde os poderes maternos e paternos são sempre afrontados em nome de uma liberdade, hoje imposta pela lei, cujo exercício equivocado, tornou-se libertinagem. A mulher, outrora vista como um ponto de equilíbrio dentro do lar, que tinha como incumbência cuidar dos filhos, da casa, da procriação e do marido, mesmo sendo a este submissa, ao conquistar, perante a lei, sua liberdade, buscou afirmar-se como pessoa livre, no mercado de trabalho, conquistando valores assegurados pela lei humana. Essa liberdade tão sonhada e conquistada trouxe também, para grande parte das mulheres, a infelicidade, devido terem optado por caminhos espinhosos que as levaram ao crime e à morte.

O Ministério da Justiça divulgou, recentemente, através do Departamento Penitenciário Nacional, que houve uma evolução muito significativa da população carcerária feminina em todo o país. Em Alagoas, o aumento de 2007 a 2014 foi de 444% ou seja, de 62 reeducandas, em 2007, para 284, em 2014. 70% desse total, por tráfico de drogas. Outras perderam suas vidas como revela a Central de Atendimento à Mulher, da Secretaria de Política para Mulheres da Presidência da República: Entre 2009 e 2011, foram registrados 16 mil e novecentos feminicídios ( morte de mulheres). Que liberdade foi essa?

Uns dizem que quando a mulher deixou o lar para se firmar, como pessoa, no mercado de trabalho, a família se desestruturou, abrindo assim, um vácuo por onde entraram a desobediência e a falta de limites, ferindo de morte as autoridades paterna e materna, acirrando por consequência, a disputa pelo poder entre o homem e a mulher no âmbito familiar, concorrendo para que um número sempre crescente de crianças, jovens e adolescentes, fossem cooptados pelo mundo das drogas de onde poucos retornam, tornando-se delinquentes em potencial agravando a violência a que todos estamos reféns.

Outros afirmam que as religiões perderam suas forças de conquista tendo muita dificuldade para levar as pessoas a um caminho correto, longe das garras do mal e se esforçam, até mesmo com a contratação de marqueteiros, para evitar a saída dos que ainda permanecem firmes. Por que pessoas “religiosas” abusam sexualmente de crianças, quando deveriam protegê-las, levando até mesmo, o líder religioso de uma das maiores religiões do mundo cristão, constrangido, a pedir perdão pelas crianças vítimas desses abusos, cujas vidas, ficarão marcadas para sempre? Por que certos empresários, autoridades, pais, parentes, vizinhos e amigos também enveredam por esse caminho promovendo sofrimento e dor arrancando de dentro desses inocentes a dignidade ainda em formação?

Para todos esses males e outros, como a discriminação pela cor, posição social, etnia, se busca uma explicação mais plausível, entretanto elas surgem sem nenhum conteúdo científico, apenas frutos de manifestações individuais de pessoas leigas ou especialistas nesses assuntos. Na verdade a índole de grande parte da humanidade tem se revelado má. Os direitos humanos são frequentemente violados, ora por abuso de autoridade, outras vezes por demonstração de poder e ainda pela discriminação contra índio, negro, moradores de rua... Não fosse, mesmo de forma ineficiente, a aplicação das normas constitucionais e infraconstitucionais, estaríamos vivendo um tempo de verdadeira barbárie.

Em um país democrático prevalece a vontade da lei, dai dizer-se “estado democrático de direito”, onde todos estão sob a égide da lei. Quando dizemos todos, estão incluídos os integrantes dos poderes e as autoridades das diversas esferas: federal, estadual e municipal. Perante a lei, somos todos iguais sem distinção de qualquer natureza. Afrontas e desrespeito a esse “estado de direito” tornou-se comum, o que é um perigo para a democracia. Também nos vem à pergunta: Por que isso acontece? Será que é pela gritante crise moral? Perguntas e mais perguntas sem as devidas respostas convincentes.

Estamos sem rumo, sem saber realmente o caminho a seguir. Não temos referências para nos espelharmos. Estamos sem líderes. Muitos daqueles que escolhemos para nos representar, para gerir a riqueza pública, se voltaram contra nós, e, em vez de preservar o patrimônio que a eles confiamos, o dilapidam e se enriquecem formando entre si, um bloco fechado, amparado por prerrogativas que criaram. Não temos força para romper esse bloco feito de imoralidade e poder. Um poder do mal, que o bem não tem sabido como combatê-lo. Vez por outra, surge, no meio de tantos, alguém que nos faz acreditar que é possível mudar e assim continuamos a viver alimentados pela esperança.

Diante desse cenário sombrio alguns concluem que, além de tantas outras, a falta de Deus pode ser uma das causas que justificam este estado de coisas. Fui buscar uma possível explicação para essa última assertiva, vez que também comungo, em parte, com ela. Como se trata de algo transcendental, em nenhum outro livro ou pesquisa encontraria as respostas a não ser no Livro Sagrado: A Bíblia. Vários relatos ali expostos nos levam à compreensão que Jesus viveu em um ambiente semelhante: de tramas, mentiras, favores e bastante hostil, onde o poder romano imperava com força e o imperador era reconhecido como deus, senhor da vida e da morte. A miséria, a insegurança, a falta de liberdade e os altos impostos, massacravam os mais pobres. Nesse cenário Jesus se apresenta com a pregação de uma boa nova, uma nova visão de vida, onde a prática do amor ao próximo seria o início de um novo tempo. Multidões O seguiam, não querendo aprender os seus ensinamentos, mas interessados em seus próprios interesses, dentre eles os milagres. Outros O acompanhavam como olheiros, a fim de levar às autoridades, as informações que pudessem comprometê-Lo. Hoje essa prática é chamada de dossiê.

Como um verdadeiro líder Jesus na sua trajetória terrena, se preocupava com o povo sofrido, principalmente com aqueles que estavam mais próximos: seus discípulos, pois sabia que em breve os deixaria, vez que se aproximava o dia fatídico de Sua morte. Jesus buscava a melhor forma de preveni-los para os futuros acontecimentos. Eram pessoas simples sem nenhum prestígio diante das autoridades, políticas e religiosas e, por certo, por serem seus seguidores, seriam afrontados, perseguidos e até mortos. Então em uma conversa franca disse-lhes que em breve teria que partir e que eles, os discípulos, saberiam o caminho para reencontrá-lo. Ficaram surpresos. Tomé, indagou: como saber o caminho? Respondeu-lhe Jesus: “Eu sou o caminho a verdade e a vida ninguém vem ao Pai senão por mim”. E começou a preparar-lhes os espíritos contando-lhes a seguinte parábola:

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto, limpa para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado: permanecei em mim e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo, sem permanecer na videira, assim nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim.”

Eu sou a videira, vós os ramos. Quem permanecer em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer... “

A orientação dada foi que os discípulos, e hoje, todos nós, permanecessem unidos à videira para que pudessem produzir bons frutos (amor, fraternidade, respeito, compaixão...), mesmo àqueles que se acham limpos, sem pecado. A regra é clara: Sem Jesus não é possível ser feliz.

Será que esses desmandos, essa falta de amor, de fraternidade, de bom senso, de respeito, de moral, de vergonha, acontecem por estarmos desligados da videira verdadeira? Por estarmos a cada dia, nos distanciando da seiva divina, de que tanto necessitamos? De estarmos nos desviando do olhar de Deus, dando-Lhe às costas e seguindo caminhos traçados por nós mesmos? Ele enfatiza que nós, os ramos, não podemos produzir frutos se não estivermos ligados à videira: Jesus, nem mesmo os que se consideram limpos, puros. Para produzirmos os frutos verdadeiros temos que permanecermos ligados ao tronco principal.

Nessa nossa busca de respostas, devemos refletir sobre as palavras de Jesus e nos colocarmos como galhos. Se os frutos produzidos forem bons, estamos ligados a Ele e, por consequência, viveremos felizes. Se os frutos são ruins: roubos, estupros, assédios, moral e sexual, riqueza indevida, desobediência, ganância, bajulação, desvio de recursos destinados aos mais carentes... Então somos apenas galhos secos, que não servem para nada a não ser para serem lançados ao fogo.
 

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  • ALEXANDRE TANCREDO PEREIRA RIBEIRO Já tinha certeza que ser um jurista de sucesso depende, principalmente, da eloquência que pratica; qualquer dos citados predicados, está intrinsicamente ligado ao outro. O amigo esbanja os dois com incrível maestria.