18 Dezembro 2010 - 18:00

Canoa de tolda “Luzitânia” é tombada pelo Iphan

Divulgação
Canoa de tolda Luzitânia agora é patrimônio tombado pelo Iphan

Uma canoa de tolda reconstruída artesanalmente é agora patrimônio brasileiro material e imaterial registrado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O tombamento da “Luzitânia” é o reconhecimento oficial do restauro e da retomada da navegação com a embarcação típica do Baixo São Francisco entre Alagoas e Sergipe, modelo que serve principalmente para transporte de carga e atualmente em extinção.

O processo de reconstrução da “Luzitânia” contou com a participação de mestres ribeirinhos, como o falecido carpinteiro Nivaldo Sena, responsável pela recuperação da estrutura da canoa de tolda. Peças de ferragens foram trabalhadas, a ferro e fogo, pelo Mestre Lula, em Piaçabuçu, sendo as velas costuradas pelo mestre Aristides, em Penedo, dentre outros autores de peças para a embarcação, todas fabricadas de modo artesanal.

Recuperação coordenada pela ONG Canoa de Tolda

Todo esse trabalho foi coordenado pela Canoa de Tolda – Sociedade Sócioambiental do Baixo São Francisco, uma organização não governamental (ONG) e atual proprietária da embarcação. A entidade tem sede em duas cidades situadas às margens do “Velho Chico”, uma em Piaçabuçu-AL e a outra em Brejo Grande-SE, “porto mais tranquilo que encontramos na região para a Luzitânia”, explica Carlos Eduardo Ribeiro Júnior, o ‘descobridor’ desse tesouro do “Velho Chico”.

Navegando no rio em 1999, Carlos Eduardo viu a “Luzitânia” pela primeira vez. “Foi em Gararu (Sergipe), já em condições precárias de conservação. Cerca de um ano depois, encontramos a embarcação praticamente afundada em Curralinho (povoado ribeirinho de Poço Redondo-SE) e iniciamos a negociação feita com o Fernandes de João Pidoca”, relembrou Eduardo.

Na disputa pela compra da canoa de tolda, a ONG ribeirinha venceu a concorrência com representantes do Museu do Mar, instituição sediada em Santa Catarina.

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Permanência e navegação da Luzitânia no BSF

“A nossa proposta incluía, além da recuperação seguindo os moldes tradicionais, a permanência da Luzitânia na região, com o compromisso de resgatar o uso para navegação”, acrescentou Carlos Eduardo. As promessas cumpridas estão documentadas em filme, o “De Barra a Barra”, título da primeira viagem na embarcação restaurada que em 2009 zarpou da foz do São Francisco com destino a Piranhas, ou seja, partiu do encontro entre o rio e o mar até a última parada na região sertaneja alagoana.

O trajeto refez o percurso tradicional das canoas de tolda entre Sergipe e Alagoas, muito comum e necessário antes da construção das rodovias, quando era o único meio de transporte de cargas chegadas de várias partes do Brasil e do exterior, mercadorias posteriormente levadas, por terra, para cidades do interior, em meio à paisagem de caatinga.

Resgate do encontro com uma ‘velha amiga’

Além de refazer a ‘Rota do Sertão’, o documentário que teve produção aprovada pelo projeto “Doc TV Brasil” mostra a satisfação do ribeirinho em rever uma ‘velha amiga’. Mas nem tudo é motivo de comemoração na viagem. Os impactos ambientais sofridos pelo rio São Francisco formam o pano de fundo do trabalho histórico. Trechos assoreados, inclusive com registro de encalhes em passagens que eram facilmente navegáveis até bem pouco tempo, pontuam o enredo do documentário ‘De Barra a Barra’.

Todo esse trabalho recebeu o merecido reconhecimento no último dia 10 de dezembro, depois de cerca de dez anos de tramitação no Iphan. O tombamento da “Luzitânia” aconteceu durante reunião do Conselho Consultivo do órgão federal no Rio de Janeiro, decisão aprovada por unanimidade. Carlos Eduardo acrescenta que mais três embarcações foram contempladas, todas tradicionais (o saveiro Sombra da Lua, da Bahia; a canoa costeira Dinamar, da baía de São Marcos, no Maranhão; e a canoa de pranchão da Lagoa dos Patos, Rio Grande do Sul).

“Um novo momento na história da cultura em nosso país”Divulgação

“O tombamento de embarcações tradicionais criadas pelas artes e pelos conhecimentos populares significa um momento novo na história da cultura em nosso país. A partir desta primeira iniciativa, passam a ficar mais claros e valorizados elementos que, ao mesmo tempo, são representantes do patrimônio material e imaterial de nossa cultura”, explica Carlos Eduardo Ribeiro Júnior no site da ONG.

Ele informa ainda que as quatro embarcações passam a constar no livro de Belas Artes da listagem de bens nacionais, sendo a Luzitânia o 26º bem tombado de Sergipe, referência que serve para ambas as margens do Baixo São Francisco.

“A partir deste momento, a canoa Luzitânia está oficialmente sob a proteção do governo federal, porém sendo sua proprietária e com ainda maior responsabilidade, a Sociedade Canoa de Tolda que não poupará esforços de sua parte para manter a embarcação ativa nas margens do rio”, assegura Carlos Eduardo no informe eletrônico. Não é à toa que a ONG já está convidada para levar a Luzitânia até a França em 2012, um evento internacional que já recebeu as jangadas do Ceará.


Serviço:

Canoa de Tolda

R. Jackson Figueiredo, 09 – Mercado Municipal 49995‐000 Brejo Grande SE Brasil

Tel‐Fax +55 79 3366 1246

End. Eletrônico canoadetolda@canoadetolda.org.br Internet www.canoadetolda.org.br
 

por Fernando Vinícius

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  • Henrique Esse Iphan não tem mesmo o que fazer, mas que bobagem essa de tombar tudo o que encontra, daqui a pouco será nosso salário que será tombado, congelado pra sempre!
  • fernando vinicius Henrique: o seu comentário serve como medida sobre o tamanho da ignorância geral sobre o questões que devem ser motivo de orgulho para nós brasileiros, em especial, alagoanos e sergipanos que residem às margens do São Francisco. O processo de recuperação da Luzitânia é algo digno de louvor, vc nem faz ideia do qto isso elevou a autoestima de muitos ribeirinhos q viram esse símbolo da região do BSF navegando novamente. Além disso, o Iphan não tomba \"tudo q vê pela frente\", existem CRITÉRIOS!!!!
  • Romildo da Silva Sabe qual é o problema do Iphan? Falta do quê fazer, que tal tombar os onibus de Penedo. São velhos pra caramba e já fazem partem do patrimônio da cidade.
  • Paulo Roberto Fernando Vinicios, bem colocada as sua palavras o nosso maior problema é que nossa cidade tem histórico de uma cidade culta, mais de culta não tem nada. Pense em um povo burro desinformado e preguiçoso que só sabe criticar.
  • Marcos André Fico muito satisfeito com essas matérias esclarecedoras!!! É muito importante para nossa cultura!!
  • Ednaldo Fernandes Aos desavisados! esse tipo de embarcação só existe no baixo São Francisco transportou todo tipo de mercadoria na época em que as estradas eram de terra batida e quase intransitáveis, e só se chegava a determinadas cidades nelas e nas lanchas, daí à necessidade de preservar-las para que os mais novos conheçam um pouco da história , a exemplo das \"gaiolas\" que existem no Rio Mississipi, Estados Unidos, que se tornaram atração turística, feliz o povo que preserva à sua memória.
  • marcelo titulo mais q merecido pois a canos de tolda foi quem fez a região desenvolver no passado !!! quem saber a historia dessas canoas saber o q significa !!!minha familia foi toda de canoeiros com muito orgulho!!!parabens iphan pelo reconhecimento!!
  • fernando vinícius Henrique: sou o autor da matéria q tem seu comentário inicial. Fiz questão de colocar minha análise prq sua avaliação exemplifica a falta de conhecimento e o desrespeito sobre o q deveríamos valorizar. Nesse sentido, tenha certeza q sempre serei \'puxa-saco\', como queira, do q temos de melhor. Ainda sobre seu 2º comentário, há uma contradição: vc acha q \'história não bota comida na mesa\', mas cita Salvador como exemplo, cidade q lucra muito com turismo histórico. Pense bem antes de escrever, OK!
  • Maciel Oliveira Parabéns ao Pessoal da Canoa de Tolda! Um trabalho maravilhoso que fazem em defesa do Velho Chico e da presenrvação cultural.
  • Marcos André Esse Henrique não deve ter a mínima ideia do que escreve!!! Fala mal do Iphan, diz que tomba tudo que vê pela frente e em um segundo momento parte para a ofensa aos companheiros comentaristas!!! A respota pra diferênça entre Penedo, Arapiraca e Salvador é uma só: em Penedo não tem administrador!! Salvador tem um tombamento muito mais restritivo que Penedo, porem, o turísmo é insentivado, as ruas são limpas, as pessoas solicitas (não vivem do dinheiro da prefeitura).