04 Julho 2007 - 22:16

Nosso paraíso tropical

Sobrevivência é palavra chave no mundo da prostituição feminina. De uma forma ou de outra, todas elas estão tentando se manter diante de um mundo adverso - e escolheram o sexo profissional por inúmeras razões. Mas o fazem numa mistura contraditória de prazer e sofrimento. Na ficção, como é o caso da atriz Camila Pitanga, que interpreta o papel de uma garota de programa, a Bebel, na vida real muita coisa não muda, a não ser que se trata da realidade nua e crua.

Na opinião de Helen (nome de guerra), o papel interpretado pela atriz condiz com a verdadeira realidade das prostitutas: sem estudos, carentes do apoio da família e passando por necessidades, encontram na atividade da chamada “mulher da vida” a mais palpável forma de sustento. O desabafo de Helen, na verdade, um sonho: “Na novela, a Bebel passa e deseja tudo aquilo que a gente quer, ou seja, sair dessa vida, casar, ter filho e constituir uma família”.

                                         

“O casamento acabou”

A jovem contou que começou a se prostituir aos 20 anos para deixar a pobreza e criar seus três filhos. “Entrei nessa vida por necessidade, pois tenho três crianças para sustentar”.  Antes de se prostituir, Helen levava uma vida normal como qualquer garota de sua idade.

Casou-se, teve filhos e trabalhava - vendia confecções. “Depois de algum tempo o casamento desandou – conta -, o comércio faliu e sem ter alternativa, em 2004 me vi obrigada a comercializar o meu corpo para sustentar meus filhos”. Helen garante que, antes de fazer programa, procurou emprego em bares, restaurantes, lanchonetes e nada encontrou. “O desemprego me levou a isso, como também a necessidade de sustentar as crianças” - lamenta.

 

Do luxo ao lixo

Espelho das garotas de programa, Helen, hoje com 23 anos de idade, diz não gostar do que faz e se tivesse mais uma vez a oportunidade do passado, jamais iria para as ruas se prostituir. “Com isso, adquiro o alimento e a educação dos meus filhos mas queria mesmo era reconstruir minha família”.

Fabiane de Araújo Santana, 20 anos e mãe de um casal de gêmeos, começou a se prostituir há um ano. Ela conta que não ver a hora de sair da vida, pois se sente humilhada em ter que ir para a cama com vários homens que não conhece e por dinheiro. “Fiz essa opção devido às necessidades que vinha passando com meus filhos e não por prazer” - confessa.

A garota revela que, há dois meses, estava trabalhando, e que, a exemplo da Bebel da novela, perdeu o emprego e se viu obrigada a voltar para a “pegação” nas ruas e “alugar” seu corpo. “Passei seis meses sem andar nas ruas, sem me prostituir porque estava trabalhando, mas agora no momento como estou desempregada, tive que voltar. Trabalhava como diarista, três vezes por semana”.

Sobre a “profissão”, Fabiane tem um olhar crítico, que, na verdade, põe à mostra o que a maioria pensa: “É mais sofrimento que prazer, porque ir pra cama com pessoas que a gente não conhece a sensação é inexplicável”.

Fabiane Santana e Helen  dizem que o faturamento “depende da noite” e, muitas vezes, da “generosidade dos clientes”: algumas  conseguem de R$ 100 a R$ 200, enquanto muitas voltam pra casa sem um tostão. “Umas fazem programa por R$ 30,00 outras por R$ 50,00” – enfatiza Helen.

Violência e preconceito

Olhos marejados de lágrimas, Fabiana Santana, que faz ponto na orla de Pajuçara, de segunda a sábado, conta que além da humilhação, sofre com o risco da violência e das doenças. No desabafo, diz já ter sofrido agressões físicas e acredita que a prostituição afeta o lado psicológico. "A gente vai perdendo a individualidade aos poucos. E isso eu não sei se dá para recuperar. Minha única força para agüentar essa vida são meus filhos".

Helen viveu um momento trágico: levou um tiro que atravessou suas costas. “Fui espancada por três homens. Só me safei dessa porque um tempo depois, um deles percebeu que  ‘tava’ vindo uma viatura da Polícia”.

A esperança das garotas de programa é reunir dinheiro suficiente para deixar a prostituição. Para Helen, seu nome de guerra, o preconceito e o estigma de ter sido "uma mulher da vida" não as abandonarão.

A única forma de superar todo o sofrimento e humilhação, na opinião delas, é tocar a vida, sem pensar muito no passado. “Serei chamada de prostituta para sempre. A vida é assim. Antes isso do que passar fome", resigna-se.

E completa: “Apesar de fazer sexo por dinheiro exijo respeito como pessoa, cidadã e mulher. Aqui no ponto sou uma pessoa, fora dele outra, em busca da felicidade”.

por Kelly Oliveira

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