13 Dezembro 2012 - 08:40

Aluno alagoano da rede pública é finalista na Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa

José Demétrio
Professora Fabiana Vieira ficou orgulhosa com a conquista do aluno Wernick Hakkimen

“Pegava um graveto e uma tampa de lixo e nem precisava fechar os olhos para ver uma espada e um escudo. Ao amanhecer, os coqueiros eram monstros; ao entardecer, cavaleiros; e novamente ao anoitecer, voltavam a ser monstros. Assim era o meu dia”. 'Memórias de um velho sonhador' é um texto escrito por Wernick Hakkimen dos Santos, 14 anos, aluno do 8º ano da Escola Estadual Professora Josefa Conceição da Costa, em Maceió, e que foi um dos cinco finalistas, na categoria Memórias Literárias, da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro 2012.

A história é baseada na sofrida infância do avô, Antonio Fernandes dos Santos, revivida e traduzida em parágrafos. O texto mostra as limitações de uma criança pobre que desde cedo precisou ajudar o pai, sem deixar de lado as brincadeiras e o mundo da imaginação, que teve a enxada como o primeiro brinquedo, necessária para capinar no calor do Nordeste.

A ideia de recontar parte da trajetória do parente surgiu com o tema determinado para a categoria, que foi “O lugar onde vivo”. Para participar das Olimpíadas, era preciso selecionar valiosos ingredientes: encontrar um forte personagem, entrevistá-lo e colocar em linhas suas experiências. “Nada melhor que conversar com meu avô, que teve uma vida difícil, mas não deixou que os obstáculos impedissem de viver a melhor fase da vida, que é a infância”, relatou o estudante.

Wernick Hakkimen é fã de Machado de Assis e atualmente dedica preciosas horas de seu dia à leitura das obras de Shakespeare. E foi o prazer de estar rodeado de livros que fez o aluno chegar tão longe na disputa, algo surpreendente para ele e todos os estudantes da escola estadual, que ficaram entusiasmados com o destaque do colega.

“Quando tive a oportunidade de produzir o texto não imaginava que conseguiria ter tanto destaque e ser finalista. Cada fase que passava e que via meu texto sendo selecionado ficava ainda mais feliz. Meu avô está muito emocionado, assim como toda a minha família”, relatou o jovem estudante, que mora com a mãe e uma irmã no bairro do Ouro Preto.

Foram disputas municipais, estaduais, regionais e a nacional, cuja premiação aconteceu na última segunda-feira (10), em Brasília, e reuniu estudantes e professores de todo o País, finalistas nas quatro categorias: Memórias Literárias, Poema, Artigo de Opinião e Crônicas. Todos foram agraciados com medalhas e alunos e professores receberam, cada um, tablets e os textos publicados num livro, eternizando as obras.

Incentivo à leitura

Quem mostra um demasiado orgulho é a professora de Língua Portuguesa, Fabiana Vieira. Foi ela a maior incentivadora das turmas e que ministrou as oficinas preparatórias para a produção dos textos. O trabalho teve início com a distribuição dos materiais pela comissão organizadora do concurso, onde continuam as atividades que deviam ser desenvolvidas junto aos estudantes até a conclusão do texto final. “Foi um grande processo e um rico material recebido pela escola. Fui responsável pelas turmas do 8º ano, com 60 alunos no total. Trabalhamos diversas leituras e a forma de como produzir uma memória literária”, explicou.

Ela conta que o estudante sempre demonstrou um grande interesse pela escrita e, segundo relatos da mãe, desde cedo costumava praticar, produzindo poemas. A competição veio como uma maneira de manter viva nele, e em tantos outros alunos, o gosto pela leitura e sua a importância no processo do aprendizado. “Temos trabalhado nisso com nossos alunos, porque a escrita é consequência da leitura, que amplia o vocabulário e só traz bons frutos”.

Conseguir destaque num concurso nacional mostra, segundo Fabiana Vieira, que apesar de todos os obstáculos enfrentados pelas escolas públicas é possível produzir um ensino de qualidade, formando cidadãos que irão fazer a diferença no futuro.

“Esse prêmio é fruto de todo um trabalho que estamos desenvolvendo em sala de aula. Lógico que ficamos surpresos com a conquista, mas sabemos que foi muito merecida e, além disso, é um estímulo para que mais alunos busquem o prazer pela leitura”, emendou a professora.

Já para Wernick Hakkimen, importante mesmo foi poder eternizar em palavras um pouco de sua história. “Meu avó me ensinou muitas coisas ao questionar a nossa forma de ser criança. Hoje, vivemos dentro de casa na frente dos computadores, enquanto as brincadeiras com outros colegas são deixadas de lado. Fico orgulhoso em poder dividir essa experiência com todos”, finalizou o jovem, que pretende seguir carreira de escritor.

Outras premiações

Além de Wernick Hakkimen, outros dois estudantes de escolas da rede pública tiveram destaque no concurso. Sanielly Lourenço da Silva, da Escola Municipal de Educação Básica Professora Gerusa Costa Lima, em Maceió, foi finalista na Categoria Poema, com o trabalho 'Jacintinho: O Bairro Onde Moro'; já Eraldo Crispiniano de Góes, da Escola Estadual de Educação Básica Manoel Lucio da Silva, em Arapiraca, foi finalista na categoria Artigo de Opinião, com 'Educação versus Segurança Pública'.

por Agência Alagoas

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