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Isabel Cristina Medeiros de Barros

Isabel Cristina Medeiros de Barros

Clínica Geral com Pós-Graduação em Medicina do Trabalho

Postado em 20/10/2009 00:18

Ônibus da Saúde

Por que após mais uma década de bons serviços prestados, o EXPRESSO DA SAÚDE hoje se encontra abandonado no pátio da secretaria de saúde?

Corta o coração ver aquele veículo esquecido, à exposição do sol, da chuva e do descaso do poder publico depois de tantos anos servindo à saúde da população penedense, principalmente dos povoados mais distantes.

A história do EXPRESSO SAÚDE começou em maio de 1999, quando o vereador Dr. Raimundo Jorge era o secretário de saúde e fui convidada pelo mesmo para fazer parte da equipe e fui a “médica do ônibus”, juntamente com os dentistas Dr. Robson Lessa e Dr. Ubiracy A. Dantas, além do motorista e cuidador do ônibus, o Sr José Rodrigues da Silva (Zé Taba), que conduziu o seu companheiro e nossa equipe por todos esses anos. Fizeram parte dessa história outros profissionais, mas não vou citar para evitar o esquecimento de alguém, pois todos foram importantes. Vale salientar que a gestão passada deu continuidade e realizou melhorias no serviço que foi mantido durante todo o mandato.

Lembro com saudades dos sábados em que a “princesinha do agreste”, nome carinhoso dado pelo motorista Zé Taba, enfrentava sol, chuva e caminhos difíceis para atender em locais onde a assistência médica e odontológica era escassa, conseqüência da distância ou a falta de profissionais no PSF local. Recebido com alegria, o “EXPRESSO SAÚDE” se transformava num Posto de saúde ambulante cujo atendimento era bem-vindo e necessário para várias famílias carentes de atenção. Às vezes, acordar às 6 horas da manhã nos sábados para enfrentar os longos percursos era penoso, mas no povoado o cansaço desaparecia, diante da ansiedade do povo em ser atendido. Perdi a conta dos almoços com galinha de capoeira; nos povoados Santa Margarida, Conrado I e II, Marizeiro, Palmeira Alta, Manibú, Pescoço; além dos peixes deliciosos do Pov. Marituba do Peixe, Capela, Cooperativas e tantos outros servidos após os atendimentos.

Devo ao “amigo ônibus” o fato de ter conhecido quase todos os povoados e sítios desse município durante os quase dez anos de atividade no mesmo. O EXPRESSO também prestou seus serviços aos presidiários em frente à delegacia, devido à dificuldade obvia de acesso ao atendimento médico e odontológico e aos comerciários, no centro da cidade.

Acredito que os pedidos das comunidades para a ida do ônibus continuem, assim como a solicitação dos vereadores, para a presença do mesmo onde se faz necessário, mas, se esses pedidos são feitos, agora não podem ser atendidos, devido ao estado de “decomposição” em que se encontra o bravo veículo.

Neste descaso do poder público, o meu “amigo ônibus” definha em silêncio naquele pátio e pode se transformar em mais uma “sucata da saúde”. Esperamos que os que fazem o poder “acordem” a tempo de salvar o veiculo que foi a salvação de muitos e hoje precisa de salvação.
Ah! Pelo expresso e pelos “companheiros de aventuras”, aproveito para mandar lembranças a todos os outros lugares que passamos e que nunca serão esquecidos! Tabuleiro, Catrapó, Carapina, Campo Grande, Ponta Mufina, Castanho Grande, Prosperidade, Espigão, Pescoço, Marcação, Itaporanga, Ibiras I,II e III..............

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  • João da Costa lembramos do seu Zé Taba, e toda a equipe do onibus que sagradamente aos sábados vinha visitar a pobresa, hoje o seu Zé não tá mais, e os médicos são outros, isto é o que mesmo, politica da saúde da família.
  • Nani Rodrigues Ótima matéria!!! É hora de seguir em frente e reinvindicar o direito á saúde! Não se poder calar! É preciso resistir e lutar pela garantia do direito universal: Saúde, direito de todos|!
  • Alexandre Tancredo Pereira Ribeiro Nossa cidade vez por outra experimenta o progresso mentorado por pessoas otimistas que visam o bem coletivo. Mas infelizmente estas coisas que nos chegam por intermédio das vias políticas, tem vida curta ou este político é contemplado com novos mandatos, que continuará dando sustentação ao progresso implantado. Eis que o cargo é preenchido por um novo político eleito, então... deixa no esquecimento qualquer coisa feito pelo seu antecessor; com medo de que o povo se lembre apenas de quem realizou a obra. Um ledo engano, pois é muito mais lembrado pelo povo quem a conserva!!! Parabéns, DRª. Isabel Cristina precisamos de pessoas que utilizam os meios de comunicação e não tem memória curta.
  • fernanda maria matos dotora Isabel a saudade é grande , aqui na cooperativa jamais terá uma médica como a senhora , tudo de bom para a sen hora e toda sua família e muito obrigado por tudo que senhora fez por mim e por meus filhos
Wilson Lucena

Wilson Lucena

Jornalista, pesquisador e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 15/10/2009 20:04

A jóia do Velho Chico

Há 150 anos, o Imperador D. Pedro II, no período de 14 a 18.10.1859, a bordo do vapor Pirajá, singrando as águas caudalosas do majestoso e lendário “Velho Chico”, empreendia uma viagem inédita e histórica, visitando, no lado alagoano, várias localidades ribeirinhas do circuito Piaçabuçu/Piranhas. Esta região pitoresca, dotada de uma natureza exuberante e rico patrimônio histórico, tão bem decantada pelo augusto monarca, também ganharia notabilidade pela grande vocação musical. Obviamente, que a cidade de Traipu é uma das expoentes dessa tradicional escola do Baixo São Francisco em disseminar a “Arte de Carlos Gomes”.

A tradição musical de Traipu remonta à segunda metade do século XIX, época de estrutura econômica frágil e do “coronelismo”. Motivado pela esperança da juventude de uma vida mais digna através do oficio musical, da necessidade da banda de música para alegrar as festas públicas e pela fé e tradição religiosa do povo traipuense, o ensino da música se firmaria na comunidade. Não demorou muito para que surgissem as primeiras agremiações musicais, que possivelmente foram precursoras da atual Lira Traipuense. No ano de 1886 era fundada a Sociedade Club Doméstico Musical Guarany, que teve como primeiro presidente o Sr. Manoel Firmino Menezes Matos. Desponta também nesse período outra corporação antiga: a União Traipuense Musical.

Os primórdios históricos da música em Traipu têm como referencial o musicista José Leopoldino de Barros. Nascido na cidade em 4 de janeiro de 1881 e falecido em 1912, aprendeu música com um telegrafista e musicista, Lino Ferreira Lima, aprofundando os conhecimentos musicais posteriormente na capital baiana. Tomou-se exímio executante de violino, bombardino e outros instrumentos, tendo ficado bastante conhecido pelos relevantes trabalhos prestados à frente de uma das bandas existentes à época. Outros disseminadores da “Arte de Carlos Gomes” na comunidade foram os mestres Vieira e Hermínio.

Embora o movimento musical já se fizesse intenso, a Igreja, através de seus representantes paroquianos, viria a exercer importante papel na transformação da comunidade traipuense em promissor centro musical. Graças ao grande incentivo do padre Alfredo Silva, que passou pela Paróquia de Nossa Senhora do Ó, de março/1911 a maio/1949, o ensino da música ganhou um impulso considerável. Dentre os discípulos do aludido pároco, merecem citação a Professora Mariazinha Duarte, D. Angelita, o Sr. Onofre Bispo, responsável pela formação de um coral sacro orquestrado, e Ranulfo Carmo.

Com a alcunha de “Nô Morcego”, o mestre Ranulfo Carmo se destacou como professor, compositor, exímio músico e regente, com passagem em bandas militares da Bahia, Sergipe e Alagoas. Sua importância é salientada porque possibilitou a formação de um grande número de músicos numa fase que o movimento musical estava bastante fragmentado. Foi o primeiro professor da escola de música José Leopoldino de Barros, criada em 14 de Julho de 1946, na então gestão do Prefeito Benedito de Freitas.

Todavia, foi o mestre Nelson Palmeira que teve a imagem mais rotulada à banda Lira Traipuense. De estilo ortodoxo, foi por muito tempo o regente da corporação, cargo que ocupou com abnegação e austeridade, até a sua mudança para a cidade de Arapiraca, onde instalou a banda local, que hoje leva seu nome. O velho mestre ficaria imortalizado, ainda, por um feliz acaso. Uma das glórias eruditas do país, o eminente regente traipuense Florentino Dias, fundador e titular da orquestra sinfônica do Rio de Janeiro, dentre outras daquela capital, foi seu discípulo.

A partir daí, começa o ciclo do maestro Antônio Basílio no comando da Lira Traipuense, que perdura até hoje. Aluno do mestre Ranulfo Carmo, exímio trompetista e profissional perfeccionista, mantendo uma equipe mesclada de musicistas experientes com jovens talentosos, foi o grande responsável pela tradicional boa performance da garbosa e elegante agremiação traipuense, mérito que muito se deve, também, ao seu parceiro e eventual substituto, Nelson Souza, grande músico, instrutor e arranjador.

Dos regentes da escola traipuense que tiveram destaque em outros estados, além do erudito Florentino Dias, merecem menção: Benome (1º Batalhão de Guardas RJ) – Aníbal Palmeira (Polícia Militar DF) – Ivo Pacheco (Exército Salvador), Paulo César Amorim (Esquadra da Marinha – RJ) – José Gerônimo ( Polícia Militar SE). De igual modo, são alvo de referência os geniais instrumentistas Capitão José Henrique (bombardino) e Adiel Mota (clarinetista).

Galeria de músicos: clarinetas: Adiel Mota – Luiz Lucarino – João Ribeiro do Nascimento Alfredo Oliveira Silva – Eudes Mota – Ranulfo Carmo – João Canuto – Nelson Palmeira – Ismerino da Alzira; requintas: Felix Tomé – Pedro Basílio; flauta: Benome; trompetes: Antônio Basílio – Renato Melo Silva – Antônio Andrade – Paquinha – Jorge Luiz da Hora – José Cavalcante – Antônio Lúcio – Toinho da Noêmia- Nilton Souza; trombones: Geraldo Camilo – Eduardo Cocorote – Aníbal Mota – Nenzinho Alfaiate – Ivo Pacheco – Adelmo André - Manoel Rodrigues; saxofone alto: Pedro Basílio – Manoel Basílio – Antônio Epifânio – Antônio Basílio Neto (Toinho) – Janderson Teixeira – Chumbinho; saxofone tenor: Benigno Mota – Jarbas Melo – Manoel Carvalho – Benedito Alencar; bombardinos: Nelson Souza – Capitão José Henrique – José Basílio – Gervásio Palmeira; trompas: Messias dos Santos – Eanes Silva – contrabaixos: Palmeirinha Mota – Luiz da Margarida – José Gerônimo – Antônio Melo – José Marques (José Bozó) – Manoel Messias – Luiz Galvão (José Cabeceira); bombo: Francisco dos Santos (Chico Pimenta) – tarol: Givaldo Melo – José de Ouro; pratos: Alfredo Melo (Jegue).
 

 

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  • Demosthenes Barbosa No tarol e zabumba faltou ser lembrado a figura ilustre de Damião Galego (Roger) ha muitos anos sempre presente nas majestosas apresentações da LIra Traipuense.
João Pereira

João Pereira

Advogado, escritor e atento observador da política

Postado em 09/10/2009 01:35

Mercadores da Fé: Os Novos Capitalistas da Ilusão

Será que em alguma época da humanidade, em termos proporcionais ao número de habitantes, houve alterações para mais ou para menos em se tratando de crenças religiosas? Creio que não existem dados a respeito. Mas não seria normal esperar que com o crescente conhecimento científico, notadamente dos últimos cem anos, houvesse um considerável decréscimo? Não é o que observamos. A religiosidade, sem dúvida, faz parte do instinto humano.

Muitas vezes, em tom de brincadeira, tenho dito que se eu fosse malandro, tivesse o dom da palavra aliada à dramaticidade hipnótica dos grandes pregadores, iria fundar a minha igreja. Escolheria um nome pomposo e chamativo. Seria uma boa isca chamá-la de Igreja dos Prazeres da Vida Eterna. Teria de atualizar-me com as escrituras. Acho que não teria disposição para reler o Antigo Testamento, chato a bessa, mas faria ao menos a do novo. Para facilitar-me ainda mais, buscaria ajuda de um grande estudioso da área e destacaria as melhores a apropriadas citações dos profetas, dos evangelistas e das epístolas de São Paulo, necessárias à minha pregação – enganação. Para tanto, teria de representar muito bem como se fosse um autentico crédulo da Bíblia. O importante é parecer ser autêntico e ter o dom do convencimento. Muitos evangélicos que estão a pregar por aí afora são ateus e estelionatários. Edir Macedo, fundador da milionária Igreja Universal é cínico e ateu. Você já teve a oportunidade de ver, via internet, o fausto como vive nos Estados Unidos? É o mais acabado malandro da fé. Grande ator da arte representativa!

Nada mais verdadeiro que o ditado popular que diz “Triste do sabido se não existissem os tolos”. Na atualidade, graças aos meios de comunicação em massa, existe alguma matéria-prima mais importante para gerar dividendos a favor dessa nova classe de pregadores da ilusão divina perante a massa ignara? Quando falo em classe é porque, incrivelmente, existem muitos espertos cada qual a alegar que a sua Igreja é a que prega, de fato, a palavra de Deus. Não percebem eles e os que crêem que a Bíblia seja depositária da palavra do Criador que, se verdade fosse, não comportaria dissensões. Não é ela a mesma para todos os cristãos? Por que tantas divergências de interpretação? Contradição não tem nenhuma afinidade com a verdade. O que é, é. Não podem existir duas verdades, uma repele a outra. Toda essa mixórdia prova apenas, de forma irrefutável, que as religiões são criações puramente humanas. Para as pessoas de grande fé, no entanto, não existem argumentos suficientemente convincentes capazes de abalar suas convicções. É o mais insondável dos mistérios do homem.

Dizia Marx que a religião era ópio do povo. Em seu historicismo ou dialética sobre os sistemas de produção, acreditava nas passagens sucessivas do feudalismo, capitalismo, socialismo e por fim o comunismo onde o homem, isento dos grandes conflitos, teria o suficiente segundo as suas necessidades e não segundo às suas possibilidades. Quero acreditar que Marx, materialista e ateu, com o seu comunismo, pretendia criar o paraíso na Terra. Caiu na mesma utopia do éden celestial. Entre ambos existem duas diferenças. O primeiro, realiza-se aqui na Terra e em vida e o outro no céu após a morte. De outro lado, segundo entendo, têm uma coisa em comum: o comunismo, exceto entre as tribos primitivas, é impraticável numa sociedade civilizada onde predomina a competição e o desejo de ascensão social, e quanto ao celeste é, filosoficamente, absurda a sua concepção. Até no pensamento o paraíso é um enorme enfado.

As utopias sempre fizeram parte do pensamento do homem, tendo como inspiração , acredito, resquícios da fantasia infantil, aliada à impotência para atingir as mais elevadas aspirações. Quem tiver a oportunidade de assistir pessoalmente ou pela televisão o desenrolar da oração carismática ou a pregação exaltada do pregador evangélico, dominando a platéia, perceberá a fragilidade dos fieis submissos a fé, a gritarem de braços levantados, lembrando a súplica de um náufrago a pedir perdão de seus pecados para ter acesso ao céu e, na sua ansiedade, seriam capazes até de tomá-lo de assalto. Não é a fé em si, sentimento positivo nas pessoas sensatas e equilibradas, isentas da exploração, mas o desequilíbrio emocional de tantos ingênuos e ignorantes que criam o campo propício à rapacidade dos espertos.

E assim caminha a humanidade, de um lado a rastejar e do outro, na companhia dos mais altos e criativos pensamentos ou nas asas da fantasia das grandes utopias. Existe campo mais fértil e propício ao assalto dos novos capitalistas da ilusão?

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  • Minervino Cristo não é Religiao, Cristo é Vida
  • aleckse Concordo contigo nobre jornalista,mas o que me causa grande indignação, é saber que a cada dia surgem outros edir macedos da vida, e fica por isso mesmo, não se faz nada ou não se pode fazer nada.
  • MARQUES É VERDADE E O INTERESSANTE É QUE AQUI EM PENEDO TEM MAIS IGREJAS DO QUE FIÉS. O CARA ALUGAR UM GALPÃO, COMPRA A PRESTAÇÃO VÁRIAS CADEIAS DE PLÁTICO E !!! LEGAL COMEÇA A GANHAR DINHEIRO.
  • Edir essa sua preocuapação só passa a exisitir, a partir do momeno em que os empreendimentos religiosos são bem sucedidos... Quem é o verdadeiro HIPÓCRITA nessa história???
  • Alexandre Tancredo Pereira Ribeiro Aproveito esta "deixa" para uma discordância construtiva de alguns aspectos abordados no artigo do Dr. João Pereira. Os testamentos de Deus; são de fato a vossa Palavra; isto é na verdade o que podemos chamar de irrefutável. As religiões têm alguma coisa em comum: acreditam em Cristo (ou a maioria convenientemente pregam esta crença) para propagarem suas doutrinas de forma confortável e ostensivamente para atestá-la como verdadeira. Max realmente caiu em utopia, pois o que pregava rimava e correspondia com teoria e fantasia; enquanto que a utopia do Éden é uma verdade contida na gêneses de todas as escrituras. A única coisa que o homem cria, é caso; de acordo com a sua forma de adoração, segundo ele; melhor que a dos outros.
  • joao joao Fico a pensar com que autoridade o senhor discorre acerca do que os evangélicos fazem no Brasil e fora dele. Por quê não fala também do catolicismo? Por quê não mostra a profunda tirania dos ministros católicos de Roma, que, em passado próximo, mataram milhões de pessoas pelo simples fato de não concordarem com seus princípios idólatras e não se submeterem à sua tirania religiosa? Existe inquisição santa? Que diatribe estapafurdia é essa, que o senhor omite ao discursar solenemente contra os evangelicos? O senhor pode acusar os evangelicos de serem assassinos em massa, perseguidores dos cristãos, cientistas e judeus, como os bispos de Roma na chamada inquisição santa? Por que não falam nada contra a maior ditadura religiosa do ocidente, que é o Romanismo católico? Será que é porque o catolicismo é uma religião pobresinha e coitada, que não tem dinheiro nem pra matar a fome dos seus padres? Por que ninguem fala contra o absurdo da cobrança católica do laudêmio e foro em imoveis próximos aos seus templos em todas as cidades do Brasil? Durma com esse barulho!!!
Wilson Lucena

Wilson Lucena

Jornalista, pesquisador e membro da Academia Penedense de Letras

Postado em 05/10/2009 19:22

A dinastia musical de Piaçabuçu

A dinastia musical de Piaçabuçu
Euterpe São Benedito - Composição Pioneira - Mestre Francelino

A tradição da escola musical de Piaçabuçu provém desde o tempo em que o Imperador D. Pedro II, quando de sua viagem à cachoeira de Paulo Afonso, em 14.10.1859, foi recepcionado por uma banda de rebecas e outros instrumentos naquela localidade. Os atuais musicistas e aprendizes da Sociedade Musical Euterpe São Benedito constituem a quarta geração de uma dinastia de excelentes músicos que começou com o mestre Euclides e teve no mestre Manoel Francelino a sua figura de maior expressão.

Nos idos de 1910, a banda de música existente em Piaçabuçu era regida pelo Sr. Euclides de França, conhecido por mestre Euclides, cargo que exerceu até os 90 anos. Ele teve a honra de participar do aludido grupamento musical que recebeu o Imperador D. Pedro II. Dos seus pupilos que alcançaram sucesso, vale mencionar: Capitão Manoel Euclides (regente banda 28º Batalhão Exército Aracaju e 20º Batalhão Exército Maceió) – Manoel Soares Filho, vulgo “Manoel Teiú”, (regente Polícia Militar Vitória - ES) – Cláudio Santos (trombonista da orquestra Odeon RJ) e Manoel Linhares, “Nezinho” (clarinetista Marinha RJ).

Aproximadamente no ano de 1928, idoso e com a saúde debilitada, repassou o cargo de instrutor e regente ao seu dedicado e talentoso musicista Manoel Francelino, iniciando-se, assim, a segunda fase da corporação. Considerado o melhor pistonista da região, ainda bem jovem, Francelino foi convidado para compor a seleção de músicos das bandas Euterpe Ceciliense e Carlos Gomes de Penedo, quando da recepção festiva, em 1932, ao Presidente Getúlio Vargas naquela histórica cidade.

A Sociedade Filarmônica Euterpe São Benedito somente foi legalizada estatuariamente em 10.06.1952, oportunidade em que foi empossada a seguinte diretoria: Presidente: Antônio Machado Lobo; Vice-Presidente: José Machado Tojal; 1º Secretário: Manoel Francelino dos Santos; 2º Secretário: Joaquim Aristides dos Santos; 1º Tesoureiro: Pedro de Lima Castro; 2º Tesoureiro: Antônio Machado Lemos.

Banda pioneira da Euterpe São Benedito (égide do mestre Francelino): Clarinetas: Valdir Silva (Dida) – Joaquim Gomes (Pescoço) – José Carmo – Aloísio Bispo; trompetes: Manoel Paé – José Américo – Gilson Matos; trombones: Aloísio Chagas – Ari Carvalho; trompas: Chico Caim – Alberon Guedes; saxofones: Francisco Machado – Serapião Valter; contrabaixo: Wilson Ferreira; Percussão: João Ferreira e José Dias.

Infelizmente, quando de uma tocata em Sergipe em 17.11.1968, ocorreu o naufrágio da embarcação que conduzia os músicos, vitimando o primogênito do mestre Francelino, o barbeiro e trombonista José Harry, que o estava substituindo no comando da banda. Este acontecimento trágico provocou profunda melancolia no tão dedicado pai, que se afastou das atividades musicais, só vindo a retornar em 1985, oportunidade em que continuou dando tudo de si pela subsistência da Sociedade Filarmônica Euterpe São Benedito, incluindo o próprio salário de vereador.

Quando o velho maestro adoeceu, assumiu a regência da banda, em caráter interino, o musicista Nailton Muniz. Antes de morrer em 14.02.1993, aos 80 anos, chamou o compadre João Ferreira da Silva e pediu que ele assumisse a direção da Sociedade. Manoel Francelino, o eminente instrutor, deixou para trás um rastro de amor e dedicação à música. Foi toda uma vida dedicada ao oficio de tocar, reger e ensinar. Graças e ele, a cidade de Piaçabuçu mantém atradição de uma escola de músicos disciplinados e de bom padrão técnico. Dentre a considerável quantidade de discípulos que ingressaram em corporações militares, merecem ênfase os musicistas João Vasconcelos e Adail Araújo, que chegaram a oficiais-regentes, respectivamente, nas bandas de fuzileiros navais de Natal e Rio de Janeiro, além do sargento Gilvan Gonçalves da Polícia Militar de Alagoas.

Os últimos anos do imortal mestre coincidiram com a posse do autor deste trabalho na gerência local do Banco do Brasil, que hipotecou grande apoio à corporação, sendo adquirido novo instrumental, um vistoso fardamento e contratado um orientador militar habilitado, o renomado regente Paulo Correia Amorim. Foi um período de intenso movimento e evolução musical, concorrendo para isso a criação de uma afinada orquestra de baile. Mas, nuvens negras despontariam no horizonte. E o velho João Ferreira, ao receber o comando da Euterpe de seu compadre Francelino, sabia da árdua batalha que teria de enfrentar. Como toda banda interiorana, dificuldades de toda ordem e pouco incentivo da Prefeitura. Num misto de revolta e desabafo, ele sempre questionou a falta do devido interesse público pela mais antiga herança cultural de Piaçabuçu. Assim, ao lado da abnegada esposa Aliete, o jeito era sair de porta em porta pedindo dinheiro.

Mesmo assim, até a sua morte em 17.08.2007, mestre João conseguiu manter viva a tradição musical da cidade. Muito contribuiu para isso o grande trabalho voluntariado de jovens instrutores e regentes como Gilvan Gonçalves, Manoel Ferreira e Aldo Félix, assim como a renovada paixão da juventude local pela música. Com o falecimento do incansável guerreiro, também a Sociedade Euterpe São Benedito perdeu o maior arquivo vivo de sua história. Em seu lugar, assumiu o filho João Vicente, que continua na mesma “via crúcis” do pai e administrando novas crises. Graças à obstinação e perseverança dos dirigentes “Ferreiras”, a Funarte, em duas oportunidades, contribuiu com o repasse de novos instrumentos.

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  • igo Ta de parabéns por essa reportagem sobre umas das mais antigas bandas do Brasil!!!!
  • denilson lima andrade Mais uma bela reportagem do grande pesquisador e amante da música, Wilson Lucena. Parabéns!
  • Tadeu Das Chagas Ferreira Uma alegria saber que muito meu pai contribuiu pelo engrandecimento da sociedade cultural de uma cidade pobre, mais rica de cultura, infelizmente o poderes públicos anteriores e atuais nao venhen como de grande importância, alucando recursos para se tornar um lugar que ajude aos jovens encontrar
Isabel Cristina Medeiros de Barros

Isabel Cristina Medeiros de Barros

Clínica Geral com Pós-Graduação em Medicina do Trabalho

Postado em 01/10/2009 21:35

Saúde da família! Realidade, passado ou futuro?

Médica de PSF desde 1997, quando o estado de Alagoas implantou as primeiras equipes de PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMILIA presenciei a expectativa da sociedade, principalmente os mais carentes com relação ao novo modelo de atendimento a saúde. O Ministério da Saúde o apresentava como a solução da assistência básica e acreditei nessa mudança de modelo, pois finalmente teríamos um sistema de saúde voltado para a prevenção, diferente do anterior que se baseava apenas na medicina curativa e hospitalar. A estratégia do programa consiste em dividir o atendimento em áreas de abrangência, atendidas por equipes formadas por: agentes de saúde, aux. de enfermagem, enfermeira, dentista e médico, visando realizar consultas programadas com grupos prioritários de crianças, idosos, gestantes, etc., promover educação em saúde, visitas domiciliares e criar vínculos com as famílias e a comunidade para solucionar os problemas locais em conjunto. Lembro que na sua implantação, todos os profissionais participavam de um treinamento, chamado “introdutório ao PSF”, mostrando os fundamentos do programa e como trabalhar em “equipe”. Infelizmente não teve continuidade, pois seria muito útil para alguns profissionais que desconhecem o sentido de “equipe”, “comunidade” e “programas”. Faltam perfil e formação adequada em vários profissionais inseridos nos programas.

Desde sua implantação, os PSFs fizeram a diferença em vários municípios, sou testemunha de sua eficácia quando as equipe e os gestores são comprometidas com a comunidade . Como exemplos de melhoria na atenção básica têm: a cobertura do pré-natal, a vacinação, o planejamento familiar, o controle dos hipertensos, diabéticos e etc.

Passados 15 anos da regulamentação dos PSFs. visualizamos este modelo de assistência caindo no desacredito pela população , e são vários os motivos e culpados, à começar pelo Ministério da Saúde , que construiu um programa perfeito em suas propostas, mas falho em regulamentar a situação trabalhista dos profissionais e em fiscalizar e cobrar dos gestores municipais seus deveres. A falta de médicos nas equipes também é um complicador, e explica-se pelas opções de trabalho com melhor remuneração em outras atividades, além do grande número de vagas em aberto por quase todos os municípios para os PSFs, ocorrendo assim o deslocamento do médico onde ofertar melhores condições de trabalho. A difícil fixação do profissional em determinada equipe, leva à impossibilidade de se criar vínculos com a comunidade e conseqüente continuidade dos programas.

A realidade do PSF está longe do que foi imaginado pelos usuários, que continuam a lotar as emergências e hospitais do país, mesmo quando têm todos os profissionais em suas equipes. As justificativas estão na falta de medicamentos, ou materiais de curativos e equipamentos no postos, além do agravamento de determinadas doenças provocados pela demora na realização de exames, encaminhamentos para especialidades que levam meses para sua marcação ou dificuldade de transporte, soma-se a estas a falta de orientação dos pacientes que vão à procura de atendimentos rápidos nas emergências por não entender os agendamentos (atendimentos programados), importante para o acompanhamento de certas doenças.

Se no passado a Saúde da Família era a esperança de uma saúde básica de qualidade, no presente impera a incerteza, pois as questões da formação e da forma de contratação dos profissionais, do financiamento, da infra-estrutura, do compromisso dos gestores com a saúde dos cidadãos e da participação efetiva dos usuários precisam ser repensadas para que exista um futuro digno para este programa e para a saúde básica no Brasil.

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  • MANOEL Não seria demasiado ressaltar, a importancia dos Agentes de Saude nas unidades dos PFS, pois estes profissionais são os CARAS responsaveis pela redução e prevenção de doenças nas comunidades, alem de um acompanhamento familiar e planejamento. Ainda bem que o Ministerio da Saude reconheceu isso.