Ano Novo, velhas memórias
Encerro o ano de 2009 com 4.676 programas jornalísticos levados ao ar pela frequência 97,3 da Rádio Penedo FM.
Em 2010, exatamente em 15 de outubro, se a vida permitir, celebrarei Bodas de Prata no rádio.
Serão 25 anos desde que, a convite de Luis Carlos de Oliveira e o saudoso Arivaldo Lopes, iniciei minha carreira na Emissora Rio São Francisco como comentarista do Programa Tribuna Eletrônica.
Naquela época de abertura democrática, instalavam-se no Brasil as primeiras Delegacias de Defesa da Mulher e começava-se a falar mais abertamente sobre todos os assuntos, inclusive os que incomodavam as autoridades como as diversas faces da liberdade. Liberdade de expressão, liberdade para pensar, liberdade para escolher, liberdade para agir.
Dizer abertamente o que se quiser dizer é uma conquista que a maioria ainda não entendeu a importância e muito menos a extensão da responsabilidade que lhe cabe.
1985 foi o ano em que o Brasil recomeçou. Há um livro com esse título, de autoria de Edmundo Barreiros e Pedro Só, jornalistas que narraram o que de pior e melhor o Brasil viveu naquele ano.
E foi para falar sobre mulheres que me convidaram. Falar sobre a violência contra a mulher, falar de sonhos, de lutas, de preconceito e de tantos outros problemas enfrentados por nós. Na verdade era para falar sobre mulher feminista e mulher feminina, como se fosse possível seccionar a alma.
Assim foi até o início de 1986, quando a consciência de que a cidade, junto com todo um país, trilhava um caminho sem volta em direção à democracia ampliou os horizontes e nasceu o Programa Palavra de Mulher.
Palavra de Mulher era o Lance Livre de hoje sem produção sofisticada, sem estrutura, sem internet, com notícias colhidas pela Rádio Globo, a Hora do Brasil, os jornais televisivos, com editoriais de Batista Pinheiro, noticiário de Evaldo Araújo e Daniel Carvalho como operador de áudio.
Não havia externas e a participação do ouvinte através do telefone ainda era muito tímida. As pessoas tinham receio de participar, de serem reconhecidas através da fala. Mas elas escreviam, faziam denúncias, reclamavam e sugeriam. E eu, para protestar, escrevía poemas.
Cidade mortal, mal iluminada,
Berço da cultura mal administrada.
Cidade mortal do Mercado imundo,
Do interesse pessoal,
Da população sem rumo.
Cidade mortal do prefeito ausente,
Que se desmorona
Na vaia presente.
Cidade mortal sem mercado de peixe,
Querem enterrá-la, por favor, não deixe.
Cidade mortal dos aposentados,
Dos funcionários ignorados.
Cidade mortal, sem teatro, sem fama,
Coberta de mato, de lixo, de lama.
Cidade Penedo,
Cidade mortal,
Cidade de cegos,
Cidade atual.
Lá permaneci até o início de 1989, quando fui trabalhar com o então deputado federal Albérico Cordeiro em um projeto de implantação de outras emissoras de rádio em Alagoas e na sua assessoria parlamentar.
Na Emissora Rio São Francisco muitas matérias foram marcantes para nós comunicadores e a mim, em especial, nesse período de redemocratização do Brasil. A promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, no dia 5 de outubro de 1988, a chamada Constituição Cidadã, foi uma delas.
A eleição de 15 de outubro de 1988 que mudou os rumos da política de Penedo, quando foi eleito o chamado “cortador de cana” José Valério da Silva, o Zé Alves, para governar a cidade em uma disputa com a irmã do então vice-governador do estado, Moacir Andrade, foi outra notícia marcante veiculada através do estúdio improvisado no Ginásio de Esportes Padre Manoel Vieira.
E, ainda, uma outra, cujos áudios começamos a receber pelos correios em fitas cassetes no final de dezembro de 1988, que narrava um episódio que ficou conhecido como O Massacre de Volta Redonda.
Aparentemente nada tinha a ver conosco. Era uma greve de metalúrgicos, acontecera no Rio de janeiro, na cidade de Volta Redonda, mais precisamente entre os operários da Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN. No entanto, os tiros detonados naquela manhã de 9 de novembro ecoaram por todo o Brasil.
Segundo alguns analistas políticos, ali nasceu o projeto neoliberal para o país.
Em 1º de junho de 1990 iniciei minhas atividades na Rádio Penedo FM. No dia 11, às 7 horas da manhã, sob alguns velados protestos, entrava no ar o programa Personalidade 97. Em fevereiro de 1995 assumi a direção da Rádio Penedo FM.
Quase 20 anos depois, estamos no ar. Isso responde a muitas perguntas e o silêncio que paradoxalmente guardo, para alguns, há quase 20 anos, mostra que quem não entende o silêncio, não entende nada.
Feliz 2010!
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