22 Janeiro 2011 - 16:00

Alfarrábios são alternativa boa e barata

Livros em bom estado de conservação e que custam pelo menos 75% mais barato – se comparados ao preço de mercado – podem ser adquiridos facilmente pelos leitores alagoanos. Em Maceió, mais especificamente na Rua Pontes de Miranda, no Centro, 10 alfarrábios e 17 barracas se mostram resistentes à ação do tempo e ao advento de novas tecnologias, guardando milhares de obras que estão à espera do leitor.

Diante do número reduzido de livrarias existentes no Estado, os alfarrábios podem ser apresentados como uma alternativa que, muitas vezes, acaba passando despercebida em meio à paisagem confusa e movimentada do Centro da cidade. Além dos livros, vinis, fitas cassete, CDs, DVDs, revistas e gibis também podem ser encontrados. Um leque de opções que inclui, inclusive, obras raras.

Para quem deseja se desfazer de algum livro que não vai mais ter utilidade, como os didáticos, os alfarrábios também são os lugares ideais. Isso porque, além de comprar, os clientes podem levar obras para vender ou trocar por outro livro. Uma garantia de que tanto cliente, quanto vendedor, vão ficar satisfeitos.

José Augusto da Silva, 39 anos, que trabalha com a venda e troca de livros desde que tinha 17, é dono de um dos alfarrábios existentes no “paredão da Assembleia”, atividade que foi passada de pai para filho e com a qual ele conseguiu garantir o sustento da família desde cedo até hoje.

O pai dele, já falecido, Benedito Ferreira Lima, foi a primeira pessoa em Maceió a perceber que livros usados também podiam ser negociados. Cheio de orgulho, José Augusto – conhecido como “Filho do Biu” – conta como tudo começou. “Meu pai carregava os livros em uma carroça e despejava no chão da praça da Assembleia. As pessoas que passavam gostavam e se aproximavam para comprar. Nessa época eu tinha uns sete anos e já o acompanhava”, afirma.

Ele conta que consegue comercializar uma média de 200 livros por mês e enfatiza que as obras de alagoanos são as mais procuradas. No Alfarrábio Entre, Visite e Compre, de José Augusto, os talentos da terra possuem um espaço exclusivo em meio a tantas estantes. “Os livros de alagoanos são os mais vendidos. Muitas vezes os próprios autores aparecem por aqui”, conta.

Inovação

Um outro cantinho que também guarda milhares de histórias é o Alfarrábio Herói dos Livros, que possui mais de 22 mil títulos para venda e troca. Lá, a tecnologia da internet tem sido utilizada para incrementar os negócios e garantir facilidades para o cliente.

Por meio do site www.heroidoslivros.ucoz.com, as pessoas podem fazer buscas, reclamações, elogios, propor troca ou venda de produtos. Nessa época de aquisição de livros escolares, a disponibilidade dos produtos está bloqueada, mas a página deve voltar a funcionar normalmente até o mês de março. O Herói dos Livros também é cadastrado no site nacional estante virtual (www.estantevirtual.com.br), onde os leitores podem buscar e fazer comparações de preços das obras em vários alfarrábios do país.

Para o proprietário Romildo Silva, que trabalha na área desde 1985, as obras mais procuradas durante todo o ano são as de nível superior, apesar de nessa época do ano os livros didáticos serem o carro-chefe das vendas.

Rommy, como é conhecido, gosta de inovar e utilizar estratégias que garantam o retorno dos clientes ao estabelecimento. As pessoas que adquirem um livro didático no alfarrábio – seja por meio de troca ou de compra –, por exemplo, recebem um carimbo garantindo um desconto de 50% na troca do livro didático para o ano seguinte.

“Por exemplo, a pessoa chega aqui com o livro do 1º ano para trocar pelo do segundo. Nós fazemos a negociação e ela leva o livro do 2º ano para casa com um carimbo que vai garantir um desconto na hora em que ela vier trocar pelo do 3º ano”, explica.

Para garantir que sempre haja novidades, Rommy mantém contato com uma série de clientes que costumam vender ou trocar livros para o alfarrábio, além de anunciar o interesse pela compra das obras em rádios, jornais e na internet. Ele também costuma aproveitar as promoções e queimas de estoque feitas pelas livrarias com as quais mantém contato, o que faz com que livros novos a um preço mais acessível também possam ser encontrados no Herói dos Livros.

“No sebo você encontra livros a um preço muito mais barato. A diferença de preço para as livrarias chega a 75%”, destaca.

Obras raras também fazem parte do acervo dos alfarrábios. Por terem sido publicadas há muitos anos ou por possuírem autógrafos de seus respectivos autores, elas tornam-se especiais e, apesar de estarem à venda, não ficam disponíveis nas prateleiras. “Temos muitas obras raras, mas elas não ficam aqui. O livro mais antigo que eu tenho aqui é de 1935. O cliente que se interessar marca um dia comigo e eu trago o livro para que ele veja”, explica Rommy.

Nas barracas que ficam encostadas ao paredão, mais histórias guardadas. Dorival da Silva é um dos protagonistas. Ele começou vendendo confeitos, acabou pegando gosto pelos livros e revistas e há 30 anos trabalha na área.

Apesar de reclamar do fraco movimento, o comerciante conta que recebe muitas encomendas e que possui clientes fiéis, que sempre dão uma passadinha na barraca para conferir as novidades. Com preços bastante atrativos, que variam de R$ 2 a R$ 20, Dorival não esconde o contentamento de trabalhar com livros. “Troquei os confeitos pelos livros e desde então, não faço outra coisa”, conta.

José Augusto resume em poucas palavras o amor pela profissão. “Como é gostoso trabalhar com livro. Se pudesse, passava todo o tempo aqui”, diz.
 

por Agência Brasil

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