15 Junho 2009 - 18:15

Presidente Lula concede entrevista coletiva em Aracaju

Entrevista coletiva concedida pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, após cerimônia de inauguração do Centro Estadual de Educação Profissional José Figueiredo Barreto e assinatura de contrato das obras da ponte sobre o rio Piauí

Jornalista: O senhor termina o seu mandato feliz, satisfeito?

Presidente: Veja, primeiro falta um ano e meio para terminar o mandato, ou seja, tem tanta coisa para acontecer neste país ainda. Mas eu estou convencido de que nós fizemos mais do que se imaginava fazer. Certamente não fizemos tudo o que no Brasil precisa ser feito, mas fizemos muito mais do que em qualquer outro governo. E nesse um ano e meio vão acontecer muito mais coisas, porque agora é que a máquina está engrenada, agora que se quebraram barreiras imensas que duraram um ano, dois anos, de forma que eu acho que vai acontecer muita coisa no Brasil ainda.

Jornalista: A PEC do terceiro mandato...

Presidente: Veja, eu não tenho discutido isso porque eu não acho que o Brasil precisa de um terceiro mandato. O Brasil precisa consolidar a democracia. A alternância de poder é sempre muito importante. Eu já cumpri com a minha obrigação, ou seja, eu quero terminar o meu mandato feliz e torcer para quem vier depois de mim.

Mais duas perguntas.

Jornalista: (incompreensível) para melhorar a imagem do Senado, que está sofrendo queixas de (incompreensível) por conta dos problemas que tem lá dentro (incompreensível).

Presidente: Olha, deixe-me falar: é muito difícil para um presidente da República ficar dando palpite sobre o outro Poder. Como é difícil também eles falarem do Poder Executivo. Eu acho que o Senado certamente resolverá os seus problemas.

Jornalista: (incompreensível) obras e investimentos para o estado de Sergipe?

Presidente: Veja, o estado de Sergipe, até 2010, em todas as obras previstas, o volume dá quase R$ 9 bilhões. Uma coisa que vocês precisam pesquisar e saber é o seguinte: podem pesquisar os últimos 30 ou 40 ou 50 anos, que não tem nenhum momento na história deste país em que o governo federal construiu parcerias com os governos estaduais e com prefeituras, ou seja, nem as prefeituras nem os governos dos estados nunca receberam a quantidade de recursos que estão recebendo agora do governo federal. Por quê? Porque nós resolvemos construir as coisas juntos. O Déda foi prefeito aqui, no meu governo e em outro governo. Você pode pegar pessoas que foram governadores em outro período. Certamente não receberam. Eu tenho certeza de que nesses oito anos, em alguns estados do Brasil, nós colocamos mais dinheiro em oito anos do que colocaram em 40 anos.

Jornalista Sobre a crise financeira. O senhor acha que o Brasil já passou pela crise financeira? (incompreensível) as previsões e dados do IBGE, os dados que foram divulgados na última terça-feira?

Presidente: Olhe, eu acho que nós poderíamos ter dados melhores do que aqueles se não houvesse um certo pânico em alguns setores empresariais brasileiros. Se a indústria automobilística, por exemplo, não tivesse dado férias coletivas para desovar os seus estoques, certamente a produção industrial seria maior. De qualquer forma, eu tenho dito sempre que o Brasil foi o último país a entrar na crise e seremos o primeiro a sair. Os dados que estão acontecendo, divulgados pelo IBGE, demonstram claramente que nós já demos uma guinada para cima importante.

Acho que neste ano, o PIB vai ser positivo e nós vamos continuar pensando no ano que vem. Por quê? Porque o Brasil hoje tem uma balança comercial muito diversificada, tem uma relação comercial ainda mais diversificada e não há porquê o Brasil não crescer. Ou seja, o governo fez muitos investimentos, o povo brasileiro acreditou e consumiu bastante – tanto é que o comércio varejista continua crescendo, o comércio no atacado – e eu acho que o Brasil vai ensinar muitas coisas ao mundo sobre esta crise.

Jornalista: (incompreensível) CPI da Petrobras.

Presidente: A CPI da Petrobras é um problema do Congresso.

Jornalista: De onde o Brasil tirou dinheiro para emprestar 10 bilhões ao FMI?

Presidente: Veja, nós tínhamos reservas e esse dinheiro, quando fizemos a reunião do G-20, em Londres, nós decidimos que todos os países deveriam aportar recursos ao FMI para que ele pudesse emprestar para os países menores que tinham sido afetados mais drasticamente pala crise. E o Brasil tem 207 bilhões de reservas. Esse dinheiro emprestado... portanto, as reservas continuam 207, porque o dinheiro está emprestado. Uma mudança substancial no Brasil. O Brasil que passou muitos anos pedindo dinheiro ao FMI, dessa vez nós falamos: “Não, nós temos dinheiro para emprestar para você”. É porque o Brasil ficou mais forte, o Brasil está com a economia arrumada, o Brasil está com grande estabilidade econômica, então tudo fica mais fácil de ser feito. E a gente só conseguiu isso pela compreensão do povo brasileiro, que nos ajudou nesse período, o Congresso Nacional, que nos ajudou nesse período e a sociedade...

Jornalista: (incompreensível) presidência do PT.

Presidente: Não peçam para eu dar qualquer palpite sobre a presidência do PT, porque faz quase oito anos que eu não vou a uma reunião do diretório do PT. Agora, se o José Eduardo quiser ser presidente do PT, será um baita de um presidente do PT. E no dia em que eu for votar, pode ficar certo que meu voto é dele.

Gente, obrigado. Obrigado, querido.

Jornalista: (incompreensível)

Presidente: Essa viagem é extremamente importante porque vai ser a primeira reunião dos Brics – Rússia, China, Brasil e Índia – ou seja, esses três [quatro] países juntos têm sozinhos quase um terço da população do Planeta. São países que têm um potencial de crescimento por causa do seu mercado interno e eu penso que nós vamos discutir coisas importantes, para quê? Para que a gente chegue à reunião com o G-8 mais fortalecidos, que a gente chegue à reunião do G-20 mais fortalecidos, e também estabelecer uma parceria, eu diria, sobretudo, sobre as complementaridades que tem que ter entre o Brasil e outros países.

Com a China, nós temos uma balança comercial muito forte, de quase US$ 40 bilhões, mas ainda não é tão forte com a Rússia e não é tão forte com a Índia. Nós temos um programa de chegarmos a US$ 10 bilhões com a Índia e isso (incompreensível) muito trabalho. Essas coisas são muito fáceis de falar e muito difíceis de fazer, por quê? Porque nós temos que mandar muitos empresários [para] lá, eles têm que mandar muitos empresários aqui. Nós temos que ir muitas vezes lá e [eles] têm que vir muitas vezes [para] aqui. E eu agora vou até o Cazaquistão. Vou até o Cazaquistão abrir uma nova fronteira para que o Brasil possa vender os seus produtos.

Jornalista: O G-8 então está enterrado, Presidente?

Presidente: Deixe-me dizer uma coisa. Do ponto de vista político, o G-8 é um grupo que se organizou, mas do ponto de vista político, a crise mostrou que o G-8 não é o fórum para discutir uma crise dessa envergadura, que precisa ter outros países. Então, o G-20. Então, eu acho que o G-8 vai continuar existindo, vamos ver, nós temos a França, a Inglaterra, o Japão... Todo mundo que defende que haja uma abertura no G-8, que ele já não representa mais. De qualquer forma, eu sou convidado para a reunião do G-8 mais 5, agora já é mais 6, ou seja, na verdade não é mais G-8, é G-14 agora porque o Egito está entrando. Em cada reunião dessa eu vou porque eu acho que o Brasil tem que falar. Em política, quem fica quieto nessas discussões no fundo, no fundo, vai perdendo espaço.

Eu acho que finalmente as coisas estão mais consolidadas no Brasil. Eu fiquei muito feliz com os números do IBGE porque... um pouco triste porque caiu mais do que eu esperava que fosse cair o PIB, mas muito menos do que alguns analistas e muito menos ainda do que os meus adversários, por isso eu estou feliz.

Gente, fique com Deus.

 

por Carlos Augusto - Jornal de Feira de Santana

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